01| Simpatia pelo velho diabo veste Prada

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Catherine

Ouço o despertador tocar e me viro para ver a hora, resmungando aperto o botão soneca e fecho os olhos novamente. Quando ele volta a tocar rolo para fora da cama, mesmo que isso seja a ultima coisa que eu queira. Sonolenta vou até o banheiro para tomar um banho revigorante, na esperança de aquilo ira me ajudar a despertar. Estou horrível, percebo isso pelo meu reflexo. O cabelo está mais para uma juba e estou com olheiras tão profundas que parece que nem dormi,e não dormi mesmo. Fiquei o tempo todo sendo atormentada pelas coisas que tenho para fazer. Anna Wintour sabe como ninguém tirar o sono de alguém.

As pessoas adoram me dizer quanto sou sortuda; por ser uma estrangeira com uma posição tão alta na revista mais importante no mundo da moda. Eu sei que é uma honra. Uma honra terrível, da qual acho que nunca serei digna, mas que batalhei muito para conseguir. Então nunca foi sorte. Eu sou editora de moda da Vogue porque eu batalhei, então muitos estão enganados a meu respeito. Eu nunca me contentei com a posição de estagiaria. Eu queria vencer. Nunca desejei ser igual a ninguém. No fundo do meu coração, eu sempre desejava ser melhor.

Solto um resmungo enquanto saio do chuveiro quente para o ar gélido. Os lençóis de chuva caíam ao lado de minha janela, frios e implacáveis, o vento lançando-os em todas as direções. Guarda-chuva, capa e galochas eram praticamente inúteis. Corro para a varanda, para espiar melhor o clima. Os 40 centímetros de neve que haviam se depositado sobre Nova York como um cobertor já estavam começando a parecer com uma sujeira cinza lamacenta, e foi nesta manhã que desejei pela milésima vez morar em qualquer lugar menos aqui.

Do banheiro vou até meu closet e desabo na poltrona, ainda mais irritada pelo clima. Que porcaria eu vou usar? Esta era a pergunta que sempre me perturbava. Mesmo que eu estivesse em um dia ruim ou se o clima estivesse péssimo eu nunca, repito, nunca, poderia simplesmente decidir usar um par de galochas de plástico com moletom e um belo casaco impermeável. Regra número um de trabalhar na Vogue, sempre esteja impecável.

Finalmente pronta, me olho e vejo do que gosto, me sinto forte para mais um dia de trabalho naquele lugar que não me decidi se considero o céu ou o inferno, depende muito do dia.

Meu guarda-chuva Burberry de 200 dólares tinha se recusado a abrir e finalmente quebrara sob a força que eu havia feito; o casaco midi transpassado e aveludado se ajustava maravilhosamente em volta de meu corpo, mas não ajudava em nada a deter o frio de congelar os ossos; nem mesmo meu Trench coat da Balmain estava segurando a barra. E os sapatos novinhos da Muaddi me alegravam com sua cor neon, mas deixavam a maior parte do pé exposto. Até a calça capri fazia minhas pernas parecerem nuas, o couro tão inútil diante do forte vento quanto um par de meias de seda.

Um táxi surgiu como se tivesse lido meus pensamentos. Levando-se em conta o tamanho dos meus saltos, fiz um ótimo progresso ao conseguir saltar da poça de água e entrar no carro. O motorista olhou para mim com simpatia e fez um comentário solidário sobre a dificuldade do clima, mas eu não estava a fim de muita conversa.

— Sim, o clima daqui quase nunca é agradável. Ao edifício da Cond-nést, por favor  — eu disse com um longo suspiro, e o motorista deu a volta na quadra e seguiu em direção à Park Avenue. Como eu fazia esse caminho todo dia, às vezes cinco vezes por dia, sabia que tinha exatamente vinte minutos para respirar, me recompor.

Ao chegar na redação da Vogue me deparo com a fila de pernas compridas, tipo angels, esperando os elevadores. Seus lábios não paravam de se mexer, ah tagarelice. O único som que se ouvia vindo de mim era somente o dos saltos finos batendo no chão, com irritação.

— Bom dia Catherine — Me deseja Andy, sendo seguida pelas outras

Eu me permiti relaxar por um ou dois segundos durante essa viagem. Perfumes fortes e doces, misturados com o cheiro de couro novo transformavam esses elevadores de meramente funcionais em quase eróticos. As portas abriram silenciosamente para as áreas impecavelmente brancas da recepção. Móveis chiques, de linhas simples e limpas preenchiam a sala. O nome da revista estava em negrito em uma das grandes portas de vidro, com sua tipologia forte e cheia de estilo.

Ever since Veneza | H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora