9 meses depois.
É estranho como a vida consegue trazer uma coisa de repente e mudar absolutamente tudo em pouco tempo.
Era outubro, e enquanto eu estava deitada com Evan, ambos encarando Alice adormecida no meio de nós, como se ela fosse uma escultura raríssima e cara no meio de um museu, tudo o que eu conseguia pensar, era em como eu já nem conhecia minhas versões dos últimos anos.
Alice chegou e mudou tudo em todas as minhas estruturas. Era como se eu sequer entendesse o motivo pelas quais já fiz diversas burrices na minha vida. Era como se a vida tivesse começado apenas depois que ela nasceu, e era como se eu precisasse dela para entender o quanto eu podia ser importante.
Imaginei que a maternidade fosse ser mais complicada do que a gestação. Pensei que eu não fosse saber lidar com a maternidade, e que eu fosse colapsar com a ideia de cuidar de um ser tão indefeso e tão dependente de mim.
Mas, por alguma razão, logo no primeiro olhar, eu me apaixonei por ela. E me apaixonei pela ideia de ser mãe, de uma forma absurdamente surreal.
Talvez fosse do meu feitio, sempre obcecada com alguma coisa diferente, mas daquela vez, era mais intenso do que tudo, porque eu não estava obcecada por um amor que podia muito bem ser menos duradouro do que a validade de um remédio... Eu estava obcecada por uma pessoa que nasceu do meu corpo, e que eu criaria e moldaria até que ela fosse independente o suficiente para viver sem a minha proteção.
E a ideia de ajudar a moldar toda a personalidade de uma pessoa, me assustava, e me entusiasmava na mesma medida.
Me assustava, porque eu temia que ela crescesse e herdasse o meu psicológico, temia que eu e Evan não conseguíssemos manter uma estrutura saudável para ela, e ela criasse mil e um traumas que viriam de reflexo do nosso relacionamento. Temia que ela não fosse feliz, temia que ela crescesse com ideias erradas sobre a vida, e que ela sofresse.
Tive tantos temores que jamais pensei que teria, e a responsabilidade por tudo o que ela podia vir a sentir caía sobre mim, mesmo eu sabendo que não era bem assim.
Entendi o que as mães falam sobre amor incondicional. Eu realmente nunca amei ninguém como amei Alice, porque eu a amei desde antes dela existir, e eu a amei ainda mais quando a conheci, e eu iria ama-la desde o momento em que ela abriu os olhos, até o momento em que eu fosse fechar os meus. Isso sim era amor incondicional.
Sentia que faria qualquer coisa por ela, e de repente, muitas coisas na minha cabeça mudaram. Todo e qualquer sentimento superficial sobre a morte, e toda a inconsequência que me perseguia e me fazia ver a minha vida como se fosse um objeto de pouco valor, caíram por terra. Não fazia sentido deixar de existir quando eu tinha algo tão precioso para cuidar. A morte virou um medo e não um desejo.
Me peguei vendo-a dormir e imaginando como ela seria na adolescência... Como ela iria me enxergar como mãe, se ela ia me ver como uma mãe legal, ou se eu ia me tornar uma mãe chata e superprotetora.
Também, me peguei chorando sozinha vendo notícias sobre acidentes, crimes, desaparecimentos... O mundo pareceu ficar muito mais perigoso, e tudo o que eu conseguia pensar, era em como um dia eu deixaria de pegar Alice no colo e abraça-la tão forte, como se eu fosse protege-la de tudo e qualquer coisa. Como um dia eu iria soltá-la no mundo, se o mundo é um lugar tão hostil, frio e cruel?
Mas e se eu a sufocasse com a minha proteção e os meus medos, e virasse uma daquelas mães narcisistas e controladoras? Também não queria isso, queria vê-la vivendo a vida como ela devia ser vivida.
Tive mil e um questionamentos, muitos temores, muitos pensamentos dolorosos, medos novos desbloqueados, mini pânicos, sentimentos de apreensão, e algumas noites sem dormir, tudo isso, em apenas 9 meses da existência dela. Como é que as mães aguentam a vida toda desse jeito?
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🎼A SINFONIA DO FIM🎼 Evan Peters
RomanceElizabeth e Evan viveram um grande romance no passado. Romance este, cujo o término inspirou a primeira obra publicada da jovem escritora, "A Sinfonia do Fim". Anos após o lançamento, Evan descobre a existência deste livro, e o lendo, acaba dando de...