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   Fome, frio e sede...

   Eu sinceramente não esperava sentir um dia tudo isso de uma vez só. Era doloroso.

   Não possuía mais a minha roupa cerimonial.... bom, ainda a usava, mas depois de tanto ser arrastado, empurrado e jogado na lama no caminho para essa fazenda. Só sobrou trapos, nem mesmo a coroa que tanto me vangloriava estava sob minha cabeça.

   Eu não passava de um escravo sujo e com fome.

   Já havia perdido as contas de quantos dias havia passado. As coisas se seguiram de forma apressada depois que fui capturado. Apenas me lembro de ser jogado no chão e o pequeno Kim também. Sabia que no momento ele estava bem e desfrutando de um castelo, já que seu pai pegou meu trono, mas havia algo em seu olhar naquele dia que eu sinto... tenho esperanças de que ele não se sente tão realizado assim.

   A fazenda em que estou é a terceira para qual fui mandado, a primeira tentei resistir e acabei tendo problemas, meu lobo se enfureceu e destruímos metade do plantio de uvas do reino. Amo vinho, mas se eu soubesse que para ele ser colocado nos barris tinham que pisoteá-lo, nunca teria tomado a primeira taça quando mais novo. Depois de ter sido castigado, parei em uma plantação de café. Os betas que trabalhavam fizeram uma rebelião e eu virei o saco de pancadas deles, era responsável até por empurrar a carroça com os sacos de café para serem moídos. Mas não acharam que estava sendo o suficiente, e queriam me humilhar mais.

   Agora estou em uma plantação de arroz, os trabalhadores são um pouco mais simpáticos, porém bastante fechados e medrosos. Mas um já resmungou para mim "não o trato mal, porque se voltar a ser rei, serei o primeiro a ser punido!", apesar de tudo tinham a disposição de me ensinar o que fazer, não apenas mandar em mim. Mas ainda trabalhava o dobro deles, diferente dos outros trabalhadores que voltavam para casa à noite, eu precisava fazer buracos na terra e encher de água, para depois dormir em uma baia cheia de feno – era o meu cobertor noturno. A comida? Bom... acredito que animais tinham mais privilégios que eu no momento, eles pelo menos possuem um prato, eu comia numa espécie de pote que encontrei para não deixar mais no chão, porém ainda precisava usar as mãos para me alimentar.

"Senhor... eu não sei se posso me segurar por mais uns dias".

   Me joguei entre o feno e respirei fundo, o tempo estava frio, mas eu estava hiperventilando, sentia calor e estava um pouco aéreo.

- Não tenho condições de suportar um cio no momento Aslam. Devo lembrá-lo que somos escravos e sem moedas, ou seja, não temos como pagar ninguém, e depois do que escutamos nos últimos dias, com essa convivência.... não ficariam de graça. Seremos humilhados mais ainda...

"Tem medo de que possamos atacar um dos outros trabalhadores?"

- Eu não acredito nisso, não atacamos nem quando estamos saudáveis, imagine nesse estado debilitado? Caramba... estou sentindo minhas costelas e não faz tanto tempo assim que estamos fora do castelo – resmunguei – mas já era complicado nos envolvermos dentro e fora do cio, por conta da sua falta de vontade, imagine sair desse monte de feno e tentar alguma coisa.

"Por mais que não façamos nada, já deveria ter me deixado livre.... um dia após a cerimônia, lembra?" resmungou de forma cansada "é difícil controlar as sensações, mas eu sei que não estamos em condições de nos satisfazermos. Vou tentar me segurar o máximo que conseguir."

- Acho que devo um obrigado, sei que não é fácil controlar os instintos – ajeitei os trapos que agora chamava de roupa – se pelo menos estivéssemos nos alimentando na quantidade ideal para nossa raça... essa sensação seria melhor. Aslam, hipoteticamente falando, o que vai acontecer se eu ficar fraco demais e você assumir?

A Lenda do Lobo DouradoOnde histórias criam vida. Descubra agora