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Para nosso alívio, o assunto pesado parecia ter ficado para trás e nós continuamos conversando sobre casualidades enquanto terminávamos de jantar e decidimos começar a segunda garrafa de vinho. Que, por sua vez, foi terminada enquanto limpávamos a cozinha e as coisas que havíamos sujado, em meio a toques, provocações e risos alterados pelo álcool. Em um perfeito contraste a conversa séria que tivemos.

– Acho bom você saber que eu sou bastante fraquinha para bebidas alcoólicas, Doutor. Mais uma taça e eu já não respondo por mim... – eu falei com um sorriso alterado e provocativo e minha voz já saia mais manhosa que o normal.

– Não tem problema, eu gosto de você fora do controle... – ele confessou, aproximando-se de mim e colando nossos corpos enquanto tentava encontrar uma brecha na abertura do roupão que eu usava.

Nossos rostos se aproximaram de forma automática, narizes se encostando em uma carícia tímida e olhares se perdendo um no outro. Eu podia sentir o seu hálito etílico e o calor de seu corpo me envolvendo, o desejo já se fazendo presente e aquela antecipação pré-sexo me inebriando mais que a própria bebida que havíamos bebido.

Vinho sempre fora uma bebida afrodisíaca para mim e ele, em combinação com o efeito-Guilherme, me faziam mergulhar em um poço de desejo.

– Eu descobri o motivo dos beijos serem seu limite, anjo. – Guilherme confessou, acariciando meu rosto com o torso de sua mão.

– Oh... Não me diga. – se eu estivesse um pouco mais sóbria, certamente algo mais elaborado teria saído de meus lábios. Porém, minha mente estava focada demais naquele corpo colado ao meu, em suas carícias em meu rosto e no fato de que sua boca não estava se movendo contra à minha.

– Sim, compreendi que é algo íntimo para você e que é uma forma de não se envolver. – ele explicou.

– Sim, mas é mais do que isso. É a única coisa que ainda tenho controle. Meu corpo não pertence mais a mim, eu tenho pessoas me tocando e me olhando diariamente das formas mais íntimas possíveis, até mesmo a minha primeira experiência sexual foi tomada sem que eu tivesse escolha... – eu confessei, mantendo meu olhar fixo ao dele. – Eu ainda quero ter controle pelo menos dessa intimidade. Se eu permitir que me beijem toda vez que sentirem vontade, os beijos não serão mais íntimos e puros. Não serão mais meus.

– Me desculpe, meu anjo, eu não fazia ideia. Prometo não tentar ou insistir com os beijos... – ele suspirou, culpado, surpreso e frustrado, tudo ao mesmo tempo.

– Não, Doutor... – eu fechei os olhos por fim, balançando a cabeça negativamente na tentativa de clarear minha mente. Não tinha mais condições de evitar e eu não queria mais evitar aquela entrega. Percorri as mãos pelo seu peitoral desnudo, o sentindo arrepiar sob a palma das minhas mãos, para então abrir os olhos e voltar a encarar aquele olhar que me devorava. – Eu quero os seus beijos. Eu quero que você me beije.

Foi então que Guilherme sorriu aliviado e tomou meu rosto em suas mãos, levando um tempo exagerado apenas roçando levemente nossos lábios e depositando alguns selinhos em minha boca. A reação do meu corpo beirava o exagero, sentia minhas forças esmaecendo me fazendo buscar apoio nele e emaranhando meus dedos em seus cabelos para que não caísse aos seus pés.

Eu entreabri meus lábios em um convite mudo que ele não tardou em atender, sua língua facilmente encontrou o caminho até a minha e ele se apossou da minha boca como sempre fazia. Estava rendida, entregue, dominada. Não conseguia evitar e não queria mais evitar. Eu tentei dar tudo de mim naquele beijo, tentei corresponder, mas sua língua trabalhava arduamente em me entorpecer.

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