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   Minha cabeça estava doendo, mesmo depois de ter saído do castelo e pego o caminho do bosque, tudo girava de um modo que me incomodava.

   Havia feito uma besteira enorme! Apesar do rei ter merecido o tapa ou tudo que disse, ele ainda era autoridade e eu um mero filho do guarda. Eu teria problemas, mas não me arrependo do que fiz. O bosque era um caminho alternativo para a casa da minha família, quando queríamos ir passeando ou apenas caminhar entre as árvores, sem passar na rua do vilarejo. Mas o caminho que fazia era um pouco diferente, ao invés de continuar para casa, virei em direção ao riacho que fazia divisa com o reino de Marvin.

   O rei Jeon pai era um bom governante de nosso reino, lembro de ter tido uma infância boa graças a ele e seu esposo. Ainda me assustava saber que um rei maravilhoso e que se preocupa com seu povo, teve um filho como o Jungkook.

   Os bons momentos nesse reino haviam ficado em lembrança, minhas avós diziam que quando o rei e a rainha de Sílvia ainda estavam vivos, aqui era o melhor lugar para se viver, e eu acreditava nisso. Pena que a cada dia a nossa situação vem como um barranco em um dia de chuva, aos poucos desmoronando e levando o que possui no caminho. Até mesmo as pessoas com boas condições de vida já não estão bem financeiramente.

   Tirei minhas botas e as coloquei ao meu lado, sentando ali na beirada e deixando meus pés entrando em contato com a água, me recordava que a poucos metros dali e próximo a um moinho, havia sido criado uma espécie de memorial para os antigos reis. Acreditava que haviam sido enterrados no local também. Minha curiosidade falou mais alto e me levantei, apenas segurando minhas botas e caminhando descalço alguns metros, gostaria de saber como estavam, não ia ao local desde criança. Era meu esconderijo no pique-esconde, Taehyung e Yoongi tinham medo de assombrações, então não chegavam perto das lápides.

   Quando me aproximei do moinho, meu sorriso nostálgico deu lugar a uma feição triste e de pena. O lugar havia sido esquecido. O mato estava alto e cheio de ervas daninhas, o memorial nas lapides que contava com dois lobos em mármore ainda estava lá, mas encardido e repleto de musgo. Poucas flores plantadas em volta como um jardim ainda permaneciam.

"Aqui não tinha esse ar melancólico" – Calysto resmungou e eu assenti. "Lembro de ter um monte de tralhas no moinho, poderíamos dar um jeitinho né?"

- Tem razão.... o rei e a rainha Park devem estar se sentindo solitários. Vamos cuidar disso!

   Já escutei muitas vezes meu pai dizer que eu tinha um coração bondoso demais, e que um dia me machucaria tentando ajudar a todos ao mesmo tempo, que poderia ficar doente pelo excesso de trabalho. Mas eu não conseguia ficar parado, Calysto apoiava minhas decisões então eu continuava. Se as pessoas se aproveitavam da minha ajuda, era problema delas, eu pelo menos, sempre dormi com minha consciência tranquila.

   Como nesse momento me partia o coração ver um memorial de pessoas que fizeram tanto pelo povo, ser simplesmente esquecido. Era como se todos os moradores tivessem ignorado ou desistido, fingindo que as lembranças de tempos bons caírem em esquecimento. Então aquele seria meu projeto do dia, trazer um pouquinho de alegria para os dois, tive sorte de realmente ter algumas coisas velhas no moinho que vivia aberto. Consegui um balde sem alça, uma pá enferrujada, uma vassoura com cabo quebrado, uma bucha encardida e até uma escova de roupas – era a que estava com uma melhor aparência.

   Foi um ciclo, pegava água no riacho, jogava no cimentado e esfregava, fiz o mesmo processo com as lapides e os lobos em mármore. Já era possível ver as coisas escritas ali na frente: Park Ji-hoon, nascido em 04 de agosto de 1957, "Rei dos anos dourados, amado por seu povo e esposa". Park Harumi, nascida em 12 de maio de 1971, "Uma flor que jamais irá murchar, esposa e mãe amada".

A Lenda do Lobo DouradoOnde histórias criam vida. Descubra agora