XVI

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Sob meu corpo, a sensação maravilhosa de uma muralha de músculos junto a um calor corporal familiar me trazia lentamente de volta a consciência. A respiração descompensada do homem sob mim e o carinho gostoso que ele fazia com a ponta dos dedos, na curvatura de minha coluna, me faziam pensar que provavelmente ele já estaria acordado há certo tempo e, que mais provavelmente ainda, um tanto quanto atrasado para o trabalho.

– Hm... Isso é bom! – eu pronunciei baixinho, sem conseguir definir se realmente estava 100% acordada, mas obrigando-me a estar.

À medida que a consciência voltava para mim a passos de bebê, a estranheza em estar despertando ao lado de Guilherme se fazia presente aos poucos, junto àquela estranheza em não conseguir me lembrar do momento em havia decidido que o corpo daquele homem seria um melhor colchão do que aquele enorme em que estávamos deitados.

– Acordar na cama comigo ou acordar literalmente em cima de mim? – ele brincou.

– Desculpe em desapontá-lo, mas estava me referindo ao carinho nas costas... – respondi, lutando contra a sonolência, mas num tom de divertimento. – O quão atrasado você está para o trabalho?

– Absolutamente nada, meu plantão de hoje começa apenas após o meio-dia! E considerando que são apenas nove da manhã, temos algumas horas mais de cama, meu anjo.

– Isso é ótimo, já estava começando a me sentir culpada por ter dormido em cima de você e o mantido preso na cama.

– Estava mesmo?

– Não, na verdade nem um pouco... – respondi, honestamente, fazendo-o rir baixinho. Não me sobrava espaço para sentir culpa quando aquela nova, e curiosa, sensação de acordar ao lado de alguém, que não fosse Vanda e Marcos, começava a me dominar aos poucos. Eu não conseguia me lembrar quando havia sido a última vez que havia dividido a cama com alguém daquela forma.

Muito provavelmente, nunca. Ainda mais estando vestida.

Ainda mais estando tão confortável e intimamente aconchegada e à vontade nos braços da pessoa em questão.

– Nem que estivesse extremamente atrasado eu deixaria você mover um músculo para longe de mim... – disse o homem a quem eu estava grudada, em um tom sério, puxando-me ainda mais contra o seu peitoral.

A forma com que ele falava ia muito além da nossa troca de provocações. E ia muito mais além do que qualquer coisa que eu pudesse aguentar... mais ainda do que estar em seus braços de manhã cedo ao despertar.

Uma sensação estranha me fez querer correr para o outro lado da cama, mais como uma espécie de instinto, uma intuição de que seria melhor tomar distância do que permanecer – literalmente – deitada naquele chão de brasas.

Eu abaixei discretamente minha perna que estava sobre ele abraçando sua cintura, com o intuito de me mover para longe, acabando por encontrar no meio do caminho o escape perfeito – e bastante rígido – para mudar completamente o teor da nossa conversa.

– Faz muito tempo que eu estou assim em cima de você? – perguntei com desentendimento.

– Não, faz bem pouquinho na verdade...

– Então não me diga que tudo isso aqui é aquela história de ereção matinal... – eu brinquei, apoiando o queixo em seu peito enquanto percorria com a mão o peitoral onde estava literalmente deitada. Xingando-me mentalmente por ter virado aquele tipo de pessoa que desvia completamente o foco da conversa com conotações sexuais, por não saber lidar com a seriedade do assunto. Ou dos sentimentos. – Ou que você teve um sonho erótico que acabou te deixando duro assim...

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