18 | As coisas são assim agora

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Dois meses depois

Harry

Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo comigo. Não podia.

Camille inclinou-se sobre o meu corpo e me deu um abraço. Fiquei rígido com o seu toque. Ela recuou e seus olhos se arregalaram de choque, como se de repente entendesse que eu não estava gostando de sua presença.

Por favor, me deixe em paz. Era a única coisa que eu conseguia pensar.

Olhei para algum ponto além, porque não queria explodir com ela. Não havia razão para ela me tocar novamente.

Com o rosto confuso, ela disse meu nome com um tom de pergunta clara.

— Harry...?

— Com licença... — Minha voz era áspera e dura, mas pelo menos eu ainda consegui ser educado. Mas não seria se ela continuasse se aproximando de mim com tanta indiferença, como se nada daquilo me incomodasse nem um pouco.

Ela agarrou meu braço antes que eu pudesse sair.

Pare de me tocar. Pare de me tocar. Minha mente repetia.

—  Espera... Fala comigo, por favor... — Apertei os olhos com força ao fitá-la.

Camille deveria parar de fingir que se importava. Eu via que ela não dava a mínima.

— Não há nada a dizer — Coisa alguma que mudaria isso, essa situação. Mas de qualquer modo eu tinha muitas coisas para dizer. Balançando a cabeça antes de explodir, quase mordi as palavras — Tenho que ir.

— Ir? — reagiu ela. Parecia confusa e desalentada. Aquilo era realmente tão incompreensível para ela?

Você... Me... Matou. Eu tinha vontade de gritar isso a ela. Quem sabe assim ela entendesse.

— Tenho que ir pegar meu carro.

Tenho uma vida sem você. Você não é o meu mundo inteiro. Droga! Será que ela não podia ver o quanto me machucava? O quanto toda essa situação machucava?

— Harry...

Havia algo em sua voz que me fez olhar para ela na sala de estar. Quase suspirei, sem forças. Queria lhe implorar que me deixasse, lhe dizer para acabar com tudo aquilo, que tudo que ela fazia só estava servindo para me magoar, mas eu não podia.

Sem erguer os olhos, ela murmurou:

— Eu lamento, sinceramente — Ela levantou os olhos por um instante na minha direção.

— Está tudo bem, Camille.

Olhamos um para o outro por longos e silenciosos segundos. Eu queria que as coisas fossem diferentes. Desejava que nosso tempo juntos tivesse sido diferente. Depois de mais um segundo de silêncio, Camille se inclinou e beijou meu rosto. Isso queimou tanto que eu senti como se ela tivesse me cortado.

Ela não tinha o direito de me tocar. Não deveria me tocar.

A raiva parecia minha melhor opção. Quando eu estava revoltado com ela, a dor não parecia tão grande. Eu iria afastá-la para longe de mim sempre que estivéssemos juntos. Iria obrigá-la a se manter distante de mim.

Ever since Veneza | H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora