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DANIEL

- Mãe? – a única forma de falar com ela seria em videochamada, mas se há coisa que a minha mãe não consegue fazer é manter-se sossegada.

- Estava a parar, não comeces a reclamar – ela riu-se, percebendo que realmente se tinha ido sentar no alpendre da parte de trás da nossa casa. O sol tinha acabado de nascer em Perth, enquanto eu já só via estrelas no céu – onde é que vais? – já estava no avião, pronto a ir para o Mónaco.

- Vou para casa..., estive a fazer umas sessões no simulador estes dias.

- E com a Camila?

- Também – já tinha falado com a minha mãe sobre a Camila. Porque os sentimentos cresceram de um dia para o outro e não existe melhor pessoa no mundo para lidar com eles, do que a minha mãe.

- Que cara é essa? – era impossível não respirar fundo, ao perceber que realmente algo se passa – o que é que aconteceu?

- Ela abriu o jogo comigo – confessei – contou-me o que realmente aconteceu na vida dela e só te posso dizer que, se por um lado me fez apaixonar ainda mais por ela, também passei a saber que as coisas podem não ser tão fáceis e tranquilas quanto podia pensar.

- Por causa desse passado?

- Sim – olhava para a minha mãe que, em silêncio se questionava – a Camila é viúva há dois anos – a minha mãe recostou-se na cadeira, levando a mãe ao peito – ela não chegou a casar, mas estava noiva há dois meses quando tudo aconteceu.

- Minha rica menina...

- Mãe – acabei por sorrir ao ouvi-la.

- Só não sei o que é que estás a fazer a caminho de casa..., devias ficar com ela.

- Mas...

- O quê? Tens alguém à tua espera no Mónaco? Só se for uma das plantas e são artificiais de certeza! – também não sei o que é que aqui estou a fazer, honestamente. Porque, neste momento, eu não tenho nada no Mónaco que me faça querer ficar lá – escusas de estar aí a pensar. Se é por causa dos treinos, consegues fazê-los em qualquer lado, Daniel. Depois de te ter contado tudo isso..., tu não podes deixar a Camila sozinha. Tens noção de como ela se pode sentir desamparada?

- E se ela quiser estar sozinha?

- Vais garantir que ela sabe que, se precisar de companhia, estás por perto.

Por isso é que a minha mãe é a minha melhor amiga. Porque podemos não falar todos os dias, estar a quilómetros de distância e ela não saber tudo sobre a minha vida, mas sabe sempre quais são as palavras certas para cada momento.

- Ok – levantei-me e agarrei na mochila que tinha trazido – eu depois volto a ligar-te – ela riu-se – obrigado mãe – despediu-se de mim e, depois de desligar a chamada, olhei para o Michael – eu vou voltar para Sheerwater – o Michael entrava agora no avião particular, sendo que não lhe contei nada por não querer que comece a mudar as suas opiniões, só por causa do passado da Camila – encontramo-nos, depois, no Mónaco.

- Quando?

- Não sei... - sorri-lhe – eu quero ficar mais uns dias com a Camila – ele riu-se, colocando a sua mochila na cadeira.

- Vai dizendo qualquer coisa e treinando, também.

- Fica descansado – apertei-lhe o ombro, começando a sair do avião.

- Não é só cardio, ouviste!?

- A minha vida está a mudar, Michael – acho que é das frases que mais disse para mim mesmo. Por sentir que, pela primeira vez na vida, há uma mulher para a qual o meu coração quer voltar – há treinos que podem ficar para depois.

Always, DanielOnde histórias criam vida. Descubra agora