Capítulo 1 - Parte 2

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Capítulo 1 - Parte 2

Eu assisti de olhos fechados o quanto você me amava... ainda lembro dos seus olhos e da sensação das suas mãos segurando o meu corpo. E por mais que tudo na minha mente seja um completo vazio... ainda sinto o meu coração bater mais rápido quando penso em você.

— Você acordou.

Forço os meus olhos a se abrirem, sentindo uma luz forte machucar os meus olhos, fazendo com que um gemido de dor escape pelos meus lábios enquanto tento me acostumar com as sensações que pegam o meu corpo desprevenida.

A primeira imagem que meus olhos conseguem capturar é de um homem mais velho inteiramente vestido de branco com um enorme sorriso nos lábios enquanto me encara, segurando uma prancheta próxima ao corpo.

— Está doendo... — Reclamo, sentindo um gosto amargo na boca enquanto meu coração se revela cada vez mais acelerado, me deixando mal.

— Você acordou de um coma de dois meses... é natural se sentir assim.

Meus olhos se abrem em surpresa. Consigo ouvir as batidas do meu próprio coração enquanto encaro o homem, sentindo o meu corpo tremer, como o de alguém que está com febre.

Coma... de dois meses. Essa é uma novidade para mim. Eu acordei numa casa desconhecida com um homem desconhecido, e sinceramente... não fazia e nem faço ideia do que estava acontecendo, mas... como eu pude ter ficado em coma por dois meses? O que me aconteceu que me deixou nesse estado? E mesmo quando eu olho para o meu corpo, buscando por respostas, nada me vem à mente.

Nada mesmo! Sequer consigo lembrar do meu corpo! É tudo tão estranho!

Atordoada, levanto o meu olhar e logo sinto-me errar uma batida pois além de perceber que estou dentro de um quarto de hospital, os meus olhos pousam em um homem deitado numa poltrona, com uma expressão tranquila e olhos fechados logo ao meu lado.

Suas mechas loiras estão pousadas em sua testa e sua boca está entreaberta, revelando que o mesmo já está dormindo ali há algum tempo.

Eu não consigo desviar o meu olhar dele, sentindo-me cada vez mais nervosa à medida que o encaro. Eu lembro dele... lembro de como me chamou de amor e da sua expressão ao me ver, mesmo que eu não tenha lembranças dele.

Mina... foi assim que ele me chamou.

Mas por que não me recordo desse nome?

— O seu marido procurou socorro essa madrugada. Um mês após o seu acidente ele decidiu que seria mais confortável caso você estivesse num ambiente mais familiar, aumentando suas chances de acordar. Desde então, transferimos você e os equipamentos, além da assistência de uma enfermeira a cada três dias da semana para que você pudesse se acomodar da melhor forma na sua casa. — Viro o meu rosto para encará-lo, arfando enquanto tento absorver todas essas informações. Mas é difícil... eu não entendo absolutamente nada do que ele está falando! — Estamos realizando alguns exames, que até então me parecem ter um bom resultado, mas antes de qualquer coisa... gostaria de saber como está se sentindo.

Vejo ele pegar uma pequena lanterna do bolso do seu uniforme, apontando para os meus olhos em busca de analisá-lo, o que me deixa desconfortável por alguns segundos enquanto penso na sua resposta.

— Eu não sei... eu estou confusa. Me sinto fraca, o meu corpo está estranho e minha cabeça está doendo. Não sinto nada fisicamente, mas... — Olho para o homem dormindo, tentando entender o que são esses sentimentos em meu peito em relação a ele. — Minha cabeça não entende nada do que está acontecendo. Quando eu acordei, eu... não sabia onde estava. Eu também vi ele, mas... eu não sei quem ele é. E mesmo que eu tenha uma sensação extremamente familiar, eu ainda não consigo lembrar de onde o conheço, na verdade... — Abaixo a minha cabeça apenas para encarar as minhas próprias mãos, forçando alguma lembrança. — ... eu acho que não sei quem sou.

