XXIX

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Love, let's talk about love. Is it anything and everything you hoped for? Or do the feeling haunt you? I know the feeling haunt you.

Dispensar Guilherme havia sido uma das coisas mais difíceis que eu já havia feito, mas não chegava nem perto do tanto que havia sido ter que explicar para Marcos o motivo pelo qual eu havia agido daquela forma.

"Flávia, nenhum relacionamento é perfeito e desentendimentos acontecem com mais frequência do que você imagina. Eu posso ver em seus olhos o quanto isso está lhe doendo... não seja tão dura com os seus sentimentos." foram as palavras do meu amigo. Palavras, estas, que serviram somente para intensificar a inquietação que estava em meu peito e que martelava ainda mais a cada vez que eu me perguntava se havia agido da maneira correta. Entretanto, eu sentia que não poderia simplesmente me derreter aos seus pés logo após tê-lo ouvido dizer: "Eu sinto sua falta, anjo. Da sua companhia, da sua risada. De você por inteiro."

Ou poderia?

Ainda era difícil para mim conseguir estabelecer a diferença entre estar aberta para dialogar e de estar sendo rendida a ele. Em minha cabeça inexperiente, e claramente traumatizada, as duas coisas se confundiam... a ponto de nem eu mesma saber identificar o que realmente queria.

"Ugh, como eu gostaria de poder esquecê-lo ou simplesmente não ter me apaixonado por ele." foi o que eu falei para Marcos no fim de nosso treino, enquanto alongava minhas pernas que queimavam pelas pedaladas na bicicleta ergométrica. E, como se eu já não tivesse o suficiente para me aturdir, Marcos complementou com algo que eu não tinha condições ainda de responder.

"Você realmente gostaria de esquecer todos os momentos bons que passaram? As sensações... o sexo... tudo isso antes mesmo de vocês terem conversado e tentado se acertar?"

Não tinha como negar que seu comentário havia construído um triplex em minha cabeça e criado raízes, que acabaram, bem dizer, fritando meu cérebro devido a tanta energia que direcionei para o assunto. Era doloroso precisar assumir que não haveria nenhuma solução mágica para o assunto que não me fizesse perder mais do que já estava perdendo.

***

– Nina, seu querido chegou! – avisou Margareth aparecendo no espaço entreaberto da porta do meu quarto enquanto colocava apressadamente um dos seus brincos. – Roni irá recebê-lo por mim, a boate está lotada hoje e eu vou precisar descer para ajudar as meninas.

"Ajudar as meninas" era até engraçado ouvi-la combinar estas palavras com um tom doce na voz quando a mesma costumava gritar aos quatro ventos que "tínhamos a obrigação de conseguir tocar a boate nós mesmas".

– Estou indo! – eu falei, levantando da cadeira da penteadeira onde estava sentada aguardando para então cruzar o campo minado enxotado de coisas que meu quarto havia virado.

O dia havia passado em um piscar de olhos dentro da monotonia habitual que reinava naquela casa durante a luz do dia. Contudo, o cair da noite trouxera consigo o ar inquieto de sempre, que apenas parecia se intensificar a cada minuto de espera que se passava.

As garotas já haviam descido uma a uma para a boate, deixando os cômodos da casa gradativamente mais silenciosos enquanto eu aguardava em meu quarto pela chegada do meu encontro daquela noite.

– Nina, você ouviu o que eu disse? – ela falou novamente, desta vez abrindo por completo a porta do quarto para conseguir colocar seu tronco para dentro do cômodo, segurando um par de botas.

Gabriel estava duas horas e meia atrasado e segundo suas mensagens, ele havia ficado preso em um café coworking em reunião com fornecedores da empresa.

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