Capítulo 17 - Parte 1

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Capítulo 17 - Parte 1

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Capítulo 17 - Parte 1

Após sair do consultório da médica mais simpática e acolhedora desse mundo, eu fui direto para o cemitério no carro com um motorista enviado por Jason. Por algum motivo, após ver aqueles históricos médicos de mim e de Jason, eu estou muito tranquila. Finalmente consigo respirar em paz sem sentir um peso de culpa em meus ombros, pois agora eu sei que consigo caminhar pelos meus próprios pés e perceber que o que estava me atormentando, não era um dilema, e sim os meus próprios sentimentos, que eu não estava escutando.

E eu resolvi escutar o meu coração, tanto que agora estou ajoelhada ao lado do túmulo da minha filha, sorrindo entre as lágrimas ao me deparar com tantas rosas vivas, dezenas de cartas escritas à mão, e o que eu realmente não esperava, o quadro que eu lembrei agora a pouco, chamado Reverso, a sombra de um passado, no qual eu desenhei como eu imaginava a nossa garotinha.

Eu sei quem os deixou aqui. E também sei que após a morte dela, eu evitei visitar esse lugar, pois só eu sabia o quanto eu me machucava ao ver que com tão pouca idade eu já tinha uma filha que se tornou um anjinho, que sequer esteve em meus braços ou sentiu o meu calor. Eu sei que de onde ela estiver, vai me perdoar por não ter vindo aqui com frequência, mas sei que Jason não a deixou sozinha, as cartas escritas por ele falam muito mais do que eu poderia imaginar.

Eu não cheguei a ler todas, li apenas algumas achando que seria apenas uma carta comum, mas quando o meu coração e a minha mente entenderam o que ele estava fazendo, eu comecei a chorar e a sorrir, não sabendo como reagir.

As cartas falavam sobre nós. Jason estava escrevendo para a nossa filha, querendo contar como estávamos, e principalmente como ele se sentia sobre ela não estar entre nós. Uma das cartas ele citou o meu nome diversas vezes. Ele contou sobre o meu problema quando eu fiquei com câncer, escreveu como estava desesperado, com medo de me perder de uma forma muito pior que apenas sentimental, escreveu como estava fazendo o possível para eu ficar bem, como eu queria que ela estivesse ao meu lado, como ele lamentava por ter deixado a nossa garotinha morrer, como queria mais que tudo estar com ela, e o que mais me pegou de surpresa foi a forma como ele escreveu. Eu pude sentir o seu desespero a cada palavra, assim como quando eu estou pintando e sinto muito mais do que palavras seriam capaz de descrever.

Ele escreveu no que poderia ter sido o aniversário de um aninho dela, contando como ele idealizou a festa, como ele seria um paizão com ela, como extinguiria o mal existente no mundo todo para que ela não pudesse passar por algo parecido com o que ele passou. Ele também disse como seria o futuro dela, que não deixaria ela namorar muito cedo, que seria muito ciumento, que deixaria ela brincar com as amigas o quanto quisesse, mas que teria que voltar na hora do jantar para termos um momento em família. Jason também me colocou nesse meio como um membro, como se em seus sonhos nós estivéssemos juntos.

Sinceramente... eu não sabia o que pensar ao ler isso.

Em outra carta ele escreveu sobre o meu período em coma. Ele contou sobre a sua rotina e como já estava perdendo as esperanças, como estava se culpando pelo acidente, pois segundo ele, se não tivesse oferecido aquela ida ao concerto de música, nada daquilo teria acontecido. A carta não chegou a ser terminada, pois as últimas palavras haviam sido molhadas por algo, mas ele disse o quanto estava com medo...

Medo de me perder?

Ler tudo isso me deixou bastante emocionada e com uma sensação como se meu coração estivesse quentinho, enquanto eu passava aqueles poucos minutos ao lado do túmulo da minha filha. Eu aproveitei para ler em voz alta todas as cartas, querendo que de onde ela estiver, consiga ouvir o que seu papai tanto queria dizer.

Acho que no fundo ele só queria se apegar a algo, por isso escreveu tanto...

Quando eu me sentia mais tranquila, após prometer voltar para trazer mais flores e quem sabe um novo quadro para a minha garotinha, eu fui para o meu apartamento. Foi estranho seguir outro caminho senão o para a casa na floresta, mas eu estava respeitando o meu tempo e o quanto precisava ficar sozinha naquele momento.

