FIM OU COMEÇO ?

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~*~

Meses após a prisão de Júlio

Aonde vamos mamãe?

Eu penteava os cabelos de Sofia e os prendia em duas maria chiquinhas fofas.

Era um dia de sol lindo no Rio de Janeiro e eu me sentia plenamente feliz.

Vick ainda respondia pela acusação de cumplicidade pela morte de Atos e Júlio havia sido sentenciado.

— Vamos visitar Tia Hanna. O bebê dela nasceu — Eu respondi.

— Um bebê, mãe? — Sofia arregalou os olhos.

— Sim, um bebê. Você ja foi um bebê um dia, sabia?

Sofia sorriu.

— Eu quero ver o bebê da tia Hanna. Ele deve ser fofo!

— Ah, é sim, meu bem! — Eu agachei e fiquei com a ponta don meu nariz no nariz dela.

Sofia e eu juntas. Eu a protegeria para sempre. Protegeria de qualquer coisa. Sofia nunca iria precisar fazer o que fiz. Ela seria uma adulta saudável e autossuficiente. Faria o possível para que ela não tivesse qualquer trauma, como eu tive.

As vezes eu me pegava pensando sobre tudo o que fizer. E devo dizer que nunca me arrependi. Ainda menos ao olhar para os olhinhos pretos de Sofia e vê-la sorrindo como nunca.

— E o papai, mãe? Quando vou ver ele?

Eu ainda achava cedo para dizer que o pai dela havia sido julgado por homicídio. Preferi contar que Júlio estava em viagem. Hilda, minha sogra, concordou com a ideia.

— Espero que ele traga presentes quando voltar dessa viagem então. — Disse animada.

— Trará, meu bem. Trará. Agora vamos.

~*~

Sofia estava certa: o bebê de Hanna era uma belezinha. Bochechas gordas e dobrinhas muito fofas.

— Quantos quilos, Hanna?

— Quase três, Aura. Enorme, não é?

Eu o pegava no colo.

— Sim, amiga. Ele é um groduchinho lindo. Sabe o Apgar dele? — Eu dançava com Heitor no colo, num balanço de ida e vinda.

Ele me encarava todo curioso e eu sorria de volta.

— Acho que foi 8,9,10 nessa ordem. Correu tudo bem no pós parto, graças a Deus.

Apgar era uma espécie de escala que usam para avaliar a vitalidade do bebê no moemnto em que nasce, aos cinco e dez minutos de vida. Como se fossem notas.

— Se quiser posso ser a pediatra dele! Faria com todo o gosto.

— Seria uma maravilha, Aura. Eu acho você uma médica incrível. Inteligente, amorosoa. Vai cuidar bem do Heitor!

Eu continuava de alegria diante daquele bebê gracioso. Fazia caretas e sons para ele.

— Heitor... É um belo nome — Meu olhos estavam sobre o bebê enquanto o balançava em meu colo.

Colocamos Heitor no berço e Sofia ficou sentada no chão ao lado, observando o bebê.

— Vi essa semana o que Júlio te fez, Aura. Por que nunca contou para a gente?

Eu mantive silêncio.

— Está falando sobre ele ter me estuprado?

— Sim, Aura. Foram o quê? Três ou quatro denúncias na delegacia da mulher? E você sempre retirava a queixa, por quê?

Não era um assunto confortável.

— Por que ele é o pai da minha filha. E eu acreditava que Júlio fosse mudar. E também achava que ninguém fosse dar crédito, já que não se fala muito em estupro dentro de uma relação estável em que a princípio o sexo é consentido.

— E por que decidiu falar disso agora? — Hanna mantinha sua atenção entre mim e Heitor no berço.

— Bem, Hanna. Júlio ameaçou dizer que eu era cúmplice no assassinato do Atos.

— O quê? Como aquele cafajeste ousou pensar nisso? E que sentido isso faria para a polícia? Vick sim, para ficar com o seguro. Mas você? O que ganharia ajudando Júlio a dar cabo do marido da amante dele? Sem cabimento.

— Sim, mas eu decidi me precaver. Silvana me orientou a pegar as cópias dos boletins de ocorrência e divulgar na mídia. Ela sugeriu desferir o primeiro golpe antes que Júlio me prejuducasse. Ele deve estar com raiva de mim.

Hanna balançava a cabeça, como se não cresse no que acabava de ouvir.

— Que apodreça na cadeia. Ele e Vick.

— Por falar nela, o dinheiro do seguro ficará para o Heitor? O teste de DNA confirmou que o filho é mesmo do Atos, não?

— Ah, sim. Isso já esta encaminhado. Entrei com o pedido. Vick, apesar de ser casada com Atos, teve os direitos sobre a herança supensos enquanto o julgamento tramitar.

Não poderia ser mais que perfeito.

— Bem, agora preciso ir! Tenho algumas coisas para analisar lá do hospital! — Ia em direção a minha bolsa na mesa de centro.

— Nossa! Verdade! Você agora é a diretora! Parabéns, Aura!

— Ah, obrigada! Eu tô super feliz com o novo cargo!

— Imagino! Mas você merece! Competente como é!

Eu não apenas merecia como havia lutado com todas as forças para chegar até onde estava.

~*~

Na volta para casa, Sofia pediu para tomar água de coco.

Eu desviei a rota e fui para Ipanema ver o por do sol com ela. O crepúsculo estava lindo.

Os últimos raios de sol banhando toda a atmosfera. O morro Dois Irmãos emoldurado ao meu canto direito. Pessoas transitando pelo calçadão. E a brisa leve da maresia, tornando tudo muito perfeito. Estava feliz como não me sentia há meses!

Retriei a sandalinha de Sofia e os meus sapatos. Fomos caminhando até perto do mar, vendo as ondas se quebrarem. Ficamos as duas ali, sentadas, contemplando o por do sol e sua beleza.

Sofia estava entretida tomando sua água de coco.

— Aura?

A voz grave de um homem me fez erguer a cabeça.

Era o detetive Andrades. Ele estava descalço, com as calças dobradas acima dos tornozelos.

— Posso me sentar qui? — Ele parecia levemente suado.

Eu o olhei por alguns segundos debaixo para cima e assenti. Em seguida retornei minha atenção para a vista maravilhosa do mar de Ipanema.

— Que dia lindo, não? — disse ele olhando a mesma vista que eu.

— Sim. Maravilhosa.

Andrades inspirou o ar profundamente.

—Posso te fazer uma pergunta novamente, Aura? — Ele dirigiu o olhar para mim finalmente.

Retribui sua atenção o encarando.

— Claro que pode, oras.

Nisso eu tombei minha cabeça para trás e fiquei sentindo o vento lamber meu rosto. Mantinha meus olhos fechados.

— Você já sentiu vontade de matar alguém? — Me perguntou ele sem qaulquer cerimônia.

Eu o olhei com um sorriso sedutor e estendi minha unhas até o rosto dele, alisando sua pele áspera pela barba por fazer.

— O que você acha, Andrades?

Então o beijei sutilmente nos lábios.

FIM

APENAS UM TRAIDOR - ALERTA! Onde histórias criam vida. Descubra agora