Grandes histórias de amor terminam com um final trágico, e talvez esse seja o preço a se pagar por poder viver ao menos um pouco da experiência de um amor intenso, vívido, real, verdadeiro, e muito forte.
Em algum momento as coisas desmoronam. Elas sempre vão desmoronar. E que pena que desmoronam. Que pena que acabam, mas sempre vão acabar.
E de todos os amores que eu vivi, somente um foi verdadeiro; infelizmente, todos os outros não passavam de súbitas paixões, delírios do meu coração que ainda estava amarrado ao passado. Depois de Evan, nunca mais soube sequer explicar o que era o amor. Porque nunca mais o senti. Me fechei para isso como uma porta se fecha para o mundo afora.
Mas, sempre que eu ia panfletar minha carreira de escritora em alguma entrevista, eu não admitia isso. Inventava mil e uma frases bonitas e bem ensaiadas para não deixar entender que de certa forma, um coração partido tinha me deixado estagnada de me apaixonar de novo.
— Na verdade, é uma história inspirada em algo que eu vivi na vida real. — respondi à pergunta da entrevistadora, sobre o meu livro ser uma história real. — Mas é claro, é preciso colocar um pouco de ficção, nada das coisas do livro foram realmente reais. A vida só me deu uma boa inspiração.
— Mas existiu uma pessoa que entrou na sua vida e que era, relativamente semelhante com o personagem?
— Existiu. — ri. — Mas essa pessoa é uma pessoa do passado. Eu nunca mais tive notícias, e na época que eu escrevi esse livro, eu ainda nutria sentimentos fortes por essa pessoa. Mas hoje não mais. Até porque, o tempo passa, né? E eu vivi outros amores, até muito mais fortes!
— Claro! Que legal! — a entrevistadora riu. — Mas você acha que essa pessoa conhece o seu livro.
— Acho que não porque ele não gostava de ler. — ri, fazendo-a rir também. — E como eu disse, o livro é bem ficcional, na verdade, então, pode ser que essa pessoa nem reconheça que é sobre ele. Mas, acho que ele nem conhece o livro mesmo.
Fiquei um pouco tensa em ter que falar desprevenidamente sobre aquele livro, sendo que a entrevista, era sobre meu novo livro de poesia. Mas, respondi às perguntas com calma e serenidade.
Após a entrevista, Victoria, minha amiga, e eu fomos beber em um bar, junto com Joe, o namorado dela, que também era meu amigo.
— Sabe, fiquei pensando, será que o Evan já leu "A Sinfonia do Fim"? — indagou ela, referindo-se ao livro que eu falava na entrevista, que foi o primeiro livro que eu havia publicado, há uns três anos atrás.
— Não sei. Mas, ele nunca me contatou durante esses anos, então...
— Fazia tempo que não te questionavam sobre esse livro né? — indagou Joe.
— Pois é! — exclamei. — Queria falar mais sobre o Morte Súbita, e não este. Mas, acabou pendendo pra este.
— É que foi a sua obra de mais sucesso. — disse Victoria. — E muita gente ama.
— Pois é — sorri. — Que loucura pensar que as pessoas gostam muito desse livro. Eu escrevi quando estava muito, muito triste.
— É a arte, né? — indagou Joe.
— Acho que sim. — ri. — Mas acho que o Evan nunca leu. Acho que ele nem sabe da existência do livro. E melhor assim, sei que aquele livro deturpa um pouco o que aconteceu.
— Ah, conta o seu lado da história. — disse Victoria. — Não quer dizer que seja errado.
Continuamos conversando, e a pergunta sobre Evan ter lido a minha obra ficou na minha cabeça até a hora em que eu cheguei em casa.
Pensei um pouco enquanto olhava pela sacada. Mas, concluí que não. E preferia que ele nunca lesse.
Depois de tempos, eu já havia me desvencilhado totalmente dele, e não queria, nem precisava saber nada sobre ele.
Atualmente eu tinha uma ideia de que escrever um livro todo com a nossa história, e não economizando nas descrições negativas sobre ele, era algo não muito legal. E que eu lhe tinha dado motivo para me odiar pelo resto da vida, caso ele fosse ler o livro. Mas, por outro lado, me orgulhava daquela obra, porque escrever sobre o que aconteceu me fez lidar com aquilo, me fez passar por aquela página da minha vida, e seguir adiante.