Ao chegar em meu apartamento, a primeira coisa que fiz foi organizar as minhas coisas, minhas ideias e principalmente cuidar de mim. Eu liguei para um contato que estava salvo em meu celular e pedi para que o meu antigo organizador de evento viesse buscar algo aqui em casa. Após isso, fui para a sala onde estavam todas as minhas obras. As coloquei no sofá e encostadas na parede, viradas de frente para mim onde eu pude visualizá-las mais perfeitamente.

Fiquei alguns minutos as apreciando, tentando decifrar os sentimentos que eu pus por trás de cada pintura, sentindo o meu coração absorver cada sentimento como uma memória, como se apenas sentir aquilo que fui capaz de sentir quando as fiz, fosse o suficiente para me fazer lembrar de cada momento.

Durante os vários minutos que fiquei ali, em silêncio, um filme passou pela minha cabeça e foi quando eu finalmente pude respirar aliviada. As lembranças estavam voltando como se eu nunca tivesse esquecido, e aquela dúvida que tanto estava perpetuando a minha mente foi respondida. Eu não entendia o que me levou a perdoar alguém que agiu como um louco e foi capaz de me fazer sofrer, e sinceramente, nunca haverá uma resposta para isso. Ele não implorou para voltar comigo ou disse como estava disposto a mudar... ele não ficou tentando pôr na minha cabeça que me amava e que tudo o que fez foi porque não tinha escolha... foi muito diferente disso... e agora eu lembro de tudo...

Sorrio, pegando umas caixas de papelão e pondo minhas obras dentro delas, tendo o máximo cuidado, pondo um pano delicado entre cada tela, pronta para pintar o mundo de uma forma diferente.

Quando o porteiro avisa que uma caminhonete chegou, eu peço ajuda para levar as caixas para baixo, onde recebo um conhecido, um homem que me foi indicado pelo meu professor de artes, que organiza eventos, conhecido por organizar famosas exposições de artes.

— Guilhermina, eu prometo que agora suas obras serão conhecidas pelo mundo todo. — Ele sorri, estendendo a mão na minha direção.

Respirando fundo, sentindo que finalmente estou deixando o passado no seu lugar, eu seguro a sua mão. Eu decidi faz pouco tempo, e fazer isso é o que eu realmente quero. Quero novas lembranças, novas telas, novas paisagens, novos sentimentos... esse pode ser o início de uma nova história.

— Eu conto com você. — O respondo, sentindo lágrimas em meus olhos.

Quando ele se vai levando meus quadros, eu tenho que respirar fundo para entender que fiz o melhor. Eu era extremamente apegada com cada tela, então deixar elas para que outras pessoas possam apreciá-la é realmente um passo muito grande.

Eu volto para o apartamento onde tomo um banho relaxante, lavando meus cabelos e relaxando meus músculos. Eu estaria tensa em outro momento, mas por algum motivo tudo estava tranquilo demais dentro de mim. Acho que não importa quão dolorosa seja a verdade, é muito mais fácil lidar com ela do que com a mentira, mesmo que a mentira pareça muito mais encantadora.

Quando eu saí do banho, sequei o meu cabelo e pus uma roupa confortável. Um pijama com estampa de gatinhos, afinal eu sempre sonhei em ter um, mas a minha mãe era alérgica. Acho que agora não a tendo ao meu lado e morando sozinha, eu posso adotar um.

Me deitei na cama e me embrulhei no cobertor, pensando em como é estranho deitar numa cama tão enorme sozinha. Estava tão acostumada com a presença calorosa de Jason que até havia esquecido como é importante de vez em quando ficar sozinha. Me abraço e fecho os olhos, tentando controlar a minha respiração e as batidas do meu coração, sentindo que a qualquer momento o sono irá me pegar desprevenida.

Eu estou ansiosa para saber como será a exposição, principalmente como serão as coisas daqui para frente, agora que eu quero voltar a ser a Guilhermina Pompeo de antes, aquela que não tinha medo de se arriscar, tinha espírito de liderança, além de ser confiante e alguém que sempre dava o seu melhor para ser melhor a cada dia que passava. E com esse pensamento, eu me deixo levar pelo sono com um sorriso nos lábios, pensando em uma das lembranças de mais cedo...

REVERSO - A SOMBRA DE UM PASSADO - (RETIRADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora