XIV

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Eu caminhei o mais depressa que meus saltos me permitiam, deixando Mitchell e a boate para trás sem pensar duas vezes.

Mil e uma situações se passavam em minha mente fantasiosa sobre o que havia acontecido... Será que Aaron havia oferecido dinheiro para que ela tirasse o bebê? Será que havia a agredido? Será que ele simplesmente decidiu que não queria mais o bebê ou que não acreditava em Vanda?

O breve caminho da boate até nosso quarto fora o suficiente para que imaginasse as piores situações possíveis, mas assim que encontrei minha amiga aos prantos em sua cama, eu tive a certeza de que o que havia acontecido era ainda pior do que a minha imaginação trágica havia criado.

Ou que, de alguma forma, o que tinha acontecido era uma mistura de tudo que havia pensado.

– Hey, estou aqui. Está tudo bem... – eu me ajoelhei em frente à ela, tomando suas mãos com as minhas, mas minha amiga decidiu que apenas aquilo não seria o suficiente e jogou seus braços ao meu redor, se abraçando com força em mim de forma que não me deixava escolhas a não ser sentar em sua cama com ela. – Vands, eu acabei de sair de um programa...

Eu avisei, um tanto apreensiva. Nosso quarto era uma espécie de refúgio pessoal onde evitávamos levar quaisquer resquícios dos programas para dentro dele e me sentar em nossas camas, antes de passar um bom tempo debaixo do chuveiro e com roupas limpas, se encaixava perfeitamente nessa limitação.

– Eu não me importo... – ela respondeu com uma voz tão baixa que era quase difícil de se ouvir. – Só não me solte, por favor.

– Nunca, amor... – eu respondi, acariciando suas costas na tentativa de acalentá-la.

Eu deixei que ela chorasse até que tudo que estivesse lhe agonizando se tornasse mais suportável para que conseguisse dividir comigo. Deixei que Vanda tivesse seu tempo, esperando pacientemente enquanto a abraçava forte e sussurrava que estava ali com ela independente do que tivesse acontecido, até que seus soluços foram reduzindo aos poucos e ela ficando mais calma.

– Eu sou muito idiota, Flávia! – minha amiga falou, erguendo-se do meu colo para se sentar ao meu lado. Seu rosto e olhos estavam inchados em sinal de que ela estava chorando já há bastante tempo e toda maquiagem, que a vi aplicar com cuidado um pouco antes de sair, estava borrada e escorrendo pela sua face. Eu simplesmente detestava vê-la daquela forma. – Como consegui acreditar que Aaron toparia me ajudar a criar essa criança? Eles são todos iguais, arrogantes, machistas e egoístas.

– O que aconteceu? Ele não acredita que o bebê é dele? – perguntei cautelosamente, pegando sua mão entre as minhas.

– O pior de tudo é que ele sabe que o filho é dele, eu não preciso mais dizer que ele é o pai por que antes mesmo de saber de quanto tempo eu estou, ele já sabia que o bebê era dele. O problema, para ele, sou eu... a mãe do bebê! – Vandinha respondeu com amargura, forçando um riso que não havia um pingo de humor. – Ele disse que esteve conversando com o advogado sobre... sobre a nossa situação, e que ele apontou uma preocupação em relação ao bebê e a mim.

Ela começou a explicar, encarando nossas mãos juntas sobre meu colo, e eu sabia que seja o que tivesse acontecido minha amiga estava imensamente decepcionada e, pior de tudo, envergonhada com o que iria me contar. Vanda retomou fôlego e então prosseguiu.

– Foi então que Aaron propôs arcar com todos os custos médicos da minha gravidez até o bebê nascer e em troca, ele quer adotar legalmente a criança como se eu não passasse de uma barriga de aluguel. – ela disse por fim, fechando seus olhos como se admitir aquilo lhe causasse um tipo de dor física. E, mais uma vez, as lágrimas voltaram a escorrer pelo seu rosto.

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