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– Vanda, você precisa se acalmar, amiga!

As minhas mãos acariciavam as costas curvadas de Vanda tentando passar algum conforto para a minha amiga que chorava em desespero e tentava desabafar entre os soluços de seu choro. Contudo, no fundo eu sabia que nem eu e nem nosso amigo sentado ao seu lado, segurando suas mãos, seria o suficiente para amenizar aquela confusão que se passava nela.

– Me acalmar? Como vou conseguir me acalmar? – brevemente ela ergueu a cabeça rindo sem o mínimo de humor. – Eu estou grávida, grávida!! Flávia, eu não posso estar grávida! Não é possível eu me acalmar sabendo que tem uma vida dentro de mim...

– Sim você está e se desesperar não irá mudar os fatos então você precisa manter a calma! – eu insisti com firmeza.

– Esse desespero todo não vai fazer bem para você e nem para o bebê, Vandinha! – foi a vez de Marquinhos tentar acalmá-la, ajeitando seus cabelos para trás da orelha para que pudesse olhar melhor seu rosto.

O caminho do hospital até a casa de Marcos foi feito em um silêncio desesperador que apenas era quebrado pelos soluços de Vanda contra o meu ombro. Os olhares preocupados do motorista do Uber pelo retrovisor eram facilmente ignorados por ela, que estava alheia a tudo que acontecia ao seu redor, e assim que os braços de Hulk do nosso amigo a envolveram em um abraço firme, os soluços de Vanda apenas se intensificaram a ponto de molhar a camiseta que Marcos usava.

E naquele momento o choro estridente vindo de um episódio de Keeping up with the Kardashians na televisão criava uma antítese imensa com o sofrimento de Vanda ao meu lado, sendo assim os únicos sons que podíamos ouvir ecoando naquela sala. Não era como se conseguíssemos dar a resolução para o que lhe afligia ou que pudéssemos fazer algo que não fosse ficar ao seu lado.

– Eu não me importo com isso! Eu não quero esse bebê, Marcos... – ela respondeu, escondendo o rosto em suas mãos, reduzindo o tom de voz. – Eu não posso querer, não posso tê-lo. Eu não posso me permitir querer tê-lo!

– Você está pensando em ir até uma clínica, amiga? – Marcos perguntou, lançando em minha direção um olhar de socorro já que ele não fazia ideia do que falar naquele momento. Mas quem era eu para dizer ou fazer algo que não fosse oferecer meu ombro para que ela chorasse, quando há alguns meses estávamos em  posições invertidas? Quando nem mesmo para minha própria situação eu fui capaz de encontrar solução?

Não era de tristeza ou decepção que ela chorava, eu sabia que não era simplesmente o fato de ela não querer aquele filho como aparentava ser. Ela chorava pelo seu futuro incerto, pela confusão que sua vida havia virado em apenas alguns minutos, pelo sentimento de abandono uma vez que não poderia dividir seus receios com o pai da criança, e, acima de tudo, medo. Medo das consequências que qualquer decisão que ela tomasse poderiam lhe trazer; medo daquele mesmo futuro incerto que lhe parecia mais como um buraco negro; da volta que sua vida havia dado; das dificuldades que ela enfrentaria ou que os dois enfrentariam. Era medo de fazer mal a alguém que definitivamente não merecia sofrer.

– Não é como se eu tivesse muitas escolhas, Marquinhos, eu não tenho condições de ter esse filho ou até mesmo de seguir com essa gravidez... Ninguém vai querer uma prostituta grávida ou contratar alguém grávida, Roni não vai me querer grávida... – um suspiro fundo foi interrompido por um soluço involuntário que vibrou em seu peito. – Ele não vai me querer grávida. Eu não sei o que fazer...

– Se me permite dar um conselho, não tome nenhuma decisão de cabeça quente, tudo bem? Entendo melhor do que ninguém que você esteja desesperada, mas espere alguns dias para decidir o que fazer... – tentei consolá-la mais uma vez. – Pense com cuidado e se for isso que decidir fazer, você sabe que eu vou estar na clínica com você, mas, por favor, não tome nenhuma decisão agora. Seja ela seguir com a gestação ou não ou até mesmo se vai contar para o Aaron

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