Vejo o homem arregalar os olhos, ficando pálido na minha frente como se essa fosse a última notícia que ele esperava ouvir.

— Não sabe quem é você? Senhora... poderia me descrever alguma lembrança da sua vida?

O encaro em confusão, sentindo as batidas do meu coração acelerarem enquanto penso na hipótese de eu ter perdido a minha memória. Isso faria sentido dado às circunstâncias, mas... isso é tão péssimo! Como posso não saber que eu sou?

— Eu só lembro de... acordar e me deparar com ele numa casa grande. Estava chovendo e... eu conseguia ouvir uma doce melodia.

O homem assente, já anotando algo em sua prancheta com uma expressão séria, fazendo o meu coração afundar em meu peito.

— Guilhermina Pompeo... esse nome parece familiar para você?

Mordo o meu lábio inferior, lembrando do homem loiro me chamando de amor e logo em seguida de Mina... e então assinto, sentindo uma ligação com esse nome.

— Guilhermina... esse homem ao seu lado é o seu marido. Tem certeza que não se recorda dele? Há dois meses vocês deram entrada nesse hospital, ambos muito feridos. Tem alguma lembrança do acidente?

Balanço a cabeça para os lados, sentindo uma insegurança assolar o meu peito. A sensação é devastadora... não ter lembranças sobre sua própria vida é quase como se tornar uma outra pessoa. As pessoas à minha volta devem ficar magoadas com essa situação, principalmente...

Mais uma vez olho para o homem dormindo. Ele é meu marido... isso é demais para mim! Eu sinto que acabei de nascer e já sou casada! Mas isso explicaria esse sentimento tão estranho em meu peito em relação a ele.

— Você se importa de realizar alguns exames mais tarde? Vou deixar você descansar mais um pouco e quando o seu marido acordar, conversaremos sobre o seu estado, tudo bem? — Ele pergunta com um olhar preocupado, porém após eu assentir, ele suspira aliviado, dando alguns passos para trás com um sorriso para me dar forças. — Vai ficar tudo bem. Se precisar de qualquer coisa é só apertar esse botão à sua esquerda e logo virá uma enfermeira conversar com você.

Não demorou muito e o médico saiu, me deixando sozinha com um sentimento tão inseguro que meus olhos logo se encheram de lágrimas, enquanto o meu coração se afundava cada vez mais em meu peito.

— Mina...

Meu coração saltou assustado, e eu tratei de limpar minhas lágrimas enquanto voltava a olhar para o meu suposto marido. Eu pensei que ele havia acordado, mas... seus olhos permaneceram fechados, só que um pequeno sorriso tomou os seus lábios rosados.

E isso fez algo arrepiar dentro de mim... eu não sabia descrever o que era, mas... eu estava com tanto medo. Eu não sei se era uma pessoa medrosa, mas... agora estou com tanto medo do desconhecido! Não lembrar de nada é ter que enfrentar coisas novas, nas quais eu já estava acostumada.

E eu me sinto sozinha... onde está a minha família? Que acidente foi esse que me deixou nesse estado? Quem é Guilhermina Pompeo? Quantos anos eu tenho? Eu realmente amava este homem?

Quanto mais busco respostas para essas perguntas, mais lágrimas deslizam por minhas bochechas, me fazendo soluçar com a apreensão que se encontra em meu coração.

— Mina... eu senti tanto a sua falta...

Com os olhos cheios de lágrimas, levanto o meu olhar para ele, que ainda permanece dormindo. Um sentimento me pega de surpresa ao ouvir essas palavras sendo ditas de forma tão verdadeira por um homem que sequer está acordado... sentiu a minha falta...

E mesmo que permaneça sendo um desconhecido para a minha cabeça, o meu coração discorda disso. Suas batidas aceleradas são apenas uma confirmação...



REVERSO - A SOMBRA DE UM PASSADO - (RETIRADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora