II

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Take all of me, I just wanna be the girl you like.
The kinda girl you like is right here with me.

– E então, como estou de Mia? – perguntei, parando em frente a cama de minha amiga com as mãos na cintura.

Não era muita coisa, apenas um blazer vermelho sobre um sutiã preto com paetês, um mini short de couro preto junto com minhas meias sete oitavos e um salto quinze da mesma cor. Era o que Margareth sempre dizia: mostrem, mas não muito, os deixem curiosos para que paguem o programa.

Ninguém tirava as roupas ou andava seminua entre as mesas da boate, a intenção era que eles pagassem caso quisessem ver mais do que estávamos mostrando.

– Maravilhosa, é claro! – Vanda respondeu com um tom de obviedade. – Vamos ver se você incorpora a Mia nessa noite, huh?

– Bom, se isso acontecer irei usar suas roupas para sempre!

E essa era uma pequena–grande diferença entre nós duas. Apesar de ter me acostumado com aquela vida, eu ainda não havia adquirido a capacidade de gostar do que fazia.

Enquanto minha amiga sempre tentava tirar algum proveito dos programas –além, é claro, do dinheiro ao final –, eu não conseguia sentir prazer com os programas. E céus, como eu a invejava por isso. Não sabia quanto tempo fazia que não tinha uma noite digna de sexo.

– Eu realmente preciso ir, Vandinha, como você está se sentindo?

– Estou melhorando, provavelmente nos próximos dez minutos estarei dormindo então não precisa se preocupar! – minha amiga respondeu com convicção. – Agora vá logo que tem várias carteiras gordas à sua espera! – ela adicionou maliciosamente, me fazendo rir.

– Se precisar você sabe onde vou estar, não é? Até depois! – eu atirei um beijo no ar e sai rumo às escadas que davam acesso estrategicamente aos fundos da boate.

Era algo em torno das oito horas e o restante das meninas chegavam aos poucos, Megg normalmente abria a boate um pouco antes de descermos como forma de atrair os clientes que acabavam de sair do trabalho e então utilizava da nossa chegada para mantê-los ali. Era uma tática que funcionava na maioria das vezes e o breve "happy hour" dos amigos ou acabava estendendo-se até um dos quartos da boate ou simplesmente até eles pagarem o equivalente aos nossos programas em bebidas.

– Nina, você abre o show hoje, ok? – Margareth anunciou, gesticulando para mim e então para a pessoa responsável pela sonorização da boate atrás de um vidro fumê. E eu apenas assenti para as duas pessoas que aguardavam minha resposta.

Antes de subir ao palco, demorei alguns segundos em frente a um enorme espelho na parte de trás da boate, arrumando os últimos detalhes de Nina. Ajeitei meus cabelos lisos jogando-os para o lado, deixando que meus fios escuros caíssem sob meus olhos chocolate, que adquiriam a malícia necessária para aquele momento e que espalhava-se aos meus lábios pintados de vermelho sangue. Alinhei meu sutiã de forma que evidenciava ainda mais meus seios fartos e ergui um pouco mais as meias que cobriam e alongavam minhas pernas... e então eu era oficialmente Nina.

As luzes da boate abaixaram deixando apenas o palco com o pole dance onde eu subiria iluminado, a minha música começou a tocar alto e, conforme eu subia os degraus com as batidas dela, os holofotes eram ligados iluminando gradativamente as partes de meu corpo. Assobios e palmas me receberam, me fazendo erguer a cabeça com um sorriso perverso nos lábios para minha plateia. A boate não estava tão cheia, era o baixo movimento habitual da sexta-feira, mas seria o suficiente para as oito garotas de programa da SoHo Dolls.

De olhos fechados eu me encostei ao pole dance e permiti que o ritmo sensual da música tomasse conta dos movimentos de meu corpo, deixando que a sensualidade transbordasse em forma da dança. Em meio a giros e reboladas, investidas contra o cano e as piruetas, eu estudava minha plateia estrondosa até encontrar um par de olhos que me estudavam com fascínio. Seu olhar não deixava os meus, meu corpo, meus movimentos... Ele parecia hipnotizado, assim como todos em minha volta, mas ele em especial. Em seus lábios havia um sorriso malicioso, deslumbrado e eu não podia deixar de retribuir o mesmo, piscando maliciosamente para ele.

Soho Dolls - flaguiOnde histórias criam vida. Descubra agora