DE BOA VONTADE O INFERNO ESTÁ CHEIO

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~*~

Dois meses se passaram desde que descobrirá a traição de Júlio, e que para minha surpresa, não era Hanna a culpada e sim Victoria.

Toda  vez que encontrava e olhava para Hanna me sentia culpada por  algum dia desconfiar dela. Meu desejo  era  de ir até ela, abraçá-la  e me desculpar por ser uma amiga má.

Fora isso, a  única coisa que eu precisava entender era por que o contato estava salvo com o nome de Hanna no celular de Júlio. Se era com Vick que mantinha o caso deveria ser o nome dela salvo.

— Você parece ótima — Júlio me olhou de maneira analítica — Deixou de usar aquelas coisas? — Ele depositava sua mochila na mesa da sala de jantar.

— Que bom que notou, querido. Estou melhor sim. Não vou dizer que não usei nenhuma vez, mas estou diminuindo. Vou a um psiquiatra em breve. Estou procurando ajuda, fique tranquilo.

Ergui meus olhos para Júlio rapidamente. Eu estava no sofá com as pernas esticadas enquanto lia um artigo científico sobre os efeitos colaterais do bicarbonato de sódio no manejo de acidoses metabólicas.

—Talvez possamos trazer Sofia de volta, Aura. O que acha?

Eu simplesmente abri o sorriso mais largo que conseguia, mas procurei me controlar. Não queria parecer eufórica demais.

— Mas isso é marailhoso, Júlio. Não poderia haver notícia melhor! Quando pretende trazê-la para cá?

— Talvez ainda hoje. Vou visitar minha mãe, então devo trazê-la de vez.

Minha vontade era gritar de alegria. Meus esforços não haviam sido em vão. De fato estava há uns dias  sem usar absolutamente nada. E ainda me considerei esperta o suficiente para nao confrontar Júlio com sua traição. Seria tolo irrtá-lo em um momento em que ele pdoeria afastar Sofia ainda mais de mim.

— Aconteceu algo? — Indaguei reparando sua feição protraída.

Após passar meus minutos de euforia pela volta de Sofia, notava o olhar caisbaixo de Júlio. Ele não estava bem.

— A jornada de trabalho tem me cansado muito. Só isso. Achei que poderia fazer mais do que conseguiria, e de fato até consegui — Arfava —  Mas acho que não  tenho tido o reconhecimento  que mereço.

Ele foi até a geladeira e abriu uma cerveja em lata, sentando-se ao meu lado no sofá.

Júlio parecia falar de algo muito mais profundo que o trabalho. E não foi difícil para mim supor que aquilo tinha a ver com Vick e seu relacionamento extraconjugal. Mas não ousei mencionar nada.

— Às vezes acontece, Júlio. Algumas coisas não saem como planejado! — Eu fingia  ler meu artigo sobre os efeito do bicarbonato de sódio em meu tablet.

Pela visão periférica pude ve-lo me encarando.

— É, você tem razão, Aura. As vezes nós nos esforçamos muito por algo e aí... Outro alguém recebe o reconheciemnto em seu lugar. É a vida. De fato é! Mas não deixa de ser frustrante.

Logo veio Atos em minha mente, como se esse  outro "alguém" que Júlio mencionava em sua frase reflexiva fosse o noivo de Vick.

Não estava falando muito com Vick por aquelas semanas, por razões óbvias. Mas sabia que ela e Atos pareciam muito envolvidos e apaixonados.

Será que era isso que deixava meu marido aturdido? Desmotivado por aqueles dias? Será que estava apaixonado pela amante e se sentia preterido?

Isso poderia fazer sentido, ainda mais após aquela discussão que ele tivera com ela pelo telefone, quando Júio mencionou a possibilidade de vivrem Vick, Sofia e ele. Isso, claro, após me pedir  o divórcio. Vick não havia aceitado a ideia, o que provavelmente azedou a relação.

— Está lendo o que, Aura? — Júlio estava realmente  pouco interessado, mas curvou-se para olhar a tela do tablet.

— Ah, é um artigo sobre os efeitos colaterais do uso de bicarbonato endovenoso nas acidoses metabólicas. Muito interessante!

Ele deu um gole farto em sua crveja.

— E quais seriam esses efeitos colaterais?

Eu pigarreei antes de respondê-lo.

— Vish, inúmeros para variar. Mas esse aqui em especial fala sobre as chances de desencadear edema agudo de pulmão. Também aborda um pouco de distúrbio hidroeletrolítico. Interessante, posso te enviar depois, se quiser.

Ele riu.

— Claro que pode — Ainda continuava me olhando — Você sabe qual a principal conduta que a gente faz quando um paciente chega com cetoacidose diabética no CTI?

Júlio não era bom em guardar segredos. Vick era diabética e naquela mesma semana eu soube que ela havia ido parar na emergência exatamente por conta de cetoacidose diabética, uma condição que pode colocar em risco a vida do paciente quando ele não faz uso correto da insulina. Até nisso eu acreditava que ele mencionava Vick.

Mas fingi pensar por alguns instantes, apesar de saber a resposta desde o início.

— Bem, acredito que hidratação venosa e insuina. Em seguida se pede bioquímica e demais laboratórios, sobretudo uma gasometria arterial, não?

Eu sabia que minha o era a mais que  plausível, mas encenei uma cara de interrogação esperando pela confirmação dele.

Júlio deu outro gole na bebida, aparentemente frustrado por eu ter acertado.

— Como ainda se lembra dessas coisas se não trabalha em CTI há anos? — Disse com certa revolta.

— Epa, rapaz! Existem crianças diabéticas também, ué. Não são apenas  adultos — Retruquei.

— Tem razão. É que eu imaginei que por estar lendo esse artigo sobre bicarbonato, sua resposta seria essa... De que deveria fazer bicarbonato, o que seria um erro grosseiro para qualqueer médico.

Eu sorri com leve presunção.

— Mas achou que  na prática é o que mais fazem, não? 

— Sim, Aura. Isso mesmo! Muitos de nós fazem isso de modo equivocado... — Ao dizer isso Júlio ergueu-se e pegou sua mochila retriando um saco plastico de lá— Olha, trouxe essas amostras grátis de remédios para  pressão que me pediu. Era para Márcia, não?

— Sim, isso! Ela me peerguntou ontem. Deixe aí na mesa que amanhã eu entrego pra ela. Obrigada.

Ele apenas assentiu, esvaziou a  cerveja e foi para o quarto.

Logo que me vi sozinha, abri a página de pesquisa no Google  e procurei por algum laboratório de medicamento manipulado.

Rapidamente consegui o número.

— Olá, eu gostaria de encomendar algumas cápsulas de bicarbonato de sódio. Precisa de receita? — Esperei pela repsostas — Não precisa? Ah, que ótimo. Queria encomendar noventa cápsulas para sexta feira, então. Seria possível?

A farmácia pediu meu nome e endereço e e obviamente falei um nome fictício. Era ridículo como foi simples conseguir comprar remédio sem prescrição no Brasil.

APENAS UM TRAIDOR - ALERTA! Onde histórias criam vida. Descubra agora