Capítulo 42 - O certo a se fazer

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— Acho que eu nunca li o texto que a Victoria citou. — disse Evan, quando estávamos só nós na mesa, pois era tarde, e naquele momento, todos estavam bêbados dançando músicas velhas na pista. Minha mãe e Alice estavam se divertindo no meio da pista.

— É, que bom. — disse, rindo e bebendo um gole de champanhe. — Você ler as minhas coisas nunca resultou em coisa boa.

Ele gargalhou. — Não vejo assim. — ele sorriu. — Tudo é um efeito borboleta, Liz... Se não fosse pelo seu livro, talvez não estivéssemos aqui. Nem nós, nem a Alice.

O olhei nos olhos, era a primeira vez em anos que falávamos sobre nós e sobre o passado.

— Acho que tudo aconteceu como deveria ser. — ele disse. — Ao menos uma vez na vida, a gente se permitiu morrer de amor, eu acho... Né?

Sorri lentamente enquanto o olhava. Não tinha muito a dizer, apenas lhe olhei nos olhos. Era bom ver que ele não tinha maiores mágoas comigo. Era bom saber que ele ainda pensava sobre isso, e talvez ainda pensasse sobre nós, sobre a possibilidade de um futuro.

— Algumas vezes. — corrigi, levando minha mão até a sua e acariciando-a. — E eu concordo que valeu a pena. Tudo valeu a pena, no fim.

A festa acabou tarde. Alice estava dormindo em duas cadeiras, e na verdade, eu demorei meia hora para achá-la, a esqueci com a minha mãe, e minha mãe bebeu demais e esqueceu onde ela estava. E por que ela estava dormindo em duas cadeiras embaixo de uma toalha de mesa? Sei lá.

No fim, Evan dirigiu, e minha mãe estava rindo que nem uma doida, plenas 4h da manhã. Então, a levei para minha casa. Também, porque não quis abusar, já que ela morava longe.

— Vê como as coisas mudam. Agora você que vai ter que aturar sua mãe bêbada, e não o contrário. — Evan disse, enquanto eu tirava o cinto, e minha mãe já tinha pulado do carro, e estava falando que conseguia ver a constelação da ursa maior (não conseguia não).

— É pois é. E eu achei que ia beber muito hoje. Mas não aconteceu. — suspirei. — Da próxima eu vou encher a cara e você que lute.

— Anotado! — exclamou ele, antes de se despedir e eu sair do carro.

Coloquei Alice para dormir, e desci para a sala. Minha mãe estava na varanda, fui até ela e acendi um dos seus cigarros, me sentando ao seu lado.

— O que pensa? — indaguei, vendo que ela estava distante.

— Me lembrei de quando eu me casei com o seu pai. — ela disse. — Aquele brilho no olhar, a certeza do futuro... É uma coisa bonita de se ver.

— Você tinha certeza do futuro quando se casou com o meu pai? — indaguei, confusa... Já que eles não estavam juntos há eras.

— Sempre tive certeza. No fundo, sempre tive. Mas só me dei conta depois que acabou, depois que o tempo passou. — ela riu. — Nunca ninguém foi como ele. Não era como era com ele...

Assenti com a cabeça, surpresa de ouvir aquilo. Sabia que eles eram bons amigos, mas, minha mãe não era boa com relacionamentos.

— E eu acho que você entende bem o que eu estou dizendo, né? — indagou ela, tragando o cigarro e me fazendo olha-la confusa. — Vi o jeito que você olhou para ele quando a Victoria estava fazendo seu discurso.

Ri sozinha, desviando o olhar.

— E eu vejo quando vocês estão juntos. — ela disse. — Vejo como ele te olha... E dá pra ver. Vocês dois sabem. Só sabem. Não é?

— Não sei, mãe. — disse. — Não sei se eu sei, e se ele sabe.

— Eu acho que sabem. — ela riu. — Você sabe que nada nunca vai ser como ele, e vice e versa. Por que acha que nenhum de vocês conseguiu se envolver com outra pessoa? Não é porque a vida não permite. Você nem sequer quer e está aberta para outra pessoa, e ele não deu certo com ninguém que tentou. Porque no fundo um espera pelo outro.

