Capítulo Um

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-PoV Cosima-

Uma vez eu li em algum lugar que mudanças são necessárias quando a rotina já não traz mais felicidade. Eu sempre tive uma vida boa, não excepcional, mas boa, meus pais foram muito presentes enquanto estavam vivos e eles me deram o melhor presente de todos, meu irmão adotivo, Felix.

Primeiro eu perdi o meu pai, ainda criança, e recentemente perdi minha mãe. Pra mim e pra o meu irmão foram momentos sombrios e de uma tristeza inenarrável. A gente tenta se conformar com a ideia de que pelo menos agora eles devem estar juntos, mas é muito difícil precisar de um abraço deles e não ter.

Hoje é o meu primeiro dia de mudança em Ottawa depois de morar minha vida inteira no centro de Toronto. Mas pra conseguir sair de um casamento de quase dez anos com o mínimo de traumas possíveis, só mesmo a distância.

Não que Toronto seja tão longe assim de Ottawa, mas pelo menos evita encontros embaraçosos em lugares comuns como shoppings ou uma simples padaria.

Scott foi meu melhor amigo de infância, meu primeiro namorado e meu marido durante nove anos. Porém, hoje ele é meu ex e infelizmente, meu chefe.

Eu digo infelizmente não por ele ser uma pessoa ruim, Scott está muito longe disso, mas ele confessou ainda me amar quando pedi o divórcio e ele continua dizendo isso até hoje. O que torna nosso ambiente profissional sufocante, mas eu não posso me dar ao luxo de pedir demissão, não com uma filha pra criar.

Charlotte acabou de completar oito anos e esse foi o primeiro aniversário dela com os pais separados. Eu tenho certeza que tudo isso tá sendo mais difícil pra ela do que pra mim, mas eu não conseguia mais ver um final feliz ao lado do pai dela porque eu simplesmente deixei de ser uma pessoa feliz.

Talvez se minha mãe ainda estivesse aqui, ela pudesse me fazer pensar melhor nessa decisão que tomei, mas escolhi manter comigo uma lembrança do meu pai dizendo que mudar é sempre necessário e resolvi seguir seu conselho. Ele também me dizia várias vezes que eu não merecia nada menos que uma vida extraordinária e a cada dia que se passava, eu ficava ainda mais longe dessa realidade.

Talvez possa parecer egoísmo da minha parte desistir de um relacionamento de tanto tempo, mas eu e o Scott já estávamos empurrando esse casamento com a barriga há anos, nós nos tornamos dois acomodados com a rotina e viver parecia até uma obrigação.

O que me fez despertar daquela vida foi ver a minha filha ficando igual a nós dois. Uma criança de sete anos que vivia triste sem saber o motivo e muitas vezes ela nem sabia que estava triste, a energia mórbida da casa influenciou diretamente no humor dela e eu decidi mudar de vida. Talvez ela nunca entenda o que eu precisei fazer, mas essa decisão também foi por ela.

Eu espero de verdade ter feito a escolha certa e que depois dessa fase difícil da separação ela volte a ser a criança feliz que sempre foi.

(...)

-Cos? Eu tava lá no quarto guardando as coisas que você pediu, mas a Charlotte dormiu. Como eu não queria terminar acordando ela sem querer, achei melhor parar.

-Tudo bem, Shay. Você já me ajudou muito por hoje. Depois eu guardo o que falta. E ela tem aula amanhã logo cedo, então foi até bom, assim não preciso lidar com uma criança manhosa às sete horas da manhã.

-Ela parece animada com a escola nova. -minha amiga disse com um sorriso feliz no rosto.

-Ela tá mesmo. Essa escola é período integral, mas eles têm uma didática de aprender brincando, então durante o dia eles fazem várias atividades diferentes e já usam até laboratório, parece ser legal.

Meramente Amor (Cophine)Onde histórias criam vida. Descubra agora