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DANIEL

Não é fácil aceitar que aquilo pelo qual eu mais lutei, poderá desaparecer em breve. E nos termos em que tudo está a acontecer, só me deixa mais chateado comigo mesmo. Ter de desabafar com alguém passou a ser algo recorrente no meu dia-a-dia, seja com a Camila, com o Michael ou o meu psicólogo. Porque há mudanças para as quais eu tenho de me preparar e frustrações com as quais não sei lidar. Mesmo que não o queira admitir às pessoas que melhor me conhecem.

- Estás bem? – tinha acabado de treinar com o Michael e já há algum tempo que estou, apenas, a olhar para o campo verde à minha frente. Tínhamos treinado em casa – em Ascott -, no pequeno ginásio que já consegui compor num dos quartos que estavam vazios.

- Sim – respondi-lhe, bebendo um pouco do meu batido pós-treino – sinto-me cada vez melhor aqui – o Michael sentou-se ao meu lado, ficando a olhar pela janela – é diferente da Austrália, mas é tão parecido ao mesmo tempo.

- E ela está aqui – apontou pela janela, vendo a Camila a percorrer o jardim em direção do pequeno e em progresso anexo que, em breve, se transformará num estábulo.

- Ela também está no Mónaco..., mas é diferente, sim.

- Ela já anda melhor? – claro que as mudanças de humor e os enjoos cada vez mais intensos da Camila se tornaram demasiado evidentes. Não contámos a ninguém o que se passa, já que só depois de amanhã vamos ter a consulta com o médico e garantir que está tudo bem com o bebé.

- Sim, ainda tem os seus dias, mas já está quase boa – tivemos de começar a dizer que ela estava constipada, ou que tinha uma gastroenterite só para que não se preocupassem ainda mais com ela. Se bem que eu me preocupo imenso de cada vez que a vejo a lutar com aquele mau estar – o que é que ela vai fazer?! – e tenho de a lembrar, imensas vezes, que subir em cima de um escadote como está a fazer agora, não é algo que possa fazer.

Saí do quarto, correndo escadas abaixo e de forma a ir o mais rápido que consegui para o anexo. Claro que está a tentar colocar pregos na tábua de madeira que está quase a cair..., tínhamos combinado que só faríamos isso no fim de semana e que, obviamente, seria eu a fazê-lo.

- Eu só espero que essa criança não venha com a tua teimosia – coloquei as minhas mãos nas suas pernas, fazendo com que todo o seu corpo estremecesse.

- Estava um bocado farta de não fazer nada e isto está prestes a cair! – olhou-me, sorrindo.

- Mas tu não podes fazer isso sozinha... - e claro que arqueou a sobrancelha – não tentes esse jogo comigo. Tens de te proteger a ti e a esse bebé, tenho de te relembrar?

- Não... - saiu pelo seu próprio pé do escadote, deixando cair no chão o martelo que tinha na mão – eu só queria fazer alguma coisa. Estar ali sentada no sofá estava a dar comigo em doida.

- Faz qualquer outra coisa – voltou a olhar-me – trata das plantas, compra as cabras anãs..., mas, por favor, não te ponhas em cima do escadote.

- Tudo bem... - aproximou-se de mim e, em bicos de pés, passou com os seus braços por cima dos meus ombros – o Michael ainda fica por aí muito tempo?

- Porquê? – rodeei a cintura dela, puxando-a mais para mim.

- Nada do que estejas para aí a pensar – disse-o, juntando os seus lábios aos meus – só queria perceber se ele almoça connosco e se me tenho de preocupar em ter um enjoo a qualquer momento – rimo-nos os dois.

- Se ele almoçar por aqui, eu trato do almoço – voltei a juntar os meus lábios aos dela por breves segundos – agora vou ter de subir ao escadote ou posso deixar isto para outro dia? – começou a acenar negativamente com a cabeça – pronto, eu trato disto hoje.

Always, DanielOnde histórias criam vida. Descubra agora