Capítulo 6

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Eu dirijo pela avenida, com muito esforço, controlo a vontade de gritar com Letícia. Ela não me encara, tem o rosto virado e olha para fora da janela. Nós não trocamos nenhuma palavra desde que a arrastei da Mansão Eros. Fui obrigado a ameaçá-la, pois se recusava a me acompanhar.

A tensão dentro do carro é incontestável, também não é para menos. Eu não tenho certeza sobre o que levou Letícia a esconder de mim que temos uma filha, e não adianta ela negar, pois eu sei que aquela menina é minha, e eu só não esbravejei mais por sua causa, pois notei que se assustara quando eu confrontei sua mãe.

Eu conduzo o carro sem saber ao certo para onde vou. Então, ao passar pela orla do Recreio, reparo no pouco movimento, assim paro o carro ao longo da via, numa das vagas que fica bem em frente ao mar agitado.

Letícia permanece calada. Tê-la tão perto de mim está me deixando atordoado. É obvio que sinto raiva, entretanto, para minha agonia, essa mulher consegue mexer com minhas emoções mais escondidas.

Eu olho para ela, que ainda tem o rosto virado para a janela e vejo sua respiração oscilante, afinal sabe que estou olhando em sua direção.

Ela suspira e cruza os braços, ainda sem me encarar.

— O que você quer de mim? — indaga, soando contrariada.

Respirando fundo, eu aperto o volante, tudo para me impedir de tocá-la, pois tudo nela me atrai e essa percepção me faz ficar com muita raiva.

Olho para frente, tentando me acalmar com as ondas do mar.

— Eu quero a verdade, Letícia. Se isso for possível para você — aponto.

Finalmente ela se vira, então olho para ela. Seus olhos castanhos, inflamados expõem o quanto está abalada.

— Não tenho nada a falar com você — exprime secamente.

— Sim, você tem. E não vamos sair daqui enquanto você não começar a se explicar para mim — ameaço prendendo seus olhos aos meus.

Olhar para ela num ambiente tão limitado como este carro me faz ficar sufocado. Letícia parece ainda mais linda do que há três anos. E diferente do que eu poderia imaginar, sinto um desejo imenso de beijar sua boca.

Ela move a cabeça com leveza, seu olhar é de rancor.

— Eu não te devo explicação nenhuma, e exijo que abra a porcaria da porta deste carro para eu ir embora, pois não suporto estar no mesmo lugar que você — solta e me surpreendo com sua maneira rude de falar, pois Letícia sempre se mostrou muito delicada.

Solto uma risada balançando a cabeça.

— O pouco tempo que esteve comigo deve ter percebido que não sou de desistir fácil, Letícia — aponto e percebo um tremor passar pelo seu corpo quando digo seu nome. — Então vamos poupar o nosso tempo e me conte de uma vez por que você escondeu minha filha de mim.

Ela respira fundo e aperta os lábios.

— Não escondi nada de você — responde de forma mecânica, o que me deixa mais irado.

— Você, no passado, me fez de idiota por um determinado tempo. Não brinque comigo, achando que pode me enganar. Não sou cego Letícia. Aquela menina é minha filha — declaro.

Ela continua me olhando, séria, finalmente descruza os braços e vejo que leva as mãos até sua bolsa e só então percebo que seu telefone toca. Letícia pega o aparelho, recusa a chamada e passa uma mensagem rápida e volta a guardar o telefone na bolsa, depois volta a me olhar.

Um CEO InesquecívelOnde histórias criam vida. Descubra agora