Capítulo 32

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- Bom dia! - escutei Leonard falando perto de mim.

- Não gosto que me acordem! - falei abrindo os olhos devagar.

- Imaginei que fosse acordar de mal humor hoje mesmo.

Por um breve momento eu me esqueci, eu me esqueci que era hoje, hoje o casamento de Marie e meu pai, eu estava tão preocupada em encontrar o perseguidor, que nem sequer me lembrei que o casamento seria hoje.

- É... hoje não vai ser um dia legal. Bom, você não precisa falar disso comigo, eu sei que já expliquei no acampamento, mas lá era diferente, eu pensei que quisesse saber e não que era meio que uma forma de me manter no campo de vigilância...

- Na verdade, se quiser falar sobre, eu estou aqui, e eu não perguntava as coisas só para te manter sobe vigilância, eu realmente queria saber sobre você! - ele me interrompeu e falou sorrindo.

Me entregou uma xícara de café e foi até a mesa novamente.

Flash back on
Eu brincava no chão da sala, minhas bonecas e meus brinquedos, todos espalhados pelo chão e sofá, eu estava feliz, acho que foi a primeira vez que me senti tranquila. Naquela época minha mãe tinha parado de trabalhar para "cuidar" de mim, eu só tinha 5 anos, precisava de supervisão, mas Marie estava ocupada de mais conversando com o amante em algum canto da cidade, enquanto eu estava em casa.

Me lembro de levantar e caminhar ate a janela, eu estava com fome, já fazia horas que minha mãe havia saído, eu estava esperando ela, mas a fome e o estômago roncando foram mais altos. Me levantei e caminhei até a cozinha, não havia ninguém em casa além de mim, Marie dispensava os ajudantes lá de casa durante o dia, para que fosse mais fácil de sair. Eu era pequena, não alcançava os armários, arrastei uma das cadeira até onde ficam os armários altos e subi nela, eu não tinha muito equilíbrio e nem força, foi questão de puxar um biscoito, me desequilibrar e cair no chão.
Não sei quanto tempo passei no chão eu tinha batido forte a minha cabeça me lembro de ter desmaiado e machucado bastante com a queda, só sei que quando Marie chegou, ela gritou muito comigo.

-Você é burra por acaso? Não pode esperar? Olha a lambança, o chão todo sujo de biscoito, você cheia de hematomas, como vou explicar isso para o seu pai? - ele me pegou pelo braço e me colocou sentada na pia - Vamos limpar essa bagunça, antes que ele chegue e brigue comigo. - ela me segurou mais forte - Você já me atrapalhou de mais, eu não aguento mais você!

Essas palavras ficaram marcadas em mim até hoje, eu sei que não podemos alimentar ódio, mas eu era apenas uma criança, eu só queria uma mãe, e não uma madrasta malvada de conto de fadas. Eu guardei essas memórias, não que eu as quisesse, mas era algo como um lembrete de quem ela era, e da figura materna que eu tive quando criança. Em momentos após criar uma idade para entendimento dos fatos que aconteceram quando pequena, eu questionei se eu realmente fosse um incômodo tão grande para os meus pais, mas Willian, meu pai, sempre me amou e me tratou com tanto carinho e afeto que eu passei a acreditar que eu era bem-vinda naquela casa.
Minha infância não foi bem o que eu queria que tivesse sido, mas eu tenho sorte de ter tido um pai presente e amoroso, que sempre buscava melhorar meu dia.
Flash back off

[...]

- De qualquer forma, é mais seguro que eu não participe da cerimônia. E mais seguro que eu fique aqui também. - falei.

- Eu posso te acompanhar caso queira ir! Eu sei que não se da tão bem com a sua mãe, mas seria bom para o seu pai, e lá podemos ficar de olho neles, eles vão fazer alguma viagem de lua de mel? - Leonard perguntou.

- Sim, planejaram ir para algum país no litoral, não me lembro. - respirei pesado.

- Acho que seria melhor que nós fossemos e também que os levassemos ao aeroporto, assim você vai ter certeza que estão seguros. - ele chegou mais perto.

Por um lado ele estava certo, seria bom ver que meu pai estava bem e seguro diante de tudo que estava acontecendo, mas por outro lado eu não queria ir depois da briga que tivemos.

- Eu não sei se me querem por perto! - falei encarando o chão.

- Acredito que independente de tudo que possa ter acontecido, eles ainda querem que a filha esteja presente em um momento desses, é importante não? - ele sorriu gentilmente.

- Você podia ter sido mais gentil assim no acampamento! - sorri de volta.

- Aí você se apaixonaria de vez! - ele riu e saiu de perto.

- De vez? - franzi a testa.

[...]

Depois de algum tempo, Leonard me convenceu a ir no casamento, eu queria estar lá, não para mostrar que apoiava, mas para ficar de olho para que conseguissem ficar a salvo até a hora da viagem. Mesmo com um pressentimento ruim, eu e Leonard paramos na loja de alugueis de roupa de festa e nos vestimos de acordo, agora era só ir até o fim do poço onde meu pai pretendia ficar.

Eu vou ter você!Onde histórias criam vida. Descubra agora