39 | Ruína e solidão

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Oito meses depois14 de julho de 2018

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Oito meses depois
14 de julho de 2018

Harry

Não me lembrava de seus nomes, mas eram bonitas e simpáticas e estavam dispostas a me fazer companhia naquela noite. Duas mulheres, rindo sabe-se lá do quê, enquanto uma acariciava a minha perna, a outra me dizia que queria uma bebida.

Respirei fundo, um pouco confuso. Não sei exatamente o que eu tinha tomado naquela noite. Não tinha certeza. Mas eu via tudo... desfocado. Tirei a carteira do bolso e deixei algumas notas em cima da mesa. Não contei quanto era. Eu já ia fechá-la quando percebi a borda de uma foto saltando um pouco para fora.

Peguei-a. Tentei focar. Tentei... me concentrar naquele momento. No rosto de Catherine sorrindo para mim. No sorriso deslumbrante dela. Tão lindo. O sorriso mais lindo do mundo. Eu ainda lembrava exatamente como era beijá-la, como era o cheiro dela. Catherine tinha me deixado no dia um de novembro de 2017 e as lembranças ainda estavam vivas. Latejando dentro de mim.

Guardei a fotografia de novo na carteira ao sentir aqueles lábios desconhecidos no meu pescoço, subindo devagar pela mandíbula, chocando-se com a minha boca em um beijo sedutor que tinha gosto de gin. E então me deixei levar, como costumava fazer o tempo todo. Sobretudo desde que tudo aconteceu.

Palavras. Momentos. Duas coisas capazes de mudar tudo. Porque existem momentos e palavras ouvidas que deveriam desaparecer. Do tipo que você se arrepende tanto, que deseja viajar no tempo e mudá-los; apagar os olhares cheios de amor, afogar as palavras que perfuram, que fazem buracos, que te arrancam o coração.

Se os sentimentos que Catherine despertou em mim tivessem sido mais amenos, talvez eu pudesse tê-los evitado, eu poderia ter tentado frear aquilo antes de acontecer, manter uma barreira sólida e segura. Mas não, porque foi como um furacão que chega e atropela tudo.

Como algo que está adormecido há muito tempo e que desperta de repente. Como a maçã que dizem que você não pode provar, mas ela é brilhante, tentadora e perfeita.

Se eu não a amasse tanto, talvez agora tudo fosse diferente. Talvez agora eu não estivesse me sentindo sufocado, destruído. Me afogando em qualquer emoção barata que eu pudesse ter, ou comprar.

Me assusta perceber que a linha entre o ódio e o amor era tão frágil e tênue, ao ponto de ir de um extremo a outro em um instante. Eu ainda amava... eu a amava do fundo da alma, com os olhos, com o coração; o meu corpo inteiro reagia a mera lembrança dela. Mas outra parte de mim também a odiava. Eu a odiava pelas lembranças, pelas palavras ditas, pelo ressentimento e pelo perdão que eu não era capaz de dar a ela de peito aberto, por mais que eu quisesse.

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