XII

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– Vanda, querida, balançar a perna dessa forma não fará os ponteiros do relógio girarem mais depressa e muito menos a sua médica ir mais rápido dentro do consultório... – eu disse na tentativa de acalmar a mulher muito nervosa ao meu lado. – Acalme-se, V. Não é como se você já não soubesse a verdade.

O relógio à nossa frente mostrava que já estávamos no hospital há mais ou menos trinta e cinco minutos, o que fazia a médica de Vanda estar atrasada quase vinte deles. Depois de termos enfrentado uma longa jornada entre os carros, motos e limusines no trânsito caótico de Nova Iorque, às nove da manhã, em um trajeto que fora feito em completo silêncio, minha amiga havia chego ao segundo estágio de nervosismo. E nele persistia.

– Eu sei, eu sei. Minha cabeça está um turbilhão e para ser honesta nem sei o motivo de estar tão nervosa! Eu odeio médicos, você sabe, mas... – ela confessou, pressionando as têmporas como se precisasse aliviar uma dor de cabeça. – Está passando mil tipos de preocupações em minha cabeça. De quanto tempo estou, será que está tudo bem com ele...

– Você sabe que ficar pensando tudo isso e se torturando agora não irá responder suas perguntas, não é? – eu tentei confortá-la. – Não é como se as semanas fossem aparecer em sua mente a cada dez balançadas de pernas ou como se o bebê fosse respondê-la "sim, estou bem agora por favor pare de me balançar, mulher, obrigada!". Se acalme Vandinha, em menos de uma hora todas suas perguntas serão respondidas...

– Você tem razão! Como sempre... – ela suspirou fundo, levando seus dedos de sua têmpora até seus fios de cabelo. – Eu preciso confessar que parece mentira ainda, entende? Digo, eu não me sinto grávida e tampouco pareço grávida. Ainda tem um pingo de esperança dentro de mim de que tudo isso não passa de um engano e que meu útero continua vazio, que minha menstruação vai voltar e que só estou vomitando minhas tripas porque eu sou um novo caso raro que a medicina precisa desvendar. Eu não sei como não surtei ainda com toda essa bagunça.

– E eu estou pensando a mesma coisa neste momento. Gostaria poder dizer algo inteligente e que a acalmasse, mas eu realmente não faço ideia do que falar. Na verdade, não existe nada que possa ajudar neste momento que não seja a médica dentro do consultório com o aparelho de ultrassonografia.

– Eu sei, só precisava dividir com alguém, sabe? Inclusive, obrigada por ter vindo, não seria a mesma coisa sem você aqui! - minha amiga desabafou, finalmente relaxando na cadeira. - Mas por favor, vamos conversar sobre algo que possa me distrair.

Fora então minha vez de suspirar aliviada. Pelo menos com uma Vanda curiosa e tagarela eu sabia lidar melhor do que com uma que havia virado uma pilha de nervos. Revirei minha mente por alguns segundos pensando no que poderia falar a minha amiga que não a deixasse ainda mais inquieta e só então me recordei de algo que havia esquecido completamente.

– Encontrei o Gabriel na sexta-feira... – eu revelei com um descaso que não sabia de onde havia surgido. Quando se tratava de Gabriel, raiva era o único sentimento que me dominava e eu realmente não entendia como havia conseguido me esquecer de contar a ela e Marcos sobre o ocorrido.

Ou melhor, eu entendia muitíssimo bem o que fizera minha mente apagar aquele acontecimento... Mas não gostaria de revelar o motivo, que estava me gerando inquietação, ainda.

– Gabriel? Gabriel de Gabriel Wöllinger? – Vanda perguntou em sobressalto como se estivéssemos falando sobre o pior serial killer dos Estados Unidos da América.

– O próprio! – assenti, finalmente sentindo o amargor em minha boca ao falar sobre ele. – Guilherme nos levou a um restaurante italiano no Upper East e me deixou por alguns minutos para ir ao banheiro, foi quando Gabriel veio falar comigo.

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