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CAMILA

Hoje não tinha como me arrepender. Precisei de dormir esta noite nos braços do Daniel, porque foi inevitável abrir parte do meu coração com ele. Mesmo sem lhe ter revelado aquele que é o verdadeiro trauma da minha vida, sinto que o comecei a fazer. Admitir-lhe que queria dormir com ele foi fácil, porque na verdade eu precisava disto. Porque não queria ir a correr ter com o meu irmão, quando este coração encontra respostas só por estar ao lado do Daniel.

Já tinha acordado há algum tempo, mantendo-me sentada na cama a observar o céu ficar mais claro, o mar a ganhar a sua cor azul e as pessoas a começarem o frenesim do seu dia. E é surpreendente o quão em paz me sinto. Por muito que tente esconder, eu sou uma pessoa que quer e precisa de mudar de vida. De, no auge dos meus 27 anos, aproveitar cada dia sem pensar em tudo o que me prende ao passado. Não sabia que pensava assim, até ter de mudar, novamente, de vida e ver-me nesta situação.

- Ela não fugiu pela manhã – ri-me perante a mistura da sua afirmação com o tom sonolento da sua voz.

- És tu que estás no meu quarto desta vez - surpreendeu-me a mão dele na minha barriga, puxando-me de tal forma para ele, que acabei deitada sobre o seu peito.

- Se for tudo tão descomplicado assim... - deu-me um beijo na bochecha, encostando o seu nariz ao meu pescoço logo de seguida.

- Gostava que fosse – confessei, agarrando-me à mão dele que permanecia na minha barriga – mas não é.

- Porque não queres, ou porque é mesmo complicado?

- Porque é mesmo complicado – aconcheguei-me nos braços dele – eu sou complicada.

- Eu não me importo – ao falar contra o meu pescoço, claro que me arrepiou. É quase chocante a forma como o meu corpo reage ao Daniel, como nunca reagiu com qualquer homem. Nem mesmo com o Patrick. Porque sinto que, a este ponto, o meu corpo está a dar-me a conhecer sensações novas.

Assustámo-nos com o som do meu telemóvel.

- Já são horas de acordar?

- Eu aposto que é o Lando – o Daniel soltou-me, esticando-me na direção da mesa de cabeceira onde tinha deixado o telemóvel – confirma-se – virei-me para o Daniel, fazendo-lhe sinal para que não falasse – bom dia – disse assim que atendi a chamada.

- Já estás acordada?

- Não, estou a falar contigo porque sou sonâmbula.

- Pronto, já vi que estás de mau humor pela manhã – por acaso é bem o contrário – queria saber se vinhas correr comigo.

- Eu? Correr? Caiu algum santo do altar, foi? – o Daniel ria-se e, mesmo sem emitir sons, só me contagiava a querer rir-me também – tu sabes que eu não corro...

- Podias querer fazer companhia ao teu irmão. Vens ao meu treino, pelo menos?

- Vou – olhei para as horas no ecrã do telemóvel, percebendo que ainda faltava cerca de duas horas para o mesmo começar – mas deixa-me dormir mais um bocadinho.

- Mila...

- Adeus, Lando, vou dormir – ainda o ouvi reclamar qualquer coisa, mas desliguei a chamada.

- Mila? – o Daniel virou-se para mim, passando com o seu braço por cima do meu corpo.

- Nem comentes – suspirei, encostando a minha testa com a dele – até porque tu tens de te ir embora, conhecendo aquela peste como conheço, não deve demorar a aparecer por aí.

Always, DanielOnde histórias criam vida. Descubra agora