Pensei em muitas coisas, algumas das quais eu nem me imaginei um dia considerar. Andando pelo calçadão da praia, fiquei a refletir sobre o que poderia de fato fazer. Seria mesmo o problema em mim? Será que despertei ou fiz algo que provocou tudo isso?
Laura estava em dificuldades e sabia que Diana não aguentaria isso sozinha. Mas, como ajudar se parte do problema era eu? Devia me afastar, comprar o tal barco e ir morar longe? Não! Definitivamente fugir não era uma opção, pois, de certa forma, fugi ao ir para a represa.
Precisava de ajuda espiritual, mas onde encontrar? Cheguei a olhar nos postes atrás daqueles anúncios de cartomantes e videntes, mas desisti ao imaginar o que teria de fazer depois... Subi a Avenida Pugliese e vi a Igreja Matriz de Santo Amaro. Foi nela que me casei com Diana, mas não me senti seguro ao entrar.
A questão era incômoda demais para apresentar a um padre. Imaginei que, se fosse há 200 anos, eu teria muitos problemas... Pior, Laura certamente iria para a fogueira do Santo Ofício. Não era o caso agora, é verdade, mas preferi conversar com outra pessoa.
Diante de meu problema só uma pessoa que sempre pululava em minha cabeça e esse, aparentemente, tinha ou teve de resolver algo assim. Liguei para ele e marcamos um encontro. Voltei ao apartamento, apreensivo, e Laura se trancara no quarto.
— Desde que você saiu, ela está aí...
— Diana, vou procurar alguém para me ajudar, pelo menos para eu poder entender isso tudo.
— Você tem a mim.
— Sim, eu sei, mas preciso da visão de alguém de fora. Falei com o Reginaldo e vamos trocar uma ideia. Quem sabe assim, ele me ajuda a nisso.
— O "nisso" é um assunto nosso. Se você disser a ele, contará certamente a Fabinho.
— Deveras Fábio já saiba disso. O que aconteceu em dezembro... Enfim, isso certamente foi o estopim e o garoto deve ter percebido.
— Será?
— Eles deram um tempo na relação.
— É, eu sei... Bem, se ele for discreto, então peça ajuda. Conheço você e sei que não está bem. Olhe, a culpa não é sua. Se fosse assim, quantos pais que... Você sabe. Enfim, as filhas teriam comportamento igual? Claro que não! Laura sempre foi assim...
— No entanto, agora está pior Diana. Muito pior...
Incomodado, baixei a cabeça, sentado no sofá grande. Diana, que realmente me conhecia e sabia quando eu escondia algo grave, questionou.
— O que aconteceu hoje?
— Oi? Nada não...
— Não minta para mim!
Irritada, Diana sentou-se ao meu lado no sofá.
— O que aconteceu? Fale.
— Nossa filha está muito pior, Diana. Eu nem sei como dizer isso...
Colocando a mão sobre minha perna, a morena me indicou a continuar. Então, contei o que havia ocorrido, desde a cama até o vidro da sacada... Diana ficou horrorizada e chegou a passar mal ao ouvir o relato. Ficou tão ruim que teve náuseas e vomitou bem no meio da cozinha.
Precisou de água e ar fresco para se recobrar, em meio a uma enxurrada de lágrimas. O desespero era nítido, pois, o ato em si significava que a piora fora muito maior que imaginara.
— Guilherme, só há uma solução para ela e você sabe do que falo...
— Eu não quero isso...
— Não tem o que querer, Guilherme. Laura precisa de um tempo só para ela.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Monara
RomansaGuilherme acredita que após 27 anos de um casamento feliz, nada mais pode interferir em sua relação de amor com Diana. No entanto, sobre as águas calmas da Guarapiranga, a paz que conquistou ao lado dela, acaba com a chegada do "desejado" veleiro Mo...