Capítulo 11 - Filhas

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Há poucos metros do píer da náutica, uma figura de braços cruzados já se fazia presente no entardecer da zona sul de São Paulo. A ruiva tinha cara de poucos amigos e mirou primeiro em mim, depois na mãe, que teve alguma dificuldade para amarrar o Monara.

Andrea parecia nervosa e tinha toda a razão, saíra sem permissão da filha e com ajuda de um "admirador" da própria náutica. Sobre esse cara, falarei mais tarde, mas desconfio que contribuiu para o que aconteceu.

Antes de Eloísa iniciar a conversa, me aproximei para ajudar a mãe, visto que ela ficou parada apenas vendo Andrea se enrolar para prender o barco.

— Oi, Elô!

Ela simplesmente me ignorou, já imaginando que a culpa fosse minha e, certamente, estava certa. Peguei o cabo do Monara e o amarrei firme no píer. Com seu sorriso dizendo mais que um simples agradecimento, Andrea saiu do barco e foi logo interrogada.

— Mãe, que história é essa de sair de barco sozinha, sem me avisar?

— Ai! Desculpe filha, é que precisei muito. Quer dizer, queria muito velejar hoje.

A filha, com ar sério, mirou em mim e perguntou:

— Com o Guilherme?

— Não. Viu como vim em seu barco?

Novamente Eloísa me olhou e depois mirou a mãe.

— O que está acontecendo aqui?

Desconfiada, Andrea sorriu falsamente.

— Nada, ora! O que mais poderia acontecer?

— Nada? A senhora não foi para a loja hoje.

— Sou obrigada a ir?

— A loja é sua. Ah! Penso que sei porque não foi...

Visivelmente irritada com a filha inquiridora, Andrea encarou-a.

— Diga!

— Guilherme. Tia Ana me contou que o viu em seu apartamento ontem, já no começo da noite.

A ruiva denunciou sua insatisfação com a irmã, que já lhe havia prejudicado em nosso passado. Aproximei-me das duas nesse momento, mas Andrea fez sinal com a mão para eu parar.

— Sua tia Ana continua sendo como sempre, uma linguaruda! Sim, ele esteve em casa ontem. Conversamos, não era isso o que você queria?

— No seu apartamento? Podia ter sido em qualquer lugar.

— Eu não estava bem, então pedi para ele ir até lá.

— Mãe...

— Olha Elô, você pode me deixar um pouco em paz? Peguei seu barco? Sim. Desculpe. Fui imprudente, mas fiz tudo certo. Ele está inteiro.

Os olhos de Eloísa vieram até os meus.

— Parece que você faz bem à minha mãe. Aliás, bem até demais...

Tentei explicar, inutilmente.

— Elô...

— Deixa! Não quero ouvir mais nada de vocês. Mentem descaradamente. Não sei onde tive a ideia de propor uma conversa entre... Ah! Já são bem grandinhos para uma aventura a essa altura do campeonato, né?

— Elô, você está me ofendendo!

— Mãe, não sou cega.

A jovem ruiva virou e partiu em direção aos carros. Andrea colocou a mão no rosto e eu lhe disse:

MonaraOnde histórias criam vida. Descubra agora