UMA TESTEMUNHA

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~*~

Eu tomava o café da manhã com Sofia quando tocaram a campainha de casa.

— Não coma todo o biscoito meu bem, a mamãe já volta! — Disse fazendo um carinho na bochecha de Sofi.

Meu pressentimento dizia que não era algo bom, as coisas não vinham bem naqueles dias.

— Aura Albuquerque? — Perguntava um homem de terno parado em minha porta.

— Sou eu — Assenti — Como posso ajudar,
Senhor?

O homem me reparou por alguns instante. Depôs me estendeu um papel.

— Sou oficial de justiça, senhora. Bom dia! Isso aqui  é uma intimação. A justiça quer ouvi-la sobre a morte de Atos Oniz Ferraz.

Meu sorriso era de nervoso, era nítido. Recebia o papel das mãos do promotor com certa cautela.

Tentava ler o documento superficialmente. Espremi os lábios procurando não demonstrar meu desconforto. Então continuei sorrindo de maneira educada:

— Claro. Nesta data que está aqui? — Apontei a linha.

— Exatamente senhora. Qualquer imprevisto nos avise, do contrário seremos obrigados a levá-la contra sua vontade — o oficial olhou em seu relógio — Tenha um bom dia, senhora!

Estava tão nervosa que eu nem me lembrei de desejar o mesmo ao oficial. Fechei  porta e corri até Sofia para vê-la.

Era natural que me procurassem, afinal de contas, além de ser amiga da Vick, eu estava com ela quando a polícia fora verificar o corpo. Acho que meu organismo apenas estava reagindo a adrenalina de ser uma testemunha em um suposto caso de homicídio.

Minha primeira ideia fora de ligar para Júlio. Queria pensar.

— Ué, diga tudo oq ue viu quando chegou lá, Aura, nem mais e nem menos! — Júlio mastigava algo, sua voz estava abafada pelo telefone.

— Tenho medo de dizer qualquer asneira e prejudicar Vick. A mídia tem ficado em cima do caso feito urubu! Se eu for mail interpretada é algo vá para na imprensa, posso prejudicá-la!

— Então faça o que eu te disse. Diga somente o que  viu quando foi até o local. E não tente se achar mais esperta que os policiais. Não invente coisas. E sobretudo: não tente resolver algo que não é problema seu, Aura!

Júlio não perdia chances de me cutucar com alguns comentários ácidos. Mas eu não iria entrar naquele jogo de ego e inciar uma discussão tola que levaria a canto algum.

— O plantão está tranquilo, meu bem? — Desconversei. Não estava nem um pouco interessada na respostas, era apenas para apaziguar o diálogo.

— Uma merda como sempre. Só consegui parar agora para comer um croissant amanhecido. Todas as coisas graves dessa bosta de Rio de Janeiro parecem vir parar nessa UTI. — Disse exausto.

— Entendi. Que coisa chata — falei sem
Muito ânimo — Bem,  vou torcer para que tudo fique bem. Agora preciso levar Sofi a escola. Beijos.

— Ah sim! Diga que a amo! Beijos, Aura.

Pela tarde fui ao hospital fazer as seis horas de emergência que eram de Vick, por que ela precisaria depor pela milésima vez naqueles sete dias. Sofia iria para a casa da avó após a aula e eu a pegaria quando saísse do plantão.

— Fatalidade o que aconteceu com esse menino! Tão jovem! — Márcia deslizava uma matéria qualquer que lia pelo celular sobre o caso da morte de Atos.

— Sim, bem jovem! — Repliquei sentada em minha mesa de frente para ela no consultório. Não me interessava estender o assunto com Márcia.

Aquele dia o plantão estava tranquilo e o fluxo de pacientes era baixo, então tínhamos tempo para divagar. Mas não era com Márcia que eu pretendia falar desse assunto.

— Eu sou diabética, né? Como a Vick, porém eu sou diabética  tipo dois e ela tem diabetes tipo um! Pobrezinha — ao dizer isso, senti certa ironia. Márcia podia ser bem venenosa às vezes — Morro de medo de usar uma dose elevada de insulina e morrer de hipoglicemia! — Márcia fez o sinal da cruz.

Não precisava perguntar, mas acho que Márcia acreditava na narrativa da imprensa, a de que Vick havia matado o próprio namorado com insulina.

— Isso não vai acontecer, Márcia. Não se você se atentar a dose — Olhei para ela —  Deveria se preocupar mais com seus níveis de açúcar no sangue, isso sim! Porque estão altos desde o último exame que me mostrou. Sua diabetes esta descontrolada, meu bem! Ou seja, acho que nem se você errar a insulina seria capaz de baixar essa glicemia!

Essa minha última frase tinha um pouco de irritação. Mas Márcia encarou apenas como uma advertência médica.

Ela revirou os olhos.

— Eu tenho melhorado minha alimentação e além disso você aumentou as doses de remédios, lembra? E por falar nisso, poderia aferir minha pressão? Tô com uma dor na nuca!

Talvez ela quisesse mesmo me tirar do sério aquele dia.

— Como profissional de saúde você deveria saber que pressão alta não costuma dar dor de cabeça. Isso é lenda. Coisa de gente leiga... — Murmurei me erguendo para pegar o aparelho de pressão.

— Eu sei, eu sei. Mas não consigo ficar bem até aferir a pressão, ué! Superstição até nós que somos da saúde, temos!

Aferi e a medida e  veio bem elvada.

— Você não deve estar tomando os remédios de presão também. Não sei por que ainda te dou amostra grátis. Você não toma o medicamento. Desse jeito vai acabar infarrtando, Márcia! — Balancei a cabeça em reprovação.

— Deve ter sido a cervejiha que tomei ontem no churrasco na casa da minha irmã. Eu tenho tomado os remédios pra pressão que você tem me dado.

A maioria dos pacientes que atendia na época de estágio eram como Márcia : quase todos diabéticos e hipertensos que não se cuidavam e faziam mau uso da medicação ou até mesmo não faziam.

— Não sei se acredito em você! Mas precisa melhorar isso, Márcia!

— Ah, eu vou melhorar. E já que tocou no assunto, quando tiver mais amostras grátis, me traga!

Nesse tempo fomos interrompidas.

— Doutora, chegou uma criança convulsionando  e coloquei na obserevação. Preciso da senhora lá urgente!

Uma técnica de enfermagem nos acionava.

— Conseguiu pegar acesso venoso? — Indaguei enquanto ajeitava meu jaleco.

— Não senhora, parece bem desidratada. Eu e Carol tentamos. Acho que vamos ter que fazer medicação intramuscular por enquanto.

A drenariam da situação me agitava.

— Então prepare as ampolas de midazolam, por favor! Eu já estou a caminho!

Saí pela porta colocando o estetoscópio no pescoço. Márcia me seguiu.

Talvez atender uma emergência aliviasse meu estresse daquele dia. Precisava parar de pensar sobre o depoimento que daria na delegacia em breve.

~*~

NOTA DA AUTORA

Acharam que eu não ia postar né?? Kkk

Mano, essa Márcia me dá um ranço!!! Ou só sou eu?

O que será que a polícia vai perguntar na delegacia!?????? Estão ansiosas???

Amanhã tem mais, não deixem de ler.

Compartilhe a nossa história! Beijos!

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