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DANIEL

Estar a quatro corridas do fim do campeonato, faz-me ir para dentro do carro com outra disposição. Desde a vitória em Monza, fizemos quatro corridas e os resultados não foram nada consistentes e nas últimas duas corridas não consegui qualquer ponto para a equipa. E há uma certa frustração a crescer em mim de cada vez que entro no carro, que faz com que só queira que a temporada acabe o mais depressa possível.

- Que se passa? - já tinha ouvido a voz dela a cumprimentar algumas pessoas, mas só agora é que os meus olhos a viam.

- Nada... - arqueou a sobrancelha esquerda, dando a volta à mesa.

- Tu não me vais conseguir enganar - passou os seus braços por cima dos meus ombros, juntando os seus lábios à minha bochecha – nunca me vais conseguir mentir com esses olhos – rodei ligeiramente o pescoço, cruzando os meus olhos com os dela. Não sei quando é que se deu esta mudança na nossa relação, mas a Camila começou a compreender-me, apenas, pelo olhar. E eu a ela, porque se algo se passar com esta mulher, é nos olhos dela que eu o percebo.

- Tu és demasiado atenta – afastei-me da mesa, fazendo-lhe sinal que se sentasse na minha perna. Ela assim o fez, mantendo os seus braços por cima dos meus ombros – e isso pode ser um problema, se eu algum dia quiser fazer-te uma surpresa.

- Para isso eu sou um bocado lerda – confessou a rir-se – acho, sempre, que nunca me vai acontecer nada a mim. Olha, por exemplo, a revelação do sexo do bebé da Bea e o pedido de casamento? – levou a mão ao peito, fazendo o mais desajeitado beicinho – eu iria ficar tão à toa, se fosse comigo.

- Deixa lá que ela também não ficou melhor – ela colocou uma das suas mãos no meu rosto, passando com o seu polegar na minha bochecha.

- O que é que se passa? – voltou a questionar, não se esquecendo do que inicialmente queria falar comigo.

- Honestamente? – respirei fundo, sentindo um enorme peso a sair-me do peito – só quero que acabem as corridas – ela aproximou-se ainda mais de mim, percebendo que o assunto seria este – eu já não sei o que mais fazer para que o carro responda ao que faço – tenho falado sobre tudo o que me incomoda com o Michael, tentando sempre evitar fazê-lo com a Camila porque, ao estar com ela, não quero pensar nisto. Mas começa a ser impossível não o fazer – eu na Renault já tinha feito outros resultados – ela respirou fundo, assentindo que sim. Numa clara manifestação de que, também ela, sabe que isto é a realidade – eu sei que o carro é diferente, mas...

- Faz-te duvidar daquilo que fazes dentro do carro – retirou-me as palavras da boca, surpreendendo-me pela forma como me conhece – e com razão – olhou à sua volta, percebendo que estávamos quase sozinhos – eu acho que devia haver alterações ao teu carro. Aliás, já devia ter acontecido, que em vez de saíres das corridas sem pontos podias fazer pódios – bufou – eles não querem fazer nada e, de certa forma, é frustrante.

- Só faltam quatro corridas – agarrei as mãos dela, sorrindo-lhe – o carro do próximo ano é diferente e eu só espero que seja incrível de conduzir.

- Espera tu e eu! Porque a julgar pelos dados que eu tenho para elaborar o simulador... - revirou os olhos, rindo-se logo de seguida – sinto que vou passar janeiro enfiada na fábrica.

- Por falar nisso – mantinha as mãos dela encostadas a mim, ficando, de certa forma, nervoso – eu sei que ainda falta algum tempo, mas dada a situação, tem de se começar a pensar com antecedência - pela expressão no seu rosto, tenho quase a certeza de que ela está a perceber onde é que eu quero chegar – eu quero muito ir passar o natal e o fim de ano à Austrália e gostava de saber se tu ponderarias ir comigo – ela olhava-me com a maior tranquilidade no rosto, o que me dá mesmo a certeza de que não a estou a apanhar de surpresa, nem a pressionar nada – tenho quase a certeza de que o teu Natal é sempre com a tua família...

Always, DanielOnde histórias criam vida. Descubra agora