Capítulo 41 - Especial

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Eu vasculhei aquele quarto inteiro, olhei no guarda roupa mas ele estava vazio, levantei o colchão, eu juro, eu fiz de tudo, eu vasculhei tudo, eu gritei, bati na porta, mas tudo que eu fiz foi em vão, eu procurei pelas minhas coisas, meu celular e em seguida, por qualquer coisa que eu pudesse usar como arma, para me defender. Não fazia ideia de quanto tempo já havia se passado, eu andava de um lado para o outro freneticamente, pensando que ali, que aquele momento, era meu fim, e tudo isso porque eu escolhi sair do hotel. Minha cabeça já não sangrava mais, porém eu ainda sentia uma dor imensa. Por fim minhas forças estavam indo embora, e eu me sentei na cama.

Como tudo isso aconteceu?

Eu me perguntava.

Minha cabeça por um momento desligou, eu fechei os olhos, e era como se a minha mente estivesse vazia, não em um sentido de tranquilidade, mas no sentido de que não havia nada a se fazer, eu gastei todas as minhas energias e forças, vasculhando aquele quarto, e para nada afinal, então esse era o meu fim? Depois de tudo o que aconteceu, depois de tudo o que fiz, era nisso que ia acabar?

É estranho pensar que eu poderia morrer ali, mas ao mesmo tempo, parecia ser algo inevitável naquele momento. Eu nunca havia parado para pensar em morte, eu nunca fui boa com perdas, eu prefiro me esconder e fingir estar tudo bem, era algo pessimista a se pensar, mas eu sinceramente não via qualquer outra saída a não ser aceitar, me deitei na cama e fiquei encarando o teto.

Flash back on

Só fazia cerca de 15 dias que eu havia chegado no acampamento, Ben estava flertando comigo direto, ele puxava muitos assuntos, e eu estava realmente interessada em manter toda conversa possível com ele. Todas as vezes que eu estava perto do Ben, Jessy me encarava estranho, era como se estivesse com raiva, mas eu ignorava completamente isso, até porque isso não era algo para chatear ela, mesmo que as vezes a deixasse assim, ela dizia achar ele um babaca e que eu estava perdendo tempo.

Um dia depois das atividades coletivas, que eram recorrentes até de mais, Jessy e eu nos sentamos perto do lago que tinha no acampamento, queríamos descansar um pouco, nos últimos dias tem sido nosso lugar preferido, porém em seguida a irmã dela, Sofia, veio com mais duas meninas e se sentou um pouco distante da gente. Ela sim parecia me odiar muito, e quer saber eu nem sei o motivo direito, a Jessy diz que é por causa do Ben, mas sinceramente eu não sei se é só isso não, as vezes eu só queria ir até ela e perguntar por que ela tinha tanta raiva de mim, pra mim era um picuinha boba, e mesmo que nos fossemos adolescentes isso não era algo que eu costumava chamar de comum.

- Sua irmã vive perto da gente também ne? - falei revirando os olhos - As vezes me incomoda o jeito que ela olha pra mim, parece que vai me fuzilar com os olhos.

- Sofia? Bom, Sofia é muito protetora, nos duas somos, a gente se protege, ela tem os defeitos dela, mas é uma boa irmã. Eu te contei da minha primeira namorada? - Jessy perguntou.

- Na verdade não! Mas o que tem haver com ela?

- Eu estava namorando uma menina na escola, a gente aprontava muito, tipo muito mesmo, um dia nos fizemos uma bomba caseira que soltava espuma e deixamos na sala dos professores, as câmeras mostraram o flagra de nos duas e quando fomos questionadas, a minha namorada da época colocou toda a culpa em mim, eu fui expulsa da escola, meu pai ficou uma fera, e me bateu, muito, ele fazia isso com frequência, tudo era motivo de me bater, mas dessa vez foi diferente, ele me bateu tanto que eu fiquei alguns dias sem poder andar direito, com as pernas e as costas todas marcadas do cinto que ele usou, a Sofia ficou muito brava, e então foi até a casa da menina e colocou mil bilhetes espalhados falando para ela dizer a verdade. Depois disso, nos ficamos muito próximas, ela meio que me protege de me magoar desde então. As coisas não eram muito boas lá em casa, e ter ela por perto fazia ser um pouco melhor. - disse Jessy sorrindo. - A questão é que eu não sou irmã dela de verdade, eu fui adotada, eles me pegaram em um orfanato, e por ser ruiva também pensaram que ninguém ia comentar sobre, e por anos eu nem sequer soube da verdade, ninguém além deles sabiam, mas depois da morte da minha mãe em um acidente de carro que eu também estava, meu pai ficou pior, ele agora não só gritava, ele passou a me bater também e somente em mim, ele dizia que a culpa era minha e que eu era como o mal pra a família. Foi a Sofia que tentava me proteger dele quando ele chegava bêbado. - ela suspirou e continuou - Mesmo depois disso tudo eu ainda voltei com a garota da escola e depois disso aprontamos mais algumas e eu acabei aqui, esse lance de ex-namorado problemático a gente tem em comum né.

Eu não fazia ideia alguma de que a vida da Jessy tinha sido desse jeito, agora eu podia entender porque ela era tão apegada e porque a irmã dela era tão revoltada.

- Essa questão de ex namorado a gente tem igual mesmo, mas... nossa Jessy, e eu reclamando da minha família, me desculpe, eu não sabia. Me sinto uma idiota agora! Fútil!  - eu realmente me sentia mal.

- Não! Não é Fútil, cada um tem seu problema, e nenhum é maior que o outro!

Jessy tem se tornado uma boa amiga, mesmo que seja um pouco grudenta, eu ainda gosto muito de ficar perto dela. Eu consigo confiar nela, eu praticamente já contei tudo sobre minha vida para ela, e bom isso é raro porque a única outra pessoa a qual eu me abri foi a Moni, eu não sou uma pessoa muito aberta, digamos.

Flash back off

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