— Será, mãe? — indaguei. — Será que ele espera por mim?

— Eu tenho certeza. — ela disse, apagando o cigarro. — A pergunta é; você ainda espera por ele?

Suspirei, tão lentamente, que doeu meu peito.

— É que a gente se destrói quando tá junto. Eu não sei por quê. — lamentei. — É tudo sempre intenso, mas é violento, é tóxico, é nocivo... É...

— Uma bomba atômica. — ela completou. — É. Pois é. É a vida. — disse, acendendo outro cigarro. — Foi assim uma vez, mas não quer dizer que vai ser sempre assim, entende?

— Você acha que poderia ser diferente?

— Vocês são pais agora. Começa por aí. — disse ela. — E vocês são pais ótimos. Vocês estão fazendo um trabalho e tanto na criação da Alice, é só ver como ela é inteligente, como ela tá se desenvolvendo rápido... Ela se destaca, ela é esperta, é rápida... Isso é muito graças à criação ótima que vocês estão dando à ela.

— Mas já éramos pais quando terminamos.

— Sim, enquanto você estava no puerpério, e tudo estava uma bagunça ainda. — ela disse. — A sua gravidez foi uma bagunça para os dois, não foi planejada, não estavam bem um com o outro e nem consigo mesmos... Era muita esperança achar que acabaria bem.

A escutava com atenção, surpresa por saber que ela, de fora, via dessa forma. Via como era.

— O tempo passou, Elizabeth. E vocês dois são pessoas totalmente diferentes. Vocês não são mais aqueles dois malucos surtados que viviam terminando e voltando, e terminando, e voltando, e terminando e voltando... — ela riu. — E você não é e nem nunca foi o problema que sempre pensou que fosse. É triste que você precisou ter um filho pra se dar conta da pessoa importante e necessária que você é. E que precisou ter um filho para aprender a se amar de verdade. Mas eu fico feliz que isso aconteceu. E é nítido. O seu sorriso, a sua paz... Você aprendeu a amar quem você é. E eu te digo, filha... É impossível amar alguém se você não ama a você mesma.

Sorri escutando-a, enquanto meu cigarro foi se dissipando na minha mão.

— Eu aposto que você não vai mais aceitar coisas que já aceitou. Eu aposto que você hoje, é completamente capaz de tomar as melhores decisões. Eu aposto em você. Sempre apostei, mas hoje, quando eu olho para a minha neta, olho para você... A minha maior felicidade é ver que você finalmente também apostou em você.

Uma lágrima desceu do meu olho, enquanto eu me aproximei dela e deitei no seu ombro.

— Será que ainda dá tempo de tentar de novo?

— Eu acho que nem uma década para frente vai deixar de ser um tempo hábil para tentar de novo. Acho que ele sempre vai esperar por você. — ela disse. — Mas eu não esperaria uma década... O tempo corre. E depois que ele se for, você vai sentir falta de não ter feito o que tinha vontade.

Suspirei.

— Quer saber? É verdade...

Eram 6h da manhã, e eu, estava dentro do meu carro, respirando fundo para tentar acalmar meu coração, que estava tão acelerado que parecia que eu ia ter um infarto a qualquer momento.

Não me sentia tão ansiosa desde o dia em que Alice teve uma crise de asma, minhas mãos tremiam e parecia que tudo estava fora do meu controle.

Mas, estava me sentindo uma adolescente, estava me sentindo como se estivesse correndo até a linha de chegada, desesperada, ansiosa, nervosa, com medo... Mas com uma certeza e confiança duvidosa. E dessa vez, não era um surto.

Eu andava bem sã ultimamente. E acho que essa foi uma das coisas mais sãs que eu fiz. Uma das decisões mais coerentes. Me permitir ter tirado um bom tempo para me curar, para conseguir me estabilizar, e só então poder agir com a cabeça e não com o coração... Essa foi a minha maior prova de sanidade.

Dessa vez não era impulso, não era uma fase de mania, não era loucura... Era o certo a se fazer. Era o melhor a se fazer.

🎼A SINFONIA DO FIM🎼 Evan PetersOnde histórias criam vida. Descubra agora