IX

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Eu apaguei as luzes e deixei meu quarto, seguindo pelo corredor estreito em direção a sala onde Marcos, Vanda e Lola assistiam a um sitcom enquanto comiam pizza. As risadas de auditório se misturavam ao som dos meus saltos contra o piso de madeira e o cheiro de queijo e bacon ficava cada vez mais forte à medida em que eu me aproximava dos três, o que fazia meu estômago grunhir por estar há várias horas sem receber comida.

– E então?! – pigarrei ao fundo da sala, logo no início do corredor, chamando a atenção das três cabeças que pela milionésima vez assistiam Friends, sentadas no sofá. – Como estou?

Eu deixei que eles vissem apenas uma parte de como estava, me revelando aos poucos conforme me aproximava do centro da sala.

– Uau! – minha melhor amiga expressou.

– Eu não sei nem o que dizer honestamente... – Lola apontou, dando um sorriso caloroso ao me olhar da cabeça aos pés.

Não saberia dizer ao certo o motivo, mas escolher o que vestir para aquela ocasião em especial tinha sido ainda mais difícil que o normal. Tudo parecia "demais" ou "de menos" visto que não fazia ideia para onde Guilherme iria me levar, até que no fundo dos cabides um vestido preto, de frente única e solto ao corpo, que havia sido comprado há algum tempo, me convenceu de que eu não seria capaz de encontrar algo melhor  tão pouco tempo.

Preto e folgado, com as costas inteiras abertas desde a nuca até o início do meu cóccix, que ia até um pouco além da metade das coxas e eu me sentia um tanto insegura em minha própria pele pela primeira vez na vida. Aquela seria uma noite em que possivelmente nós passaríamos muito mais tempo vestidos do que todas as outras vezes em que estivemos juntos e isso já era o suficiente para me gerar insegurança... será que eu saberia lidar com ele enquanto estávamos devidamente vestidos em um lugar público?

– Marcos?! – eu perguntei para o meu amigo, que me avaliava de longe em silêncio.

– Bem, querida, dependendo de como quer parecer, você está ótima... – meu amigo respondeu simplesmente, dando de ombros.

– E como eu me pareço? – insisti, prevendo que ele soltaria uma de suas pérolas.

– Você está parecendo uma filhinha de papai riquinha e virgem, que está saindo para jantar com um gostosão na expectativa de dar para ele, mas que não faz ideia de como seduzir ele...

Uma gargalhada alta foi impossível de ser contida por ele ter falado quase o que eu já esperava ouvir. Obviamente não com exatidão, mas meu amigo tinha uma categoria de roupas que usávamos bastante formada em sua cabeça que se encaixavam em "filhinha de papai riquinha virgem". Seja lá o que isso fosse exatamente.

– E agora? Será que assim eu conseguiria? – eu insisti, me virando de costas e o olhando sob meu ombro esquerdo.

Naquele ângulo eles conseguiam ver não apenas o comprimento do vestido e o decote enorme nas costas, mas também meus sapatos pretos de solado vermelho de salto 17. Assim como minha maquiagem simples se destacava por um delineado e um batom vinho e, provavelmente, a pitada de insegurança que estava sentindo pela primeira vez na vida antes de sair com algum cliente.

– Oh. Meu. Deus! – Marquinhos falou pausadamente. – Garota você vai matar o Doutor Orgasmo do coração, espero que ele entenda de cardiologia porque vai ter um ataque do coração ao te ver assim.

– Coração?  Eu espero que ele entenda de ereção porque vai ter uma daquelas após vê-la desse jeito! – Vanda corrigiu, sorrindo de forma maliciosa enquanto me analisava dos pés a cabeça.

– Eu ainda pareço uma filhinha de papai virgem que não sabe como seduzir, honey? – eu falei baixinho, me aproximando vagarosamente enquanto olhava para Marcos, usando a voz manhosa da Nina para incomodá-lo.

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