Retorno

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Definitivamente, o tempo é relativo. Para uns, passa rápido, para outros, pode demorar uma vida.

Para Kara, cada dia se arrastava lentamente, as horas, os minutos e até mesmo os segundos. Eram mais eternos e agonizantes do que séculos na zona fantasma. Ela não tinha ninguém pra conversar, ninguém pra dividir conversas e experiências. Ela nunca pensou que sentiria tanta falta de Lena depois de tê-la reencontrado e aquilo a estava matando.

Sua mãe, era muito ocupada, por ser a própria Rainha, então quase não tinha tempo para conversar. Seus amigos na Terra, também tinham tarefas, emprego, trabalho, investigações, estudos, uma vida. E isso fazia ela se sentir pior ainda. Por que todos têm vida menos ela?

Não.

Obviamente ela tinha uma vida sim. Mas ela não fazia o menor sentido sem sua parceira pra vida. Aquela distância era a prova de que precisava. Não tinha mais condições de ficar sem Lena e naquele momento estava sentindo na pele as consequências. A única hora do dia que lhe trazia alívio era poder conversar com seus amigos e família da Terra. Mas não estava aguentando mais estar longe de todos.

1 semana se passou, ainda sem nenhuma notícia de Vita ou Lena e aquilo já a deixava doente. Obviamente sua mãe percebeu, mas no princípio, queria dar espaço pra ela. Só que estava indo longe demais, então mesmo sendo totalmente ocupada, tinha como prioridade a sua filha.

-Filha... Vamos conversar?

-Hã? Claro, mãe! Algum problema? Você nunca deixa seu posto e suas tarefas, tá tudo bem?

-Comigo? Tudo ótimo. Mas eu quero saber o que está acontecendo com você, isso sim.

-Mas como assim?

-Você só sai pra fazer as refeições. Fica o dia todo deitada sozinha, com essa carinha chateada... É a Lena?

-Mãe. A Lena é... – ela bufou. – A Lena é minha melhor amiga e fica longe dela é um pouco complicada.

-Tem certeza, minha filha? Vocês têm uma relação tão profunda, tão íntima... Às vezes me lembram Sara e Ava. Se você quer contar um segredo pra mim, não se preocupa, eu mantenho...

-Mãe, eu não posso gostar de mulher! – Kara gritou de uma vez. Depois fechou os olhos, sacudiu a cabeça e bufou. – Desculpa, mãe. Eu não quis gritar com você, foi um impulso.

-Bom, obviamente as coisas não estão bem. Eu vou conversar com Vita sobre a Lena. É óbvio que sente falta dela.

-Eu... Eu sinto, mas... É que é muita coisa junta na minha cabeça, sabe? Eu to tão confusa.

-Eu vou falar com a Vita. Me espera aqui, por favor.

-Mas mãe, eu não quero atrapalhar seu trabalho nem nada...

-Hoje... O meu trabalho é ser sua mãe. Espera aqui. – Allura saiu do quarto e de fato foi em direção à casa de Vita. Bateu na porta e obteve uma resposta bem rápida. Aquilo foi uma surpresa. – Vita.

-Allura, minha querida! Há quanto tempo! Sentiu saudade?

-Vita! Claro que senti, minha amiga. Você anda tão reclusa aí com sua nova estudante... Fala comigo um pouquinho.

-Óbvio que falo, coração. Do que precisa?

-Da minha filha querendo viver de novo!

-Do que está falando?

-Eu não vejo mais a Kara sair do quarto pra nada. Tá óbvio que ela tá morrendo de saudade da Lena. O que essas duas têm, hein?

-Allura... Caso clássico de gay incubada.

-Você acha que a Lena é?

-A Lena E A KARA, minha querida. Aquelas ali se amam num nível que eu em meus mais de dois séculos de existência nunca tinha visto. Mas não se entregam a esse sentimento, querida e pelo jeito nem vão. De algum jeito a Kara não parece querer nada disso.

-Então foi por isso que ela gritou desesperada na minha cara que não podia gostar de mulher, né?

-Ela fez isso?

-Fez, bem desesperada. Ela precisa da Lena, não quer conversar com ela não? Pra ver se elas... Se encontram. Já faz uma semana, as coisas precisam ser resolvidas. Fala com ela.

-Mas... Eu vou falar com ela, minha amiga. Vou fazer essa garota voltar pro seu castelo ainda hoje.

-Eu sabia que não tinha quarentena de magia nenhuma. Eu só deixava você ficar quietinha na sua quando queria.

-Você sempre me conheceu bem. – elas encostaram as testas. – Mas eu se fosse você, conversava com aquela incubada da Kara. Que trauma é esse, que desespero é esse só pela sexualidade?

-Eu também não entendo. Será que na Terra eles têm alguma cultura que abomine certas características?

-Pode ser. Isso você desvenda melhor. É bom que vai aproximar mãe e filha mais ainda. Faz ela falar a verdade.

-Eu vou tentar. Mas faz essa sua aprendiz aparecer lá em casa HOJE. Senão eu mando prender vocês duas. Eu sou a Rainha, você sabe que eu posso fazer isso. – ela apontou.

-Eu sei sim! Vou fazer tudo praquela bobinha ir pra lá. Boa sorte com sua prole, minha cara.

-E você com a sua! Tá na cara que você adotou a Lena. – ela virou as costas e voltou ao castelo.

Vita suspirou chateada. Pensou, bateu o pé... Aquilo não daria certo ou desencadearia alguma briga ou discussão desnecessária. "Anda!" Allura gritou de longe e ela revirou os olhos, fez um som de birra e entrou de volta pra casa. Desceu as escadas e assim que abriu a porta do laboratório, desviou para a direita levemente e livrou-se de levar um pote de vidro no rosto.

-Ainda treinando arremesso, queridinha?

-Vita! Desculpa, não queria te machucar! Ainda to bem fraca controlando as coisas do ambiente. Que vergonha, já é o 10º jarro.

-Relaxa queridinha, eu adoro azeitonas! Sempre tenho potinhos novos pra mim. Mas... Preciso falar uma coisa séria com você.

-Assim você me dá medo. Fiz merda?

-Muita! Mas relaxa coração, vai ser tranquilo. Allura veio falar comigo sobre a sua kryptoniana de estimação. Ela não parece estar bem não.

-A Kara?

-É! Allura disse que ela passou mal, quase morreu, apanhou, sofreu e... Sofreu muito!

-COMO ASSIM, VITA? E AINDA DIZ QUE É TRANQUILO? EU PRECISO VOLTAR PRO CASTELO AGORA! – ela saiu correndo quase atropelando Vita que saiu do caminho meio confusa e arrependida.

-Acho que foi o jeito mais fácil de convencer ela de ir lá. Depois ela lida com as consequências. E eu também.

Lena corria o mais rápido que conseguia e como não moravam longe uma da outra, chegou bem rápido no castelo. Os guardas deixaram facilmente ela entrar, pois já era conhecida e de cara encontrou com Allura no salão principal, que se assustou com aquele desespero.

-Lena?

-Oi Allura! Cadê a Kara?

-Tá no quarto, no mesmo que costumavam ficar.

-Eu tô subindo tá? – ela gritou correndo em direção ao quarto.

-O que será que a Vita falou pra ela vir tão desesperada? Eu to até curiosa. – Allura riu sozinha, imaginando.

I'll be watching you (Supercorp)Onde histórias criam vida. Descubra agora