Guilherme Monteiro Bragança
– Eu não sei quantas vezes já disse, mas vou repetir: Nedda, eu senti muito mas muito a sua falta, mas chegava a sonhar que estava comendo o seu crepe. – minha filha falou com um suspiro deliciado ao terminar de comer o último pedaço da crepe de queijo que Nedda havia feito para nós de café da manhã.
A normalidade de nossas manhãs voltava aos poucos, com nós três fazendo o desjejum juntos porque Nedda insistia para que tanto eu quanto Emily tivéssemos pelo menos uma refeição mais em família. Era bom, e ao mesmo tempo um pouco estranho, voltarmos a ter aquela dinâmica quando por meses ela estivera longe... e mesmo quando sabia que ela estava prestes a acabar de vez.
– Mas que coisinha você, eu faço exatamente igual quando ela não está! – eu contestei.
– Ah, pai, eu sei que faz, mas mesmo assim é diferente. Não sei explicar. – Emily se defendeu com um sorrisinho travesso.
– É o toque, já entendi... – Nedda comentou dando um sorriso e uma piscadela cúmplice para minha filha.
– Hum... queria lhe perguntar uma coisa, Nedda, já que você sabe de absolutamente tudo. – minha filha começou, dando um gole em seu café antes de prosseguir. – Você conhece alguém que limpe sofás de couro?
O gole de café que bebia quase acabou fazendo o infeliz caminho errado ao ouvir as palavras "sofá de couro" saindo da boca da adolescente ao meu lado.
E lá estávamos nós de novo.
– Que pedido mais excêntrico, Emily! Não, eu não conheço ninguém que faça limpeza de sofás de couro. Porque você está a procura disso, minha querida? – Nedda perguntou confusa, mas com certo divertimento.
– Emily, por favor! Não tem a mínima necessidade disso, minha filha! – eu precisei intervir, não conseguindo acreditar que aquele assunto estava sendo revivido.
– Como assim não tem a mínima necessidade? Pai, se você acha que vou me sentar naquele sofá depois do que vi, você está muito enganado! – minha filha insistiu contrariada.
Eu gostaria que um buraco se abrisse no chão e me sugasse para dentro dele e quem sabe puxasse junto o fatídico sofá. Era claro em minha mente o motivo de não precisar fazer nenhum tipo de higienização no sofá, afinal, eu sabia como as coisas funcionavam... porém, eu não gostaria de explicar o funcionalmente prático para minha filha de doze anos do porquê ela estava exagerando.
– O que está acontecendo? Do que vocês estão falando? – Nedda perguntou ainda mais confusa.
– Nós conversamos sobre isso ontem mesmo, Emily, e você me prometeu que seria mais compreensiva com a Flávia. – eu falei em um tom mais sério, rolando os olhos nervoso para ela.
– E eu vou ser, mas a questão do sofá não tem nada a ver com eu ser mais ou menos compreensiva com ela. – Emily justificou.
– Pessoal, quem é ela e o que ela tem a ver com um sofá de couro? – foi a vez de Nedda perguntar, mais incisiva daquela vez.
– Lembra de quando dissemos que meu pai estava com uma namorada? – Emily se adiantou a responder, virando sua atenção para a Nedda.
– Aquela que a sua avó gostava muito, mas que eles terminaram?
– Essa mesma... – minha filha respondeu, virando sua atenção novamente para mim. – O resto eu vou deixar para ele contar pois preciso terminar de me arrumar.
Emily então se levantou da mesa com uma sua saída triunfal enquanto eu me perguntava o que de tão ruim eu havia feito para merecer tal comportamento. E, talvez, mas só talvez, o fato de ter sido flagrado por ela, no meio das pernas de uma mulher no sofá da nossa casa poderia responder ao meu questionamento.
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Soho Dolls - flagui
FanfictionUma noite. Um acidente. Uma proposta. E a vida de Flávia nunca mais seria a mesma. Aos dezoito anos, ela é mais uma vítima das peças que o destino prega, a obrigando a tomar a decisão mais difícil de sua vida e que arruinaria todos os planos que um...