O umbral da porta daquele quarto me fez lembrar de outro "umbral". Sim, se fosse o fim de minha vida ali, acordaria no lugar onde as pessoas que não evoluíram em vida, permanecem no além-túmulo. Eu não soube evoluir em meu relacionamento com Diana e o julgamento se apresentou.
— Oi, amor! Chegou cedo!
— Não é isso o que você tem para me dizer hoje...
Um torpor tomou-me conta ao reparar que o semblante dela se endureceu ainda mais.
— Vem para a sala, que temos muito a conversar.
Lancei o edredom de lado e me sentei, olhando para os pés descalços e imaginando o que viria a seguir. Vesti uma calça para que minha vergonha não fosse maior, assim como uma camisa que achei jogada ao chão.
Com o coração acelerado, fui até a sala, onde Diana estava sentada no sofá, com as pernas e braços cruzados, olhando-me. O agitar da perna dela era sinal de que sua raiva dava corda assim como se faz em um relógio.
Sentei na cadeira em frente a ela e evitei mirar em suas órbitas azuis, mergulhadas em globos oculares tingidos levemente de vermelho.
— O que você tem para me dizer, Guilherme?
— Diana, desculpe...
— Desculpas? Quero ouvir o que aconteceu de você!
— Tudo bem, eu me encontrei com a Andrea.
— Tudo bem? Não foi só isso que fiquei sabendo...
Não havia para onde fugir. Ainda assim, tentei aliviar a carga sobre mim, num ato covarde, confesso.
— Olha, a ideia não foi nossa. A Eloísa que propôs a conversa.
— "Conversa"? O que mais aconteceu?
— Di...
— Não minta! Diga o que vocês fizeram! Quero ouvir da sua boca e olha para mim!
Tive que encarar Diana apontando o dedo e a verdade era a única resposta a dar, amarga, mas verdadeira.
— Nós transamos.
— Puta que pariu! Guilherme, você é um filho da puta!
Diana levantou-se rapidamente e foi até o balcão da cozinha, debruçando-se sobre a madeira. Era óbvio que já sabia o que havia acontecido, mas apenas queria que fosse dita de minha boca. Virou e veio com muita raiva, me apontando o dedo novamente.
— Você e ela se merecem, sabia?! Dois... Ai! Como fui burra! Sabia que aquela mulher aparecendo agora, ia dar merda... Olha aí, a merda feita!
Mirei no sofá vazio diante de mim, sem saber o que dizer. Não havia justificativa para dar, nem mesmo a mais absurda. Diana andou de um lado para o outro do apartamento, esfregando as mãos nervosamente.
— Transaram ontem também?
— Ontem?
Minha pergunta era verdadeira, afinal, apenas Eloísa havia me visto com Andrea no dia anterior.
— Ontem! Já estou sabendo que os "pombinhos" se encontraram na Guarapiranga.
— Então, Eloísa te contou...
— Não meu filho, não foi ela. Isso só para você saber que putaria não passa batido para ninguém!
Náutica. Havia alguém ali que queria foder com minha vida e dessa vez conseguiu. Como havia chegado antes de Leonor, não poderia ter sido ela a deduzir estarmos juntos na represa.

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Monara
Roman d'amourGuilherme acredita que após 27 anos de um casamento feliz, nada mais pode interferir em sua relação de amor com Diana. No entanto, sobre as águas calmas da Guarapiranga, a paz que conquistou ao lado dela, acaba com a chegada do "desejado" veleiro Mo...