Recebi alta do hospital, e enfim sabia que o pior se aproximava.
Enquanto Evan dirigia o meu carro, olhando atentamente para frente, como se não conseguisse olhar para mim, eu só conseguia pensar no quanto ele ficaria infeliz de saber que seria pai de uma criança gerada por mim.
O olhei e pensei: e se eu abortasse? Porém... Eu não tinha coragem.
Meu coração se acelerava toda vez que eu me lembrava que estava grávida. Aquela notícia ainda não tinha sido digerida, e nada fazia sentido. Era como se tudo fosse um sonho, tudo falso, e em algum momento eu fosse acordar.
Assim que chegamos no seu apartamento, encontrei uma mala pronta na sala de estar. Meu peito doeu, senti a dor física me congelar por inteiro, mas sabia que era o certo a se fazer.
— Elizabeth... — ele respirou fundo, sentando-se no sofá. — Senta aí um pouco... Vamos conversar...
Naquele momento, eu o olhei, olhei para a poltrona, olhei para minha mala. E sabia que eu não era capaz de encará-lo naquele momento. Meu coração se acelerava de pensar em lhe contar sobre a gravidez, justo quando ele estava pronto para terminar tudo.
— Tá tudo bem, Evan. — disse, ouvindo minha própria voz trêmula pelo meu nervosismo. — Eu sei que passei dos limites, dessa vez.
— Senta, vamos conversar direito...
— Não, eu... — caminhei até minha mala. — Eu sei o que você vai me dizer, sei exatamente qual vai ser o discurso, e já estou te respondendo... Tá tudo bem. Eu sei que dessa vez fui longe demais e...
— Você quase morreu... — ele disse, olhando para o chão.
— É... — suspirei, segurando o choro com muita força. — Mas eu... Você precisa saber que isso é totalmente culpa minha. Não é sobre nós, ou sobre você... É só sobre mim.
— Foi depois das coisas horríveis que eu te falei. — ele disse, ainda olhando para o chão.
— Que você falou depois de todo o caos entre nós. Caos esse, que eu causei. — completei. — Tá tudo bem. Eu sinto muito por tudo o que te fiz passar... — parei para respirar e engolir mais uma vez o choro. — Não vou mais estragar as coisas. Não posso mais.
Evan enfim me olhou. — Por que você parece muito mais racional agora? — perguntou. — Parece que de repente você voltou a ser quem era. Como um estalo...
— Algo me deu um estalo muito forte. — disse, me referindo, obviamente, à gravidez. E foi naquele momento que pensei em lhe contar. Porém, olhei ao redor, vi seu rosto, prestes a chorar, pensei no quanto o fiz mal. E simplesmente... Não consegui. — Essa overdose... Me fez perceber o quanto estou sendo imprudente com minha vida, e o quanto estou sendo irresponsável e injusta com você.
Evan se levantou, vindo até mim. — Seus olhos são seus olhos de novo. — ele disse. — Às vezes parece que você não é você
— E às vezes é como se não fosse. — disse, respirando fundo e desviando o olhar. — Bom, Evan... Então é isso...
— Acho que sim... — ele disse, colocando as mãos nos bolsos. — Quero que saiba que eu realmente amei... Que eu amo, você. — desabafou, como se fosse difícil dizer aquelas palavras à mim, e eu compreendia. — Mas...
— Amor não é suficiente. — completei. — Tá tudo bem... Eu também amo você.
— Não queria que fosse assim... — dizia ele, parecendo segurar o choro tanto quanto eu. — De verdade, eu...
— Mas foi assim. — disse. — Sinto muito também por tudo o que eu fiz, tudo o que eu causei...
— Me desculpa ter bagunçado sua vida. — ele disse, agora, não conseguindo manter as lágrimas nos seus olhos. — Eu não pensei que fosse ser assim.
— Evan... Eu... — engasguei. — Eu sou um grande problema na vida das pessoas.
— Não, não é!
— Não, eu realmente sou. — disse. — Tomo escolhas erradas o tempo todo e carrego todo mundo comigo. E eu realmente sinto muito por ter te feito mal durante este tempo. Foi muito bom te reencontrar, foi bom me apaixonar de novo por você, tudo foi como um sonho. Mas acho que eu não sei como é amar. Não sei lidar com sentimentos tão fortes, não consigo manter minha cabeça funcionando bem... E tudo se perdeu. Mas foi incrível enquanto durou, e eu te agradeço por isso. Te agradeço por tudo.
Evan começou a chorar. E eu, tentei ao máximo segurar. Mas estava cada vez mais difícil.
— Eu realmente queria que você ficasse. — ele disse, chorando. — Mas não posso mais te ter ao meu lado... Não posso mais.
— Eu sei. — disse, mordendo meu lábio. — Eu entendo. Quem sabe nos encontremos por aí algum dia. Não é?
— Acho que não. — ele disse. — Vou fazer o possível para ficar distante, Elizabeth. — ele respirou, contendo as lágrimas. — Vou apagar seu número, e vou sumir das suas redes sociais. Vai ser como se eu nunca tivesse existido.
Meu coração apertou com muita força, e não sei de onde eu tirei alguma energia para manter meus olhos secos.
Doeu muito ouvir aquilo. Muito mesmo.
— Obrigada por ter cuidado de mim. Na sua maneira. — disse, acariciando seu rosto e secando as lágrimas da sua bochecha.
Respirei fundo, pegando minha mala, enquanto ele me observava, ainda chorando. Evitei de olhar para os seus olhos, e apenas segui até a porta, sendo seguida por ele enquanto eu abria a porta.
Ia dizer um adeus. Mas quando o vi pela última vez, não consegui repetir aquilo mais uma vez. Então guardei pra mim. Assim como preferi que ele guardasse o que ia dizer para ele, e assim como guardei uma notícia importante demais, pra mim.
Despedidas sempre doem, e eu não aguentava mais me despedir. Então, preferi fingir que se não lhe dissesse adeus, o destino pudesse nos reunir em outro momento.
Saí e fechei a porta, me vendo sozinha no corredor. E guardei no peito a última imagem de Evan, parado perto da porta, chorando, com as mãos no bolso, enquanto, dessa vez, era eu quem ia embora.
Desci ainda segurando o choro, e quando entrei no meu carro, respirei fundo e senti um resquício do perfume de Evan, preso no banco do motorista.
Joguei a mala no banco de trás, e quando coloquei a chave... Comecei a chorar.
Liguei o rádio e Radiohead foi a trilha sonora do meu sofrimento, seguindo chorando o caminho todo, até estar no meu apartamento.
Chorei de doer a cabeça, me desfazendo em lágrima no chão do box do banheiro. Chorando como se minha vida fosse acabar, como se tudo tivesse acabado, como se o mundo tivesse caído na minha cabeça.
Após o banho, enquanto escovava os cabelos, me olhando no espelho, com aquela expressão de morte, sentia minhas mãos formigando de tanto que meu peito doía, de tanto que estava sofrendo.
Doía demais, doía fisicamente, e doía meu corpo inteiro.
Queria que eu pudesse ser diferente, que a vida fosse mais fácil, que eu soubesse lidar com as coisas, com as pessoas, e que não afastasse mais ninguém de mim. Queria poder manter as pessoas comigo, como eu mantinha as mágoas das pessoas, da mesma forma que eu conseguia manter as lembranças ruins, as paranoias, as loucuras, os sentimentos...
Queria ser outra pessoa. Mas estava condenada a ser eu. Do jeito que eu era; maluca, problemática, péssima...
Sabia que na vida muitas pessoas me odiavam. Mas ninguém me odiava mais do que eu mesma. Esse era o preço que eu pagava por ser o maestro confuso que coordenava minha vida como uma orquestra desafinada. Todas as sinfonas soavam como o fim.
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🎼A SINFONIA DO FIM🎼 Evan Peters
RomanceElizabeth e Evan viveram um grande romance no passado. Romance este, cujo o término inspirou a primeira obra publicada da jovem escritora, "A Sinfonia do Fim". Anos após o lançamento, Evan descobre a existência deste livro, e o lendo, acaba dando de...