Lieblingsmensch | (Jotakak)

🍒 18. CEREJINHA 🍒

Rolei novamente pela minha cama, deve ser a trigésima vez e ainda sinto a maldita sensação de algo inquietante correndo por meu corpo. Eu não aguento mais olhar pra esse teto, nem pra parede ao meu lado, ou qualquer coisa ao meu redor. Simplesmente o meu cérebro ainda está em estado de choque tentando processar o que diabos fora esse final de semana. O que diabos deu no Jotaro?

Sinto meus dedos levemente gelados, mesmo coberto até o pescoço com meu mais grosso edredom. Talvez eu esteja nervoso, ou não sei, eu realmente não sei.

— Merda, eu só quero dormir. — murmurei baixinho enquanto agarro com raiva meu travesseiro.

Apesar de eu ter noção do quão pesado é o sono do Golfinho, eu ainda tento me mexer fazendo o mínimo de barulho possível. Realmente nunca se sabe!

Rolei de novo na cama. Não consigo relaxar, meu corpo está pinicando cada vez mais e eu estou a um passo de levantar da cama para tomar mais um banho. Preciso urgentemente desligar o meu corpo dessa insônia maldita ou eu estaria ferrado amanhã na aula.

O fato de Jotaro ainda bombardear os meus pensamentos, mesmo que horas depois de decidirmos dormir, ainda latejava na minha cabeça. Se fosse possível poder ver bem dentro de meu cérebro, não deve estar muito diferente de uma grande tela azul e inúmeras janelas com avisos de erro no sistema.

Viro meu rosto e encontro o corpo adormecido dele do outro lado do quarto, em uma cama também encostada na parede, próximo das minhas estantes de mangás e da janela. Meus pais adoram o Golfinho e quando pequeno ele adorava vir em casa porque eu sempre o ensinava a jogar todos os meus videogames. Então, um dia, meus pais resolveram comprar uma segunda cama — mais larga que a minha — para meu quarto, vendo como ele ia crescendo com o passar do tempo. Mamãe sempre achou que ele iria entrar para o basquete pela altura que consideravelmente ganhava, mas o amor de Jotaro pelo futebol contrariou isso.

Desistindo de apenas rolar no colchão sem sucesso, eu me sento para poder observar melhor o sono profundo do Golfinho. Ele está dormindo tão sereno e despreocupado das coisas ao seu redor que é até mesmo uma profanação apenas em lembrar que eu terei de o acordar pela manhã, para mais uma árdua segunda.

Eu continuo olhando Jotaro ressonando baixinho. Ele realmente dormiu com seu boné na cabeça, que agora está um pouco torto por causa de uma ou outra movimentação que faz, e a enorme pelúcia de golfinho que lhe dei. Meu peito se enche ainda mais de alegria e carinho por ele apenas por imaginar o quão apegado já deve estar com seus objetos.

Até mesmo os pequenos alfinetes dourados, que comprei para que ele pudesse usar como acessório em alguma coisa, como roupa, ele os colocou no boné. Fofo demais!

Eu levantei a cabeça e suspirei devagar. Por ele ser muito calorento, Jotaro acaba sempre dormindo sem camisa, ficando apenas de bermuda quando deita. Apesar de estarmos acostumados a dormir juntos nos nossos finais de semana, desde a infância, eu não posso deixar de olhar para ele, de uma forma que realmente eu não gostaria de ter que pensar, afinal Jotaro é o meu melhor amigo.

Ele sempre esteve comigo, desde os meus piores momentos aos melhores. Sempre tentando me confortar da melhor forma possível e me defendendo sem sequer me julgar, principalmente durante o momento em que eu mais sofri: quando descobri que sou gay.

Meus pais sempre foram pessoas, e ainda são, muito presentes na minha vida em todos os outros momentos, em todas as circunstâncias possíveis, por isso eu passei por essa questão da minha própria descoberta sem sofrer um impacto ou negação por parte da minha própria família. Porque eles sempre buscaram conversar comigo sobre esses assuntos, tirando todas as minhas dúvidas, tanto sobre as minhas próprias perguntas quanto sobre as questões da sociedade. Foi através deles que eu consegui me preparar bastante para o que viria a enfrentar na escola, na rua, mas mesmo assim, doeu sofrer todos aqueles ataques.