Real Love dos Beatles um dia tocou em sons orquestrais nos nossos corações. Mas a melodia tanto se repetiu, que se descompassou.
Os instrumentistas já cansados, erravam as notas, e o som já não tinha harmonia, afinação, compasso ou melodia. Em algum momento, a orquestra soou tão agonizante que doía os nossos ouvidos, nos fazendo abominar aquela maldita sinfonia.
Já era hora de acabar aquele espetáculo, soltar os violinos, os saxofones, tranquilizar as mãos do pianista, devolver o fôlego aos flautistas e dar paz ao maestro. Era hora de fechar as cortinas e encerrar a sinfonia, que já não sabia mais seguir seu curso.
Findava a nossa sinfonia depois de anos juntos, depois de tudo o que vivemos.
Evan sentou-se comigo na cama, suspirou antes de dizer que queria conversar comigo. E ali, eu sabia que era hora enfim de nos darmos uma paz.
Já era hora de dizer adeus.
Mentiria se dissesse que não foi extremamente doloroso ouvi-lo lamentar por termos falhado, que tudo o que ele queria era que as coisas ruins fossem diferentes, mas que viveria todas as coisas boas de novo. E eu concordava.
O ouvi chorar muito, e chorei junto. Não era fácil terminar o que tínhamos, principalmente sabendo que tentamos incessantemente por muito tempo.
Evan me pediu para que as coisas não mudassem em questão à Alice, e eu disse que queria que ele fosse presente na criação dela, com toda certeza. Não era culpa dela que nós não tivéssemos nos acertado como um casal. Combinamos como faríamos as questões sobre ela e como dividiríamos os dias e as despesas.
Ele me pediu desculpa por não ter se esforçado o suficiente, e eu lhe disse que não era uma questão de perdão... Ele tinha tentado, assim como eu. Não tinha porque nenhum de nós pedirmos desculpas.
Foi uma conversa longa e muito complicada, muito dolorosa e árdua. Nos abrimos totalmente enquanto fechávamos o ciclo do nosso relacionamento.
Ele comentou sobre algum dia voltarmos, eu sabia que eventualmente poderia acontecer de nos envolvermos de novo, mas, naquele momento, precisávamos mesmo nos dar um tempo, então eu fechei qualquer hipótese, disse que precisávamos seguir em frente, desapegar do passado e vivermos nossa vida.
Isso, porque seria cruel comigo e com ele, deixarmos em aberto uma hipótese de retorno para que vivêssemos por essa volta. Não era justo. Por agora, queria que ele vivesse totalmente sem mim, e que eu conseguisse viver totalmente sem ele. E preferia que pensássemos que seria para sempre assim.
Lhe disse que queria vê-lo bem e feliz, que ele não devia hesitar em conhecer outras pessoas e seguir sua vida, afinal, eu sempre contaria com a sua felicidade.
Claro que, meu coração doeria em vê-lo em outros braços, mas era uma dor que eu precisaria driblar, porque acima de tudo, queria mesmo que ele fosse feliz, e a felicidade não foi encontrada comigo. Então... Que fosse onde ele conseguisse encontrar.
Evan me ajudou a arrumar cada uma das malas, e organizou o meu apartamento comigo, bem como me auxiliou a montar o quarto de Alice, e o tempo todo esteve presente.
A hora de se despedir realmente chegou quando eu fui buscar minhas últimas coisas, e ele estava parado na porta do quarto, chorando em silêncio.
Me aproximei com um sorriso acolhedor e acariciei seu rosto quente e corado.
Conhecia cada um dos seus olhares, e do jeito que ele me olhava naquele momento, ele me implorava secretamente para que eu ficasse. Mas agradeci mentalmente por ele não ter verbalizado aquilo.
Lhe dei um último beijo, brevemente selando nossos lábios e logo me afastando. Não nos beijávamos há muito tempo, e apesar disso, não foi desconfortável beijá-lo por uma última vez.
— Eu amo você com todo o meu coração. — lhe disse, com a testa colada a sua.
— Eu também amo você com todo o meu coração. — ele disse com a voz trêmula e o rosto molhado de chorar.
Sequei suas lágrimas com as mangas da minha blusa. E acariciei seu rosto mais uma vez antes de partir, dessa vez, era de verdade.
Me dei por conta que realmente tinha acabado quando me vi sozinha com Alice no meu apartamento. Mas, ainda que fosse triste, talvez tivéssemos passado tantas vezes pela mesma coisa, que daquela vez, em específico, eu não estava quebrada, magoada, despedaçada, como se o mundo tivesse caído aos meus pés.
Do contrário, estava em paz. Estava com o coração calmo. Apesar de não termos acabado juntos, muita coisa havia vindo para acrescentar.
Grandes histórias de amor terminam com tragédias, e uma hora, as coisas desmoronam, elas sempre vão desmoronar. Mas com o passar dos anos, a vida me ensinou que muito mais vale olhar o que ganhamos ao olharmos para trás, do que o que perdemos.
E o que eu ganhei? Eu ganhei um relacionamento turbulento, mas com muito amor. Eu ganhei a oportunidade de me sentir amada de novo, de uma forma que nunca tinha sido amada, eu ganhei o cuidado, o amor e as declarações de Evan, que sempre foi o meu primeiro, verdadeiro e único amor de verdade.
Ganhei um amadurecimento em questão à vida, que não tinha antes. Ganhei uma noção maior do quanto vale a minha vida, e aprendi a desapegar da desvalia tamanha que eu dava para mim, minha saúde e minhas escolhas.
E o maior bem de todos, ganhei uma vida nova quando Alice nasceu, era como se eu tivesse nascido de novo, como se tudo tivesse feito sentido quando eu olhava para ela.
E se não fosse por ter reencontrado Evan, e ter vivido tudo o que vivemos, não teria tido ela. E era isso que me fazia pensar, que estava escrito no destino que nos reencontraríamos, mas talvez, por algo maior do que nós dois.
E agora, o que eu faria? Agora eu ia viver a minha vida. Ia continuar com meus projetos, com a minha escrita, com meu trabalho. Ia me dedicar ao crescimento saudável da minha filha, e aproveitar cada momento como se fosse o único, porque, uma criança nas nossas vidas nos faz perceber como o tempo corre, e como precisamos viver cada momento com muito, muito valor.
A vida não é sempre um caos, não precisa ser. E às vezes, dizer adeus não é o fim, não precisa ser uma tragédia. Sempre vai sair um sol depois da tempestade, e entender que precisamos passar pela tempestade, dá sentido às coisas.
Mas claro, só nos damos conta depois que já passamos, e depois que já estamos no sol.
E tudo bem.
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🎼A SINFONIA DO FIM🎼 Evan Peters
RomansaElizabeth e Evan viveram um grande romance no passado. Romance este, cujo o término inspirou a primeira obra publicada da jovem escritora, "A Sinfonia do Fim". Anos após o lançamento, Evan descobre a existência deste livro, e o lendo, acaba dando de...