AS CONSEQUÊNCIAS DE SE DESAFIAR UM HOMEM

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Havia passado uma semana desde a morte de Atos. Eu realmente esperava que as coisas fossem melhorar, mas ficou confirmado que tudo não passava de um mero otimismo barato a qual eu sempre me prendia quando não sabia lidar com determinadas situações.

Atos era de família muito rica, apesar de não ostentar nem um pouco o dinheiro que tinha. Um carro simples, roupas nada chamativas ou que denunciassem alguma marca de grife — apesar de ser notável a qualidade dos tecidos. Até mesmo o apartamento dele no Leblon não demonstrava em nada todo o seu dinheiro . Fora o que pude observar nas ocasiões em que o encontrava com Vick.

Mas era exatamente esse status que fizera o caso ganhar as mídias e os familiares dele pedirem que sua morte  merecesse  ser muito bem investigado.

— Você leu o que está escrito no jornal? — Hanna falava com certa aflição pelo outro lado da linha.

— Não costumo ler jornais! Mas tem a ver com Atos? — Pingava algumas gotas de adoçante no meu chá.

— Sim, tem! Estão dizendo que a Vick é a principal suspeita... Os primeiros relatórios toxicológicos apontam altas doses de insulina na corrente sanguínea dele.

Depositei minha xícara de chá sobre a pia e respirei fundo.

— E como isso torna Vick a principal suspeita, pelo amor de Deus? — Indaguei com preocupação.

— Aura, Vick é diabética, se esqueceu?

De longe o fato de Vick ter diabetes era um indicio concreto de que ela tivesse algo a ver com a morte de Atos. Mas era um componente ao somatório de coisas que apontavam para ela.

Depois também me lembrei dela ter me contado que prescrevia anabolizantes para Atos — sem indicação médica formal. Contudo, insulina não era uma droga comum a ser usada por pessoas que queriam acelerar o processo de hipertrofia muscular.

— Mas mesmo assim, Hanna. Não confirma nada... Que absurdo! Você já ligou pra Vick? Ela deve estar abalada!

— Não, não liguei — Hanna suspirou — Aura, escuta! Vick é médica e sabe manusear insulina. Que assassino pensaria em matar uma pessoa desse jeito se não um médico? Ou melhor dizendo: a namorada médica da vítima?

— Não vamos nos precipitar, Hanna. Senão fica parecendo que estamos culpando a Vick.

— Sim, sim. Tem razão. Apenas estou aflita com a situação.

Apesar disso, Hanna tinha razão.  Meu otimismo barato queria tomar conta de mim.

— Escuta — engolia em seco — Vou tentar ligar pra Vick e falar com ela, ver se está bem. Assim que eu terminar minha agenda da manhã no consultório vou ao apartamento dela. Queria que você fosse também. Seria importante para Vick.

As duas ainda não tinham reatado a amizade por completo e eu nem mesmo havia descoberto o real motivo para a desavença. Mas ela estava lá.

— Não prometo ir, mas vou tentar. A situação ainda continua bem estranha, você sabe!

— Claro, eu entendo. Mas tudo que gostaria seria de nós três reunidas como era antes, poxa!

Hanna ficou em silêncio por alguns minutos.

— Nada poderá ser como era antes, Aura. Eu sinto muito! Sinto de verdade. Nossa conexão era maravilho. Bem , enfim, agora preciso ir que a fila de espera da emergência está gigante. Beijos.

— Beijos e bom trabalho.

"Nada poderá ser como antes" fiquei pensando depois.

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APENAS UM TRAIDOR - ALERTA! Onde histórias criam vida. Descubra agora