APENAS UM TRAIDOR - ALERTA!

DESCOBERTAS INUTEIS, MAS NECESSÁRIAS

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Seis meses depois — Após a prisão de Júlio devido a acusação de homicídio.

Liguei para Hanna no dia seguinte. Ela me atendeu com uma empolgação reconfortante após toda a imprensa divulgar a prisão de Júlio pela morte de Atos. Sua preocupação era externalizada pela intimidade de perguntas que eu não tinha tempo para responder.

— Por favor, aceite me encontrar, Aura! Não quero que passe por isso sozinha! Por favor!

Por sugestão de Hanna, marcamos de almoçar na Urca, no Restaurante Terra Brasilis, que tinha uma vista linda para o pão de açucar.

— Ele nunca demonstrou qualquer comportamento esquisito? — Hanna e eu cruzávamos o hall de entrada do restaurante.

— Nada de muito substancial que me fizesse desconfiar dele propriamente — Mentia — Eu achava que teria a ver com o caso que Júlio mantinha com Vick. Me refiro a mudança comportamental dele.

Hanna e eu nos sentamos em uma mesa próxima a janela. A brisa vinda da enseada era maravilhosa.

— Bem, eu sempre suspeitei dele. Quem além do amante de Vick poderia matar o noivo dela? Júlio era meu principal suspeito, mas eu estava envolta em tantos problemas que decidi me manter calada.

— Eu te entendo, Hanna. Entendo sim. Mas acima de tudo, minha preocupação é com Sofia. Júlio disse que quando pegar a condicional fará de tudo para tirar Sofia de mim!

— Você foi vê-lo na cadeia?

Assenti.

— Precisei! Muitas das nossas contas eram conjuntas. O problema é que Júlio me ameaçou. Acha que eu o entreguei para a polícia.

— E fez isso? Porque eu teria o denunciado se soubesse de algo! — Hanna revirou os olhos.

— Nao denunciei, porque como disse, estive completamente alheia ao que acontecia. Mas como Júlio jura que fui eu que o delatei, ele disse que vai jogar para a imprensa meu vício em quetamina e opioides. Que vai usar isso para tomar a guarda da nossa filha!

Hanna riu com desdém.

— Ah, ele pensa o que? Que a polícia entregará a guarda da menina a um assassino em potencial? Me poupe, não é?

— Sim, claro. Mas Júlio vai querer me ferrar e eu estou com medo de ter recaída com essa merda!

— Achei que já tivesse parado com a quetamina, Aura!

— Eu não sei se vou conseguir me livrar desse vício sozinha, Hanna! — Disse exausta — E provavelmente será isso que fará Júlio tomar a guarda de Sofia. Eu não sei o que fazer!

Hanna já sabia do meu vício por alto, mas omiti dela que furtava os frascos de quetamina do hospital. Não sabia qual seria seu julgamento caso tivesse ciência e tudo que menos precisava era de um sermão naquele momento.

— Talvez a gente deva procurar um psiquiatra, Aura. Com certeza irá ajudar. Sei que somos médicas e conhecemos de patologia. Mas é sobre aquele velho lema "médicos tendem a ser os piores pacientes" e devo complementar dizendo que fica pior ainda quando tentamos tratar a nós mesmos!

Hanna tinha razão. Eu não conseguiria sozinha.

— Eu até pensei nisso mesmo. Um psiquiatra seria ótimo. Mas eu não quero que seja documentado, entende? Um psiquiatra teria que anotar todos os relatórios e prescrições. Eu preciso evitar criar provas que Júlio possa eventualmente usar contra mim. Por que é óbvio que ele irá apontar meu vício nos tribunais!