XXXIII

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Em menos de uma hora eu estava de volta dentro do conhecido mundo de couro bege que era o carro de Guilherme, à caminho de um de seus restaurantes italianos preferidos onde ele havia feito pedido para viagem de Fettuccine Alfredo e Arancine para dois, que nós comemos acompanhados de uma garrafa da safra de 2010 de vinho tinto da sua família. "Levamos pasta e vino muito a sério nessa família!" foi o que ele havia me dito uma vez e repetira assim que nos sentamos para comer na mesa de jantar.

Enquanto Guilherme arrumava a mesa para nós, eu me ausentei por alguns minutos para que conseguisse conversar com Vanda, que estava uma pilha de nervos devido ao jantar que teria com a família de Aaron naquela noite. Conseguir acalmá-la tinha sido um desafio gigantesco para Marcos e eu, quando secretamente dividíamos o mesmo receio que ela, de como a família de Aaron reagiria e como o próprio Aaron iria agir com essa proximidade. Contudo, de alguma forma inexplicável, nós conseguimos fazer com que ela fosse um pouco menos nervosa e apenas isso já era uma vitória.

Foram necessários vinte minutos para que conseguíssemos tal proeza e ao retornar para sala, onde Guilherme me esperava paciencioso, a mesa de jantar estava posta com um candelabro com velas acesas e ele tinha reduzido as luzes, deixando o cômodo parcialmente iluminado pelos abajures e velas, enquanto uma música gostosa tocava baixinho.

– Uau, o que foi que aconteceu aqui? – brinquei, me aproximando dele que estava sentado na poltrona, perto do sofá.

– Ah, queria deixar esse momento mais a nossa cara... com meias luzes e candelabros, uma coisa mais romântica. Gostou? – ele respondeu, desviando a atenção do celular que foi bloqueado e deixado sobre a mesinha de canto, antes de se levantar e vir até mim.

– Eu amei, Doutor, ficou incrível... – respondi, me sentindo um pouco derretida demais.

– Está tudo bem? Deu tudo certo com Vanda?

– Hum... acho que vai ficar tudo bem, ela é durona, vai conseguir encarar a situação! E você? Conseguiu falar com Emily?

– Consegui sim, ela está bem e disse que vão assistir filme... – ele respondeu, deixando um beijo demorado em minha testa. – Então, vamos jantar?

– Vamos, eu estou morrendo de fome e o cheiro da comida está maravilhoso...

Foi com ele me falando sobre as receitas dos pratos que comíamos e sobre a safra do vinho que bebíamos; com ele querendo saber como foram meus primeiros quinze dias longe do bordel; com nós conversando sobre as músicas que tocavam e seus devidos cantores; em meio uma conversa leve e gostosa, dos mais diversos assuntos desde a minha busca por emprego, ao que estava acontecendo entre Vanda e Aaron, que nós jantamos e bebemos uma garrafa inteira do vinho tinto maravilhoso de sua família. Eu me lembrava de quando tinha perguntado sobre o seu envolvimento nos negócios da família e ele me dissera que diretamente não tinha nenhum, mas que se considerasse o consumo, seu envolvimento era gigantesco e, bem, esta era mais uma coisa que eu percebia ser uma grande verdade.

Tanto que assim que seguimos até o sofá da sala para ficarmos juntos, ainda com aquele clima gostoso de meia luz e música tocando ao fundo, ele levava mais uma garrafa de tinto que certamente iríamos beber sem ao menos perceber.

– Então quer dizer que o seu melhor amigo é um dos caras misteriosos de Megg... – eu comentei ao sentarmos no sofá, após Guilherme ter enchido nossas taças, um colado ao outro e com as minhas pernas sobre ele.

– Bizarro, não é? Não sei se fiquei mais chocado ou enojado com essa informação, mas acredito que tenha sido a segunda opção... – ele respondeu, descansando a mão sobre os meus joelhos.

– Enojado? Porque? Megg é uma gostosa, convenhamos.

– Eu não consigo pensar como ele consegue ir para cama com ela sabendo a pessoa péssima que ela é.

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