If you hold me without hurting me, you'll be the first who ever did
Era algo em torno das nove da manhã quando o silêncio e a tranquilidade do apartamento de Marcos acabou me causando certa estranheza ao me virar na cama. Não havia trânsito ao fundo ou cheiro de cigarro entrando pelos vãos da porta ou passos pesados no corredor apodrecido. Era tudo calmo e tranquilo, apenas com uma movimentação suave vinda da cozinha em sinal de que havia mais alguém no apartamento.
Então era assim que uma vida normal se parecia? Sem medo, sem casa enxotada de gente e quartos entulhados?
Eu me levantei da cama com cuidado, sentindo meus músculos rígidos e doloridos pelo acontecido no dia anterior, me espreguiçando com ainda mais cautela antes de me levantar e ir até a origem dos sons.
– Ei, bom dia! – falei após um pigarro para clarear minha voz da sonolência, atraindo a atenção do homem sentado à mesa que mexia entretido no celular enquanto segurava uma xícara de café com a outra.
– Olá, coisa bonita! Acordei você, né? Perdão... – meu amigo abriu um sorriso ao erguer o rosto para mim.
– De forma alguma! – balancei a cabeça, me juntando à ele na mesa. – Pensei que estivesse na academia.
– Ah, eu remarquei meus alunos da manhã. Não queria que você acordasse sozinha no seu primeiro dia em casa... Vandinha queria ter ficado também, mas os horários dela são mais inflexíveis. – ele explicou. – Sem falar que nada mais justo eu ter remarcado meus alunos depois que um atraso permitiu que tudo acontecesse ontem...
– Você sabe que aquilo não foi culpa sua, certo? Não foi culpa de ninguém a não ser de Roni e até mesmo minha... por ter aguentado aquele inferno por tanto tempo.
– Flávia, amor... se você acredita que eu não tenho culpa, porque é tão difícil de acreditar que você também não tem culpa de nada? – meu amigo procurou minha mão sobre a mesa, fazendo um carinho nela com o polegar. – Como está se sentindo hoje?
– Estou quebrada, Marcos. Por dentro e por fora. Tudo parece ser tão novo para mim que a sensação que tenho é que fiquei presa durante cinco anos em uma prisão e só agora estou de volta ao mundo real, precisando me adaptar a tudo e a uma rotina completamente diferente... – eu respondi com sinceridade, dando um suspiro fundo antes de prosseguir. – Mas eu estou confiante de que vai dar certo e que vou conseguir dar conta. Eu só preciso de um tempo para colocar a cabeça no lugar e para que esses hematomas melhorem...
– É claro que você vai conseguir dar conta, amorzinho. Tudo vai dar certo e se ajeitar. Você não nasceu para aquele lugar e a SoHo Dolls é só um capítulo da sua vida. – ele firmou, dando um beijo no dorso da minha mão. – Agora você precisa e muito comer por isso fiz torradas, ovos mexidos e uma guacamole diferente, além de café e suco. Pode tratar de comer de tudo um pouco porque já notei que a senhorita perdeu peso.
– Uau, tudo isso para um café da manhã?!
– E não é só porque é o seu primeiro dia na vida normal não, tá? Aqui vocês vão comer bem ainda mais quando Vanda tem uma garotinha crescendo dentro dela!
Eu dei um sorriso carinhoso para ele, sentindo meu peito estufar com o carinho com que ele falava e com a espontaneidade e sinceridade com que fala aquilo.
– Ah e sobrou bastante sopa de capeletti de ontem, está na geladeira, ok? Enfim, a casa é sua também, então pode comer o que quiser e tiver aqui, claro. – ele tagarelou animado. – Eu estou tão, mas tão animado que você está aqui, sabia?
– Eu sei e por mais que possa não parecer, eu compartilho dessa animação! – respondi, sentindo meu estômago roncar baixinho e decidindo que era hora de começar a me servir daquele café da manhã. – Eu te dei muito trabalho de noite? Chutando e me debatendo?
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Soho Dolls - flagui
Fiksi PenggemarUma noite. Um acidente. Uma proposta. E a vida de Flávia nunca mais seria a mesma. Aos dezoito anos, ela é mais uma vítima das peças que o destino prega, a obrigando a tomar a decisão mais difícil de sua vida e que arruinaria todos os planos que um...