BONNIE E CLYDE

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~*~

Nas minhas conversas breves com Vick no hospital, quando acabávamos nos esbarrando, ela nunca mencionava o incidente em que quase atropelei Atos. Não sabia da sutura que eu fizera no corte do tornozeo dele.

Isso queria dizer que Atos não havia contado nada a Vick. Era um belo sinal de que ele queria algo além de um simles cuidado médico comigo. E eu torcia que isso nao passasse de uma vaidade tola minha.

E não era! Pois uma semana após o ocorrido, ele me mandou mensagem pelo instagram em modo temporária — quando a tela ficava preta. Era ótimo, já que toda nossas conversas seriam apagadas em vinte quatro horas a partir do envio. Sem rastros a princípio.

Atos me abordou de maneira bem despretensiosa e eu mantinha certo distanciamento, esperando que ele desse o primeiro passo. Um típico flerte heterossexual.

Esses joguinhos bobos de "gato e rato" levaram  pouco mais de dois dias até ele finalmente dizer o que realmente queria:

"O que acha de tomar um vinho lá em casa comigo semana que vem, Aura? Preciso agradecer sua gentileza e os cuidados médicos!"

Eu tirava meu capote após realizar uma punção venosa profunda. Estava exausta. Porém ao receber a mensagem meu corpo todo se revigorou, afinal de contas, meu plano ia bem.

Satisfeita ao ler isso, eu fechei o celular e fui para o estacionamento. Sorria ao dar  partida no carro rumo a minha casa.

~*~

A babá se despediu, dizendo que havia preparado o jantar. Eu a agradeci. Minutos depois Júlio chegou com a cara fehada, com certa carranca.

— Júlio? — Tentei acenar para ele que passou por mim feito um vulto.

Ele não me respondeu. Fingiu que eu não estava ali parada na cozinha. Então o segui até o quarto após me certificar de que Sofia estava entretida com a TV na sala.

— Ei, eu! O que houve? — Por alguma razão eu ainda  me fazia de esposa cuidadosa.

— Aura, me deixa. Pelo amor de Deus!! — Bufou passando a mão pelo rosto.

Júlio estava fragilizado. Era o momento de agir.

— Fala comigo, poxa! Você não parece nada bem! Tem agido estranho desde que voltou da casa da sua mãe!

Obviamente eu não mencionara o assunto que Hilda me confidenciou alguns dias antes, sobre Júlio aparentemente cogitar querer matar Atos.

Ele estava sentado na beira da cama, reflexivo. Em seguida Júlio me fitou, com os olhos marejados, vermelhos de um choro prévio.

— Vick e eu estamos tendo um caso, está bem? Será que você nunca  percebeu, caralho? — Explodia finalmente como se colocasse para fora algo que o atormentava há muito tempo.

Ainda em silêncio , eu me sentei ao lado dele. Meu marido estava tão instável quanto uma presa prestes a ser abatida.

— Eu já sabia, querido. Está tudo bem. Não chore. — Me sentei ao lado dele na cama.

Passei meus dedos com as unhas longas pelo rosto dele.

Júlio desabava em lágrimas e soluços de desespero.

— É pior que isso, Aura. Eu amo a Vick. Estou louco por ela. Mas Vick prefere aquele almofadinha, aquele playboy filho da puta! — Seu tom de voz era cheio de um grave profundo, exprimindo raiva e rancor.

Bem, Hilda tinha mesmo razão.

— Calma, calma. Respira. Olha pra mim, Júlio!

Então ele me interrompeu se afastando.

APENAS UM TRAIDOR - ALERTA! Onde histórias criam vida. Descubra agora