Fire on fire would normally kill us
but this much desire, together, we're winnersGuilherme Monteiro Bragança
– Guilherme, você sabe que em algum momento dessa noite nós vamos precisar tocar no assunto "F", certo? – Marcelo desembuchou após um longo suspiro.
Eu o conhecia bem o suficiente para dizer que ele estava evitando esse assunto desde o momento em que entramos em meu carro e que aquilo já estava o corroendo por dentro. Contudo, não podia tirar seu mérito e autocontrole, uma vez que iria fazer duas horas que estávamos naquele bar e que ele havia conseguido se controlar até que eu desse o primeiro gole na terceira cerveja da noite.
– Se eu soubesse do que se trata esse assunto, até conseguiria lhe dar uma resposta... – eu respondi na tentativa de me dar algum tempo para pensar. A exaustão do dia misturada com o efeito do álcool deixava minha linha de pensamento e reflexos ainda mais lentos, dificultando ainda mais a minha capacidade de desviar daquele assunto incômodo.
– Você sabe o que é, não tente bancar o desentendido porque não cai bem em um cara da sua idade, pai de família! – Marcelo respondeu revirando os olhos. – Não podemos agir como se não tivéssemos visto Flávia na patisserie com outro cara e que você deu meia volta e entrou novamente no carro como se estivesse fugindo, sei lá, da polícia.
– E por que não? Não foi nada demais, Marcelo. Diariamente nós nos encontramos com pessoas que conhecemos, mas que não queremos ver. – eu defendi, bebendo mais um gole generoso da bebida que passou a descer com certa dificuldade devido ao nó que havia se formado em minha garganta.
Por que era tão difícil para as pessoas entenderem que eu não queria falar sobre Flávia? Eu gostaria que levassem em consideração o quão difícil já estava sendo ter que afugentá-la de meus pensamentos e que ter que falar sobre ela apenas dificultava o processo.
– Se não foi nada demais então porque você está tão distante desde o momento em que seus olhos pousaram em Flávia? – Marcelo retrucou. E, bem, eu não saberia exatamente como responder àquela pergunta visto que não havia percebido tal distração que meu irmão apontava. Nós havíamos mergulhado em uma conversa descontraída e repleta de nostalgia sobre nossa adolescência, tanto que os minutos passaram junto com os goles e mais goles de cerveja sem que eu percebesse.
– Provavelmente pelo mesmo motivo que fiquei enraivecido ao saber que vocês transaram. Ela estava ali com outro homem, se você não percebeu... se entrássemos no lugar, seríamos três homens que já passaram pela cama dela.
– Dela ou do bordel? – ele desafiou.
– E que diferença isso faz? – fora minha vez de rebater.
– Eu é que lhe pergunto. Honestamente, eu só estive na cama do bordel... – ele respondeu com simplicidade, dando de ombros e então terminando sua bebida.
– Você esteve na boate? – eu perguntei de imediato, sem conseguir conter a curiosidade e a leve irritação que aquela possibilidade me causava.
– Não, foi num jeito figurado que eu me referi. Você entendeu o que quis dizer... – ele respondeu, revirando os olhos com impaciência.
– Eu não sei de mais nada, Marcelo. Passou ok? Nós não tínhamos nada demais, já falei isso.
– E eu já falei que não acredito! – meu irmão insistiu. – Você tem vergonha, Guilherme? Vergonha por ela ser garota de programa?
– O que você tem a ver com isso, Marcelo? Por que insiste em trazer esse assunto à tona e não consegue simplesmente seguir com a sua vida? – eu falei sem conseguir me conter, encarando furioso o homem ao meu lado.
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Soho Dolls - flagui
ФанфикUma noite. Um acidente. Uma proposta. E a vida de Flávia nunca mais seria a mesma. Aos dezoito anos, ela é mais uma vítima das peças que o destino prega, a obrigando a tomar a decisão mais difícil de sua vida e que arruinaria todos os planos que um...