Evan foi mais que um romance ou um relacionamento qualquer, ele foi um evento na minha vida. Porque o caos que ele gerou quando chegou, e o caos que ele deixou quando foi embora, me bagunçaram tanto que eu mudei todas as direções da minha vida.
Não fazia a mínima ideia de como Evan devia estar atualmente. Mas desejava o melhor. Apenas, desejava que ele estivesse bem distante de mim.
Pensar nele subitamente, por sorte, veio e foi depressa. No passar dos dias, sequer vi seu nome na minha cabeça, nenhuma vez.
O tempo me ensinou a deixá-lo ir, e quando me lembrava dele, geralmente eram questionamentos que vinham e logo sumiam. Em partes, eu tinha mesmo certa curiosidade sobre como ele estava, onde estava, já que da última vez que nos falamos ele estava se preparando para viajar para fora do país.
Mas, não tinha nenhuma necessidade de ir atrás de saber algo sobre ele. Era melhor deixá-lo enterrado no meu passado, eternizado em um personagem do meu livro.
Morte Súbita era o meu novo livro de poesia, que continha diversas poesias escritas no ano anterior, após eu terminar outro relacionamento problemático, e me encontrar em um momento de solidão. Fiz uma viagem sozinha para outra cidade e passei dias sem nenhum contato com as redes sociais. Foi um surto, sim, mas me rendeu um livro inteiro de poesias que navegavam sobre a solidão, sobre o silêncio, sobre o amor, sobre o fim.
Sexta-feira, noite de autógrafos em uma livraria da cidade, e eu estava animada para falar sobre o livro, falar sobre as poesias, falar sobre o que elas significavam pra mim e como elas foram criadas.
E após uma conversa com os leitores que foram até o evento, lá estava eu na mesa no centro da livraria, com uma fila na minha frente, de leitores com seus exemplares para serem assinados.
Olhava para aquelas pessoas e nunca me parecia realidade que tanta gente tivesse lido as palavras que eu escrevi. Parecia surreal que as coisas que eu escrevia conseguiam tocar outras pessoas, cada um de um jeito.
Uma garota me disse que meus poemas a fizeram entender que a dor faz parte da vida, que os finais, as despedidas, a solidão, tudo isso faz parte da vida, e tá tudo bem sentir todas elas com força. A abracei forte, sentindo meus olhos marejarem, emocionada com o que ela disse.
E assim que ela se afastou, voltei à mesa, com o rosto abaixado, secando meus olhos e me ajeitando.
Levei um susto quando ergui novamente o rosto.
— Pode dedicar para o Henry. — disse ele, se referindo ao personagem de A Sinfonia do Fim. — Ou, para o Evan.
— Meu Deus. — disse, sem saber exatamente o que falar.
De repente, Evan estava ali, parado, com seu exemplar do livro para ser autografado. Estava diferente, com os cabelos mais compridos que da última vez, e na sua cor natural, castanho escuro. O olhei sem ter certeza do que via. Mas, era ele mesmo.
Eu jurei com todas as minhas forças que não sentia mais nada por ele, e que ele tinha sido alguém que já estava enterrado no meu passado, distante do meu coração. Mas vê-lo ali, soou imediatamente como "Real Love" dos Beatles altíssimo dentro do meu peito. Tão alto que o som vazava, e quase reverberava.
Grandes histórias de amor terminam com um final trágico. Em algum momento as coisas desmoronam. Elas sempre vão desmoronar.
E o pior de tudo isso, é o estrago que fica quando tudo aquilo desaba. A pior parte do amor, é quando ele se desfaz. Depois de toda a orquestra, toda a maestria de cada música, cada parte, cada fase de uma grande história de amor... Existe a parte do repertório que se chama A Sinfonia do Fim.
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🎼A SINFONIA DO FIM🎼 Evan Peters
DragosteElizabeth e Evan viveram um grande romance no passado. Romance este, cujo o término inspirou a primeira obra publicada da jovem escritora, "A Sinfonia do Fim". Anos após o lançamento, Evan descobre a existência deste livro, e o lendo, acaba dando de...