VII

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Let me tell you; your hips, your tights, they got me hypnotized.

A sexta-feira havia chegado e com ela um ar quente de excitação e expectativa que acabou me pegando completamente desprevenida. Era oficialmente o primeiro dia de primavera e estranhamente a temperatura havia se elevado alguns graus, o que acabou deixando o clima tão agradável que de repente Nova Iorque inteira encontrava-se animada com os primeiros vestígios de cores, que se destacavam após os dias cinzentos e frios.

Animação, esta, que concentrava-se inclusive debaixo do teto sobre minha cabeça. O aumento da temperatura, mesmo que mínimo, sempre era bem vindo por todos nós e Margareth não economizou tempo em disfarçar a falta de decoração do casebre com uns vasos de hortênsias. Inutilmente, precisava frisar, mas não julgava suas tentativas de tornar a casa um lar mais aconchegante para todas nós – inclusive para ela mesma.

De repente, eu estava rodeada de flores e shorts curtos demais para a estação ao sair da cama na sexta-feira, junto a uma animação que fora impossível não se contagiar.

Entretanto, as estranhezas daquela manhã começaram muito antes de eu ter colocado os pés para fora do quarto. O fato do despertador em meu celular ter reassumido sua função nos últimos dois dias me trazia um vazio desconfortável, que combinava com a cama ao lado da minha que continuava intacta desde o dia em que precisei acordar minha amiga de seu pesadelo. Vanda havia "sumido" desde quarta-feira quando saiu para se encontrar com Aaron e contar sobre a gravidez, me deixando apenas algumas mensagens reconfortantes dizendo que estava bem e que voltaria antes do final de semana para casa, mas que precisava desses momentos com ele para que os dois pudessem conversar sobre o bebê.

Não sabia dizer exatamente o motivo, mas desconfiava que discutir sobre a gravidez estava sendo a última coisa que os dois faziam ao considerar a falta de notícia sobre a reação de Aaron com a novidade. O silêncio de Vanda me deixava levemente preocupada e desconfiada de que algo a mais tinha acontecido, mesmo que minha amiga mandasse áudios dizendo que estava tudo bem e que conversaríamos melhor no sábado quando ela voltasse para casa.

"Olá, amorzinho, estou mandando áudio porque sei que você é preocupada, então quero que veja que estou bem mesmo! Eu e Aaron estamos aproveitando esse tempo para conversarmos muito. Amo você."

Foi o que ela me falou no primeiro áudio e eu desejava com todas as minhas forças que esse realmente fosse o caso e não que ela tinha desistido de contar sobre a gravidez para ele.

No fundo, porém, precisava assumir que não era nenhum desses fatores o grande responsável pela inquietação na boca do meu estômago. Aquele dia em especial trazia algo importante, que por mais que eu me esforçasse em não me apegar, nem mesmo aquele sentimento de incerteza tinha sido capaz de conter minhas expectativas.

Definitivamente, uma sexta-feira nunca havia demorado tanto para chegar e talvez, mas só talvez, Marcos tivesse mesmo razão e eu estava, em suas palavras, "entrando para o clube das viciadas em macho".

Mas com a chegada da noite, tudo que havia me restado era inquietação, a mudança de estação e então a decepção, que no fundo já sabia que iria sentir.

O relógio escondido atrás do balcão na boate me mostrava que já passava das onze da noite, mas as diversas mesas e sofás ocupadas com clientes não contavam com o homem que eu aguardava.

Ele não iria vir... e não era como se eu tivesse direito de me sentir decepcionada quando eu mesma tinha sido a responsável por criar expectativas. Nós havíamos acabado de nos conhecer e ele era um médico importante, com uma filha adolescente para cuidar... era claro que ele tinha coisas mais importantes para fazer numa sexta-feira à noite do que ir um bordel.

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