Toda a verdade

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Amanheceu e entardeceu em Argo, bem depois da hora do almoço, Lena foi a primeira a acordar depois de um sono pesado. Se espreguiçou, estalou alguns ossos e após um bocejo sentiu algo em sua barriga. Tocou e percebeu que era uma mão. Estranhou e quando olhou pra trás viu Kara dormindo como uma pedra. Arregalou os olhos e tampou a boca. Moveu os olhos de um lado para o outro, assustada e levantou o cobertor lentamente. Percebeu que estava nua e bateu a mão no rosto, desesperada.

-A gente não transou. – Kara balbuciou ainda de olhos fechados.

-Puta merda, que alívio. Transar contigo bêbada e não lembrar no dia seguinte seria uma tortura pra mim.

-Entendo.

-Então por que a gente tá pelada?

-Você não quis se vestir, não deixou eu me vestir, então só capotamos assim mesmo depois do banho.

-Banho?

-Sim, na banheira.

-Banheira? Juntas.

-Sim.

-Não rolou nem um beijo?

-Não.

-Eu sou um lixo. Maldita consciência. Segunda vez.

-Lena. Eu preciso respirar um tempo hoje. Conversar com minha mãe e tudo mais. Eu to muito perdida, tô muito confusa. Estou pra explodir e preciso conversar com alguém.

-Eu entendo. Vou pra casa da Vita. – ambas fizeram um intenso silêncio enquanto encaravam o teto lado a lado. – Eu vou te ver de novo?

-Lena. Eu nunca vou te abandonar.

-Obrigada, Kara. Eu acredito. Me perdoa te dar trabalho, por ter sido um problema...

-Você nunca dá trabalho. Você não é problema em hipótese nenhuma. Eu que sou. Mas vou resolver isso. Prometo.

-Tá bom. Eu vou te esperar de noite. No jantar. Pode ser?

-Pode. É tempo suficiente.

Aquela conversa estranha aconteceu. E realmente precisavam de um tempo sozinhas, sem a presença uma da outra. Certeza que aquilo daria uma nova perspectiva para ambas, mas ainda assim era difícil de passar um tempo sem tais presenças. Kara de fato foi atrás da mãe e logo obteve algumas respostas das quais precisava.

-Kara! Acordou, enfim. Dormiu bem, Lena está bem?

-Oi mãe. Dormi bem e a Lee também tá ótima.

-"Lee", né...

-É, mãe... Eu...

-Filha. Eu quis perguntar isso desde o primeiro dia em que apareceram aqui no planeta. Me perdoa se eu for muito invasiva, se isso fizer você se sentir desconfortável, mas preciso saber depois da última noite... Você e a Lena... São namoradas?

-Não. – Kara disse de prontidão e manteve o silêncio.

-Ah. Desculpa por perguntar isso.

-Mas mãe... Eu sei que a gente parece bem mais, só que... Aff. – Kara bufou. – Nossa relação é muito complicada.

-Minha filha, qualquer coisa que você quiser me contar, pode contar. Desabafa, abre logo o jogo pra mim, já tá na cara que quer discutir algo do tipo.

-Mãe, eu peço perdão. – ambas fecharam os olhos. – Eu nunca tive a intenção de cometer tal pecado. Eu sei que Rao diz que é errado, mas é inevitável! Eu simplesmente não consigo ser indiferente ou só amiga da Lena. Ela me atrai em todos os sentidos, eu não consigo ficar sem ela e quando passo algum tempo sem tocá-la... É quase como morte pra mim. Eu a amo, eu amo uma mulher como deveria amar um homem. Tá cada vez mais difícil de evitar, negar ou algo do tipo.

I'll be watching you (Supercorp)Onde histórias criam vida. Descubra agora