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CAMILA

Sinto que a minha alma ainda não regressou ao meu corpo, depois de tudo aquilo que vivi nas últimas horas. Tive o privilégio de estar na fábrica todos os dias em que havia algo novo a acrescentar ao carro, vivendo com engenheiros e mecânicos o entusiasmo de trazer à vida aquele que acreditamos ser o melhor para a nossa equipa. Vi as horas de frustração quando chegavam a um beco sem saída, e a esperança com que ficavam quando encontravam a solução. Só que ninguém me preparou para o conduzir. Era algo que estava tão longe do meu imaginário, que, mesmo já se tendo passado mais de três horas, ainda não consigo acreditar que aconteceu.

Os treinos da McLaren já tinham acabado, sendo que a Mercedes está agora na pista. Só por estar a ver, ora o Lewis, ora o George, já consigo perceber que existem certas diferenças nos nossos carros, mas que nenhum se destaca, ainda. Os carros deste ano serão, todos, muito mais pesados e com especificidades novas para os conseguirem conduzir.

- Estás estranhamente sossegada – fiquei a observá-los apenas na reta, estando no lugar que o Daniel e o Lando ocuparam para ver o início das minhas voltas. Já não me mexia há algum tempo e, agora até estranho, ainda ninguém tinha vindo ter comigo.

- Acho que ainda não consegui voltar a ser eu mesma – ele riu-se e, virando-me de costas para a pista, percebi que ele se tinha sentado num dos bancos da pit wall – eu sinto que fui deixada algures no espaço e, agora, ando a flutuar – abriu os braços, fazendo-me sinal com as mãos para que fosse ter com ele. Assim que o fiz, rodeou o meu corpo com os seus braços, aproximando-me ainda mais dele.

- Não me digas que estás a ponderar uma carreira na W Series? - acabei por me rir, passando com os meus braços por cima dos ombros dele.

- Nem pensar..., prezo bastante as horas que passo no sofá ou na cama e não as tenciono trocar pelo ginásio - ele riu-se e eu, percebendo que o carro do Lewis iria passar a qualquer momento, acabei por direcionar o meu olhar para a pista. O som de qualquer carro de Fórmula 1 já me é bastante familiar, mas agora parece que se tornou parte de mim – mas fiquei com uma sensação tão estranha – voltei a olhar para o Daniel – enfim.

- Gostaste mais do que pensavas, não foi? - apenas lhe assenti que sim com a cabeça - dentro daquele carro há sempre magia a acontecer. Ao dia de hoje, eu ainda sinto coisas diferentes de cada vez que o faço. E, agora, a próxima vez que o fizer, vou com aquela sensação de que a última pessoa a foste tu – pressionou as mãos dele no fundo das minhas costas, juntando os seus lábios com os meus.

Decidir continuar na equipa foi por causa dele. Por saber que serei eu a única pessoa na equipa a compreendê-lo com um olhar, por ter a certeza de que, se alguma vez as coisas não correrem bem, estarei logo por perto e, acima de tudo, porque terei a capacidade de gerir melhor a minha agenda com a dele. Estar na equipa do Daniel implica estar em todas as corridas, enquanto que sendo a engenheira do simulador só venho porque quero. E a equipa pode levar isso a mal.

- Mas não largas a nova condutora da McLaren? - acabei por me rir, separando os nossos lábios ao ouvir o George.

- Russell George – o Daniel e a sua peculiaridade de ter uma forma diferente de chamar os pilotos - vê lá se ela não te tira o lugar na Mercedes – virei-me de costas para o Daniel, mantendo-me entre as suas pernas.

- Já ouvi dizer é que ela pode estar de saída da tua equipa – o George sentou-se no chão à nossa frente, surpreendendo-me por eu ser motivo de conversa no paddock - não queres vir trabalhar comigo, Camila?

- Lamento, mas já informei a direção que vou continuar.

- Pode ser que até ao final do ano ainda mudes de ideias.

Always, DanielOnde histórias criam vida. Descubra agora