"A culpa é sua eu me viciar no seu jeito. É que por dentro eu sempre choro quando você chora..."
Desci do ultimo ônibus e caminhei o restante, o percurso durou quase uma hora, mas eu não tinha mais moedas para pagar outra passagens, as que usei consegui de algumas pessoas que pedi na rua. O prédio em que os meus pais moravam estava diante de mim e um filme passou na minha cabeça. Ao olhar para a calçada eu pude lembrar de quando eu caminhava com a minha mochila, saudade desse tempo e do quanto eu era feliz. Algumas lágrimas saíram dos meus olhos, mas fiz questão de limpar rapidamente.
Enquanto eu caminhava, algumas pessoas me olharam com pena e até medo. As mulheres luxuosas, se afastavam de mim como se eu tivesse alguma doença contagiosa. Mal sabe elas, que a minha doença me me seduziu, veio acompanhada de adrenalina e carinho. Eu sei que a minha aparência havia mudado drasticamente e isso se confirmou ainda mais, quando o porteiro quase não me conheceu.
Agatha: - Eu já te disse Jorge, sou eu, Agatha. – falei de forma cansada pela ultima vez.
Jorge: - Saia daqui. A Agatha que conheci não se parece com você, ela nem mora mais no país, ela foi estudar fora, será uma grande doutora. – Falou com bastante certeza.
Eu pensei que somente a minha aparência estava causando dúvidas nele, mas resolvi confirmar a minha dúvida.
Agatha: - Eu vou te provar que sou eu. Vejamos... quando eu tinha 7 anos, ganhei uma bicicleta rosa, eu tentava pedalar, mas sempre acabava caindo e quando eu voltava para casa chorando e triste, você sempre me consolava e me dava um pirulito. Aos 13 anos, quando cheguei chateada da escola por que vaca da Fernanda estava rindo de mim, você me disse que eu era linda e que jamais deixasse alguém me desmerecer...
Conforme eu ia falando, as lembranças vinham a minha mente e isso me causou ainda mais confusão. Jorge era porteiro do prédio há muito tempo e sempre me ajudava, nas vezes em que eu chegava triste ou abalada. E hoje, estar diante dele, tentando provar que sou a mesma menina assustada me deixa ainda pior.
Jorge: - Meu deus! – gritou assustado enquanto me abraçava. Ele demorou alguns segundos me observando novamente e lagrimas saíram dos seus olhos.
Jorge: - O que aconteceu com você Agatha? Os seus pais me disseram que você havia ido morar em outro país, pois estava fazendo a faculdade de medicina e precisava se dedicar aos seus estudos. – falou rápido e ofegante.
Havia confusão nos seus olhos, pude ver que ele realmente havia acreditado na mentira dos meus pais, que não pensaram duas vezes ao mentir ao invés de encarar a verdade de que a filha deles havia se apaixonado por um traficante e morava, atualmente, em uma favela.
Apesar dele me olhar com pena, eu estava tão abalada com a revelação que ele me fez, que apenas virei as minhas costas e comecei a caminhar. Ouvi quando ele gritou meu nome algumas vezes, mas eu estava destruída demais para voltar. As pessoas que achei se sempre teria ao meu lado, buscaram uma forma de me deletar da vida deles e eu estava com o coração partido.
Nesse momento eu só queria algo que aliviasse tudo o que eu sentia, que apagasse da minha memoria tudo o que eu ouvi, mas como isso não era possível, busquei ao menos uma sensação momentânea. Uma fuga, e agora o que eu mais precisava era encontrado em algumas esquinas do morro. E hoje eu queria tudo, por que a minha dor estava sem dúvidas, me consumindo.
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VICIADA (1° Temporada da Trilogia: Realidade da Favela)
RomanceRomance Dark. Contém temas sensíveis e possíveis gatilhos. Eu o conheci em um baile, eu tinha família e dinheiro, mas troquei tudo por você, pelo nosso amor. No início, flores. As festas continuavam, agora na nossa casa. Álcool já não era o sufic...