Capítulo 20 - A culpa

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Naquele dia, fui até o apartamento de Andrea, porque queria passar a maioria do tempo possível com ela. A necessidade era enorme, como se meu mundo apenas se resumisse a isso, naquele momento. Com a proximidade do Natal, Laura logo chegaria e minha vida seria mais complicada com a ruiva.

Aliás, isso era um ponto importante, porque a garota não suportava a presença da ruiva. Esse era um problema que eu teria de resolver, mas temia ter que fazer nova escolha após quase 30 anos. Num ponto eu estava certo, não largaria Andrea novamente, nem mesmo por minha filha.

Laura continuaria sendo minha filha, independente de aceitar ou não meu relacionamento, mas eu queria tê-la em paz. No entanto, como casar novamente e ter a jovem na mesma casa, se ela não aceitar a madrasta? Uma questão difícil de responder.

Quando cheguei ao apartamento da ruiva, fui surpreendido com a presença de Eleonora, a qual não havia visto até então. Sentada no sofá, de pernas cruzadas e segurando uma taça de vinho, a jovem tinha um olhar tão intrigante quanto seu cabelo vermelho, com os lados cortados bem baixo, à máquina.

Com piercing no nariz, em forma de arco, assim como no lado esquerdo dos lábios com batom roxo, Eleonora era bem diferente de sua irmã gêmea, a Eloísa. O vestido preto colado e as botas de cano curto falavam muito sobre ela, assim como os incontáveis anéis nos dedos.

— Guilherme, esta é Eleonora.

— Prazer.

— Prazer... Sou a "Nôra".

Convidado a sentar pela dona da casa, fiquei sob a mira da moça que, com seus olhos verdes aguçados, comentou:

— Você difere dos caras que minha mãe geralmente anda...

Ao fundo, na cozinha, a mãe ouviu e advertiu a filha.

— Nôra, por favor.

— Desculpe, minha doce mãe. Só fui sincera.

— Deixe sua sinceridade para você.

— Tá! Bem, desculpe seu Guilherme, é que... Deixa pra lá. De qualquer modo, minha mãe está feliz e isso é o que importa, ainda que ela não acredite que me importe com ela.

Aproximando-se com uma taça e uma garrafa de vinho, Andrea interpelou.

— Filha, você tem um conceito muito diferente do que sinto por ti. Eu a amo, assim como sua irmã, não há diferença entre as duas.

— Mãe, não falaremos disso agora, ok?

— Ok...

Decidi apaziguar aquela conversa.

— Nôra, queria muito conhecer você.

A moça riu e indagou:

— É mesmo? Bem, agora que ela te apresentou, lembrei de algo.

— O quê?

Eleonora perdeu o sorriso sarcástico e mirou na mãe, que se manteve atenta.

— Ela já falou de você...

— Mesmo? Não sabia...

Mirei em Andrea, que instintivamente olhou para a filha com ar de interrogação.

— Quando falei dele, Nô?

A moça formou um sorriso enigmático e revelou:

— Uma vez, há algum tempo...

Senti um arrepio nas pernas e olhei para Andrea, que mudou sua face ao ouvir. Ficamos presos à narrativa da garota, que descreveu esse momento. Eleonora fixou o olhar na mãe, que começou a esboçar inquietação com o assunto.

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