Capítulo 14 - Vislumbres

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O tempo há de passar mais rápido quando estamos entretidos. E assim foi o último mês de outono. Que, para o frio da época, até que foram tempos bem calorosos.

Minha rotina mudou drasticamente quando comecei a passar mais tempo no apartamento de Evan do que no meu. E em algum momento, nos víamos todos os dias sem falta, nem que fosse por pouco tempo, caso eu não pudesse passar a noite com ele.

Evan me levava para jantar com sua família às vezes, e eu fiz o mesmo, levando-o para casa dos meus pais, para que eles fossem se acostumando a ideia de que Evan estava de volta à minha vida, e que agora era pra valer.

Conheci seus amigos, já que seu círculo social mudou, e, eventualmente saíamos junto com Victoria e Joe, que eram os meus melhores amigos.

A cada dia que passava eu descobria mais um pouco dele, mais um pouco do que já não me lembrava, ou até mesmo, realmente não conhecia. Evan estava totalmente diferente do cara que eu conheci há anos atrás, e vê-lo mais maduro, compreensivo, calmo, tranquilo... Aqueceu meu coração depressa.

Estar com Evan fazia com que eu me sentisse automaticamente feliz e disposta à qualquer coisa, como se meus dias fossem melhores, como se a vida fosse mais colorida, como se a vida fosse genuinamente alegre com ele.

Fiz questão de lhe dizer tudo o que eu sentia, o tempo todo. Porque percebi que ao contrário do passado, ele estava mais aberto à expressar sentimentos, e à demonstrar eles, falar sobre eles comigo. O que para mim, uma romântica melodramática, era o melhor dos mundos.

Percebi que algumas coisas em mim mudaram; diminuí o volume de álcool, e na verdade, no mês inteiro, não fiquei bêbada nenhuma vez, o que era algo realmente raro. Também, não fiz uso de nenhuma medicação mais pesada ou droga. Foi um mês limpo, e mais frenético do que todos os outros dos quais eu estava usando tudo quanto é tipo de coisa.

Em compensação, a minha dose de serotonina, dopamina e adrenalina era reposta quase que diariamente em meio à orgasmos calorosos e fortes o suficientes para me deixarem relaxada e feliz. O tanto que transamos em um mês não tava escrito... Nunca havia transado tanto com alguém em tão pouco tempo. Mas era assim, tinha um fogo descomunal entre nós, e toda hora era hora, todo lugar era o lugar.

A vida realmente deu um salto depois que voltamos. Evan me tirava gargalhadas verdadeiras, sorrisos sinceros, e sensações genuinamente boas. O meu peito nunca mais ficou ansioso ao seu lado, do contrário, se acalmou em um tanto que pensei não fosse mais possível.

Por muito tempo pensei que a felicidade era um barco que remava contra mim o tempo todo. Me acostumei a ser perseguida pelos males dos problemas da minha cabeça, por todas as paranoias, todos os medos, traumas, surtos, ataques, acessos e também pela inércia dos remédios, que me tiravam a capacidade de sentir direito as coisas. Sempre numa constante exacerbadamente ruim.

Mas, de repente, me pegava despertando pela manhã e tendo como minha primeira visão, o rosto corado de Evan, com as cobertas cobrindo até sua boca, seu narizinho vermelho, os olhos fechados, os cabelos bagunçados e amassados pelo travesseiro... Meu peito se aquecia, eu sorria sozinha, acariciava sua bochecha quente, e me deparava com a sensação verdadeira de felicidade.

O único lado bom de ter me acostumado com a negatividade, era que o bom ficava simplesmente incrível.

Quando o inverno chegou, Evan e eu estávamos tão apaixonados que parecia ser palpável a energia entre nós.

No natal, o levei para uma festa junto com a minha família, e foi simplesmente incrível. Evan conseguiu reconquistar meus pais, e vê-lo dando risada com meu pai na mesa do jantar, não teve preço para mim.

O ano acabou e já estávamos há dois meses juntos. Mas para mim, todo dia era a mesma sensação; a de que a felicidade pra mim tinha um nome e um sobrenome, era Evan Peters, tinha um perfume doce e um beijo suave, um abraço forte e uma capacidade de acalmar a minha alma, de maneiras que eu pensei nem serem possíveis.

Como já havia mencionado, Evan foi um evento na minha vida. E ele continuava sendo, e talvez sempre seria.

Não era do tipo que acreditava que existia um destino, e que estávamos destinados a conhecermos uma pessoa que seria nossa alma gêmea, de sempre pra sempre. Porém, Evan me fazia acreditar que era sim sobre destino, e que ele era minha alma gêmea, estávamos destinados a ficar juntos.

Meu amor por ele era intenso ao nível Romeu e Julieta. Eu com certeza mataria e morreria por ele.

No feriado de ano novo, Evan e eu fomos viajar para o litoral, no calor, junto com Victoria e Joe. E enquanto víamos os fogos colorindo o céu, pedi à qualquer deus que me escutasse, que nunca deixasse com que ele fosse pra longe de mim. Esse era o meu maior desejo. Mas com a força que eu pedi, se assemelhou à uma súplica.

E o olhei nos olhos quando ele me abraçou e disse: — Não sei nem o que desejar... A coisa que eu mais queria nessa vida já é minha. E ainda bem que é minha.

E a vida era assim. A vida era sobre isso.

Era sobre manhãs chuvosas ao lado dele, manhãs quentes ao lado dele, manhãs geladas ao lado dele. Era sobre as noites estreladas em que passamos a madrugada na sacada conversando, era sobre os seus beijos na minha pele desnuda, sobre seus toques nos meus cabelos, sobre o seu cuidado comigo.

Era sobre os filmes de terror que víamos, sobre as músicas que dançávamos na sala, sobre os pratos que ele cozinhava pra mim, sobre o tanto que ele me elogiava, e o tanto que eu me declarava diariamente pra ele. Era sobre abraços apertados, sobre me deitar no seu peito, escutar seu coração batendo e sabendo que era tudo realidade. Era sobre cada beijo na testa que ele me deu, cada flor arrancada de canteiro que ele me trouxe, cada poesia que eu lhe dediquei, e cada dose de amor que lhe dava.

Com nossas mãos entrelaçadas, era como se o mundo fosse muito melhor, como se meus olhos estivessem enxergando pela primeira vez, e como se enfim, a nossa sinfonia estivesse completa, tocando harmoniosamente Clair de Lune, em uma noite de luar, enquanto valsávamos sob as estrelas.

E foi esse copo cheio de felicidade, essa dose de sentimentos, somado à todas as minhas pequenas mortes de amor que me fizeram tomar uma decisão drástica, que eu pensei que fizesse sentido, e fosse a mais correta.

O amor é isso. O amor vicia, e nenhum vício é saudável. Eu sabia disso e tentei fugir, mas em algum momento pisei em falso e me afundei nas profundezas dos meus sentimentos. E pra mim, não havia nada mais perigoso do que me deixar afogar em mim mesma. Não tinha nada mais perigoso do que amar alguém com tanta força, como eu amava Evan.

Quando voltamos de viagem, o meu apartamento, sozinha, fui tomar minha dose diária de remédios, pela manhã... E antes de colocar o lítio na boca, me deparei, que nunca estive mais feliz do que estava.

Qual era o sentido de tratar uma coisa que já não me atacava mais?

Guardei o lítio, guardei o regulador de humor, o ansiolítico e todos os outros. Guardei a minha caixa na gaveta, junto com as receitas. Fechei a gaveta, e suspirei vitoriosa quando terminei.

Com uma nuvem ilusória na minha cabeça que erroneamente pensava que, sim, o amor curava tudo.

Mas amor não cura uma mente insana.

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Notas do autor:

A partir de agr começa um mini surto coletivo 

🎼A SINFONIA DO FIM🎼 Evan PetersOnde histórias criam vida. Descubra agora