Capítulo 2

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Adam

Vejo uma mulher caminhando até a mim e me chamando, mas não consigo ver seu rosto. Estamos em uma floresta, há neve por todo o lado. A figura angelical se aproxima mais e mais, porém ainda não consigo ver seu rosto, está embaçado. Seus cabelos são castanhos, corpo curvilíneo e de baixa estatura. Quanto mais ela se aproxima menos eu vejo seu rosto. Sua mão toca minha face e me assusto. Levanto da cama abruptamente e percebo que estou muito suado, vou para o banheiro tomar um banho e tirar todo esse suor. Como durmo sem roupa mesmo, só entro no chuveiro e ligo na água fria. Mesmo sendo inverno o ano inteiro onde moro, banho frio já se tornou rotina.

Termino de tomar banho e coloco uma toalha na cintura, fico de frente para o espelho. Vejo meu tronco todo tatuado e muitas cicatrizes presentes. Lembro exatamente como e quando ganhei elas, vou tocando lentamente sentindo o alto relevo. Tenho uma cicatriz enorme no olho também, que adquiri da mesma maneira. Não sinto mais nojo ou raiva quando olho para elas, hoje já me acostumei.

Visto uma roupa confortável, uma calça de moletom preta e uma blusa de manga comprida azul marinho. Moro em Ketchikan, uma cidadezinha de mais de oito mil habitantes e sabe o se fala de uma cidade pequena, todos sabem sobre sua vida. Decidi me mudar pra cá há cinco anos, quando tive um bloqueio criativo e precisei me isolar no meio do nada para ganhar inspiração. Não sabia que ia me tornar o assunto da cidade, a fera desconhecida.

Sou pintor desde de criança, meu pai destetava isso, achava que era coisa de mulher ou gay. Lembro-me dele rasgando todos os meus desenhos e queimando meus cadernos, me chamando de mulherzinha. Depois de tudo o que aconteceu, não me arrependo do que fiz e faria novamente.

Desço as escadas e vejo Ivanka me aguardando na porta da minha sala de pintura. Ela é minha gorvenanta desde sempre, ajudou a me criar e me salvou em muitos momentos das surras do meu pai. Ela é sensacional e sou grato a ela por tudo, é minha segunda mãe.

- O senhor vai querer tomar café no estúdio ou na sala?

- Quantas vezes já falei pra me chamar de Adam, Ivanka. Me conhece desde que eu nasci. - dou um beijo na testa dela e vejo ela sorrir. Minha governanta tem por volta dos seus cinquenta anos, é baixinha e tem cabelos pretos. Seu filho está na faculdade já e seu marido já faleceu infelizmente. - Vou tomar café no estúdio, acordei inspirado.

- Pode deixar, Adam.

Entro na minha oficina, pego meu cavalete, a tela e carvão. Começo a desenhar, faço traços, desenho o corpo, quando percebo vejo que estou desenhando uma mulher. É a mulher com quem sonhei hoje, a figura angelical e sensível que chamou meu nome e tocou no meu rosto.

- Aqui seu café. - Ivanka entra no local e deixa a bandeja na mesa ao meu lado. Tem ovos, torrada, presunto, queijo, frutas, iogurte e capuccino, pois detesto café puro. - Quem é essa?

- Não sei, apenas sonhei com ela essa noite e não consigo tirar da minha cabeça. - olho para o esboço, um corpo sem rosto. Quem será essa mulher?

- Já está a caminho? - meu agente, Felix, fala comigo pelo telefone

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- Já está a caminho? - meu agente, Felix, fala comigo pelo telefone. Acontecerá uma exposição com minhas pinturas em Los Angeles, na galeria da Ameliè Lestrade. Eu nunca vou nesses eventos, prefiro me manter longe desse pessoal, odeio gente puxa saco. Por conta disso uso um pseudônimo, Beast. Fera em inglês, é o apelido que melhor me descreve.

- Já enviei as duas que faltavam semana passada, deve estar chegando hoje mesmo.

- Tem alguma nova criação? - penso no anjo que sonhei.

- Por enquanto não. - minto.

-Quanto tiver me avise por favor, Adam. Até.

- Até mais, Felix.

Meu agente sonha que eu apareça em uma dessas exposições, mas prefiro me manter oculto. Não quero que minha vida seja vasculhada pela mídia. Mesmo com minha privacidade já sou chamado de monstro, imagina se me exponho para o mundo.

Ganho bastante dinheiro com minhas pinturas, mas a maior parte da minha renda vem da herança da minha mãe, quem vem de família rica. A do meu pai eu doei tudo, não quero nada que venha daquele desgraçado.

Sento na poltrona e continuo com minha criação. Imagino minha musa sentada, olhando para o espelho, com um vestido rosa, mas mesmo não consigo imaginar seu rosto, a cor de sua pele, de seus olhos. Quem é você, bela? Apareça para mim de novo.

Depois de horas pintando, decido sair um pouco do estúdio, faço um alongamento e passo na cozinha para pegar uma maçã

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Depois de horas pintando, decido sair um pouco do estúdio, faço um alongamento e passo na cozinha para pegar uma maçã. Vejo Ivanka fazendo o jantar.

- Vai sair hoje, Adam?

- Hoje não. Vou malhar agora, preciso desestresssar um pouco, muitas coisas na mente.

As vezes dou uma saida para cidades próximas ou para o centro de Ketchikan mesmo. Vou ao mercado, ou ao teatro ou as vezes encontro alguma mulher e faço sexo. Gosto muito de transar e sou um homem saudável de trinta e dois anos, então tenho uma libido alta. Nunca tive um relacionamento sério com ninguém, sempre fui muito sozinho. É só sexo e tchau! Não quero dar esse fardo de ficar comigo a ninguém e sei também que ninguém estaria disposta a estar comigo.

Faço minhas atividades, tomo um banho e visto um casaco de moletom preto e uma calça de moletom cinza. Prendo meus cabelos e vou para a sala de jantar.

- Tem um date hoje, Ivanka? Tá toda linda. - ela está com seus cabelos cacheados soltos, ela veste touca, luvas e um sobretudo. Nesse frio do Alasca tem que se agasalhar bem.

- Obrigada, meu filho. - ela sorri toda boba. - Tenho um encontro sim.

- Com quem?

- Com o Smith, o padeiro. - ele é um viúvo que mora aqui em Ketchikan. Um dos poucos que eu não assusto, sempre me trata bem.

- Bom encontro pra você.

- Obrigada, a janta está em cima do fogão, só se servir.

Ela se despede e novamente fico sozinho, acho que já virou costume pra mim, ficar só. Não que eu esteja reclamando, mas as vezes ter uma companhia é bom. Como meu jantar e decido ir para a oficina dar uma última olhada no meu quadro inacabado da minha bela. Recebo uma mensagem de Felix no meu celular.

A exposição foi um sucesso, amigo. Teve até uma morena gostosa que ficou doida pra saber quem era o autor das obras. Se você mostrasse seu rosto, ia chover de mulher na tua, Adam.

Não pinto para conseguir mulher, Felix, pinto porque amo. Fica com a morena pra você. Boa noite!

Desligo o celular e vou dormir pensando no meu anjo dos sonhos